O Rashomon

Rashomon, um drama japonês do século XI escrito e dirigido por Akira Kurosawa, é sem dúvida um marco na história do cinema, uma experiência cinematográfica extraordinária e de uma originalidade e genialidade única.

Entre os vários temas e assuntos que podemos destacar na sua narrativa revolucionária e criativa, aquele que se mais destacou a meu ponto de vista foi a subjetividade preceptiva da verdade e a falsa memoria.

Este fenómeno de subjetividade e perceção individual, ou seja, o facto de que várias pessoas cujo vivenciaram o mesmo acontecimento e que o tentam descrever a partir daquilo que foi vivido individualmente, pode ser caraterizado de “Efeito Rashomon”. No entanto, não deixa de ser algo que ocorre no nosso quotidiano, o próprio ato de pensar e de relembrar para depois verbalizá-lo, pode alterar certos detalhes.

Este efeito, emprestado não só á psicologia como também ao vocabulário jurídico, é ainda bastante recorrente e comum nos dias de hoje, muitas séries, filmes e livros tentam incorporar este mesmo estilo nas suas obras, é o exemplo da série “How i met your mother” (2005-2014) ou “Fight Club” (1999).

Fatores como o preconceito, crenças, limitação de informações, influência de outras pessoas, convicções, vivências ou mesmo mentir por proveito próprio são aspetos que influenciaram o formar dos seus testemunhos, no entanto este efeito também retrata com precisão as interpretações da pessoa com aquilo que lhe é conveniente, ou seja, olha-se com objetivo de ver o que se quer ver, o que faz com que o procedimento penalista seja extremamente frágil, manipulável e pouco confiável.