Platão mito da caverna
Por: Gustavo Mosso • 27/3/2017 • Pesquisas Acadêmicas • 1.857 Palavras (8 Páginas) • 408 Visualizações
Platão (428 a.C. // 348 a.C.)
Preliminares para esta aula: A sabedoria não pode ser procurada desinteressadamente, de forma neutra e desprovida de emoções. A palavra Filosofia é amor ao conhecimento. Logo, é preciso amor da parte do filósofo. A episteme jamais será alcançada sem uma ascese erótica (de Eros, o deus do amor), uma combinação de emoção e razão, um querer conhecer.
MITO DA CAVERNA:
3 partes:
- Descrição da cena inicial. Caverna, realidade sensível; mundo dos mortos (o Hades) era caracterizado como uma morada subterrânea, nas “entranhas da terra”. Prisioneiros somos nós, homens comuns, hábitos, costumes desde pequeno, são “correntes” ou condicionamentos que nos fazem ver as coisas de uma determinada maneira, parcial, limitada, incompleta, distorcida, como “sombras”. Ilusão. Com relação à fogueira, os homens carregando objetos, são os sofistas e políticos atenienses que manipulam opiniões dos homens comuns e são os produtores de ilusão, tal como Platão os caracteriza no diálogo O Sofista.
- Exame do processo de libertação. O que faria libertar-se? No diálogo Fedro, onde encontramos a teoria Platônica da alma, poderíamos entender esta libertação da seguinte forma: - o prisioneiro não é de fato libertado por nenhuma força externa, mas por um conflito interno entre suas forças que se encontram em sua alma, a força do hábito ou da acomodação e a força do eros, do impulso, da curiosidade, que o estimula para fora, para buscar algo além de si mesmo. A força do eros faz com que o prisioneiro se sinta insatisfeito, frustrado, infeliz e que sai para buscar uma situação nova. Este conflito é o motor da dialética, ou seja, do processo de mudança e de transformação. E quando ele se liberta, Platão diz: “é preciso que ele se habitue para poder ver as coisas do alto”. Aqui é importante notar a capacidade de adaptação, questão tão importante como a do eros. Vem o sol, o grau máximo de realidade, o ser em sua plenitude, a própria ideia do Bem (República, VI), através da metáfora da luz como o que ilumina, torna visível e se opõe à escuridão e às trevas. Agora, o ex-prisioneiro possui o saber, pois tem a visão do todo (contemplativa), superando a visão parcial das etapas anteriores (caverna, saída da caverna, ver do alto, adaptação, luz).
- Dialética descendente. Ele volta à caverna. Por quê? Missão política-pedagógica do filósofo. Ele sabe, mas sabe que tem mostrar aos antigos companheiros da caverna, seu saber. Compartilhar. Motivá-los a percorrer a mesma trajetória para se chegar à luz. Mesmo que corra o risco de ser incompreendido e até assassinado, uma óbvia alusão ao julgamento e morte de Sócrates. Há que se adaptar, novamente, a sua vista, para voltar às sombras, à escuridão. Então o filosofia não é só contemplação, pois há a visão política, de ação.
Doutrina da reminiscência ou anamnese. Mundo das ideias.
O processo de conhecimento se dá como? Platão aplica a ideia da reminiscência. É uma hipótese inatista, ou seja, há um conhecimento inato, e é este conhecimento inato que serve de ponto de partida para todo o processo de conhecimento.
Platão justifica o inatismo formulando inicialmente uma questão conhecida como paradoxo do Ménon. Diz Ménon a Sócrates: “como procurar por algo, Sócrates, quando não se sabe pelo que se procura? Como propor investigações acerca de coisas as quais nem mesmo conhecemos ? Ora, mesmo que viéssemos a deparar-nos com elas, como saberíamos que são o que não conhecíamos?”
Platão faz supor então que temos um conhecimento prévio que a alma traz consigo desde o seu nascimento e que resulta da contemplação das formas, às quais contemplou antes de encarnar no corpo material e mortal. Ao encarnar no corpo, entretanto, a alma tem a visão das formas obscurecida. O papel do filósofo, através da maiêutica socrática, é despertar esse conhecimento esquecido, fazendo assim com que o processo tenha início e o indivíduo possa aprender por si mesmo.
Sócrates responde a Ménon, com um experimento, usando um de seu escravo. Diz que este saberia encontrar o teorema de Pitágoras, mesmo sem jamais ter aprendido geometria.
Platão chega à conclusão então de que todo conhecimento verdadeiro é unicamente reminiscência – anamnesis –, ou seja, o conhecimento baseia-se em uma simples tomada de consciência de algo de que já se tinha certeza inconsciente. Percebe-se aqui que já estamos tratando da teoria do inatismo, que vai persistir até os dias de hoje.
Ora, se até o escravo sabe o teorema, sem nunca ter estudado, o que se quer apresentar então é que as virtudes morais e os valores jurídicos fazem parte do ser humano, independentemente de sua vontade ou de sua consciência cognitiva. Mas, lembrem: cabe ao filósofo despertar em quem está dentro da caverna, este saber.
A virtude, os hoje chamados valores, são inatos. Logo, o direito, o conhecimento do Estado se dá na contemplação da ideia absoluta e suprema de justiça, contemplação puramente intelectual, apartada da experiência. Leva a entender que todos nós trazemos parâmetros éticos desde o nascimento. Portanto, os sofistas estariam errados em afirmar que o direito, as regras, são relativos, que o conhecimento é relativo e haveria de se negar o absoluto.
Alexy aborda que na filosofia do Direito, portanto, a dicotomia platônica liga-se à questão da legalidade (real) e da legitimidade (ideal). (in Recht, Vernunft, Diskurs. Studien zur Rechtsphilosophie. Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 1995, p 165).
A concepção Platônica sobre JUSTIÇA
A exposição de Platão sobre justiça começa no Livro I da República, discutindo ao modo do Sócrates platônico, algumas opiniões sobre o justo. Polemarco, personagem da obra, sintetiza o que seria o justo utilizando-se da definição, já tradicional na época, dado pelo poeta Simônides: “É justo restituir a cada um o que se lhe deve”. Polemarco interpreta essa sentença do seguinte modo: dar a cada um o que é seu consiste em fazer bem aos amigos e mal aos inimigos, pois deve se restituir o bem àqueles que nos fazem o bem e o mal àqueles que nos fazem o mal.
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