Resenha do Filme O processo
Por: Ariely Janiny • 10/6/2015 • Resenha • 2.578 Palavras (11 Páginas) • 635 Visualizações
RESENHA DO FILME: O PROCESSO RESENHA DO FILME O PROCESSO ,
Referência: O Processo. Orson Welles. 1962. Preto e Branco. Duração 1h58min ,
Temores, angustia, controvérsias, loucura, o inimaginável, a razão distorcida, o medo, o ódio, a insanidade, a realidade e a fantasia incoerente onde tudo é surpreendente, em O Processo, filme baseado na obra de Franz Kafka todas as emoções e sentimentos vividos por Josef K são passadas a seus expectadores. A primeira impressão ao se ver o filme, é que o filme não deveria se chamar o processo, mas sim a grande injustiça, ou a grande insanidade, entretanto não se trata de um filme que teve seu roteiro mal adaptado, mas na realidade se trata de uma fidelização a obra de Kafka, que passa esse sentimento, essa quebra de paradigmas essa sensação de injustiça que envolve o filme é o principal charme do filme e da obra literária. Cabe ainda uma pequena ressalva, sobre a conduta de todas as mulheres no filme ou na obra literária, ninguém deve se espantar pois com toda a verdade falta um senso de pudor em cada personagem feminino, pois sem o menor escrúpulo todas as mulheres se atiram sobre Josef K. Talvez a figura feminina seja uma idealização da justiça, já que esta é comumente representada por uma mulher vendada, que segura a espada em uma mão e a balança na outra, assim todas as mulheres em essências são parte da justiça e na realidade o são, pois quase todas trabalham para o tribunal, dessa maneira a justiça por mais que UNASP-EC CURSO DE DIREITO ENGENHEIRO COELHO – SP 2015 Alunos: Ariely Janiny Ferreira da Silva; Argeu Lopes; Ana Paula Ramos; Ana Paula Kaffler, Ana da Silva Bezerra, Benedito Pires Gonçalves; Emanuela Felício. 2 tente, não consegue se furtar das injustiças e dos acusados e culpados bem como as mulheres não resistem a K. O filme narra a história de Joseph K, um jovem procurador de um proeminente banco que na manhã do seu aniversário de 30 anos é acusado de um crime ou nas palavras do próprio autor em sua obra escrita “Alguém devia ter caluniado a Josef K, pois sem que ele tivesse feito qualquer mal foi detido certa manhã”. Durante o filme, o bancário, de forma insistente, tenta descobrir do que é acusado, qual a base legal utilizada pela “justiça” para o intimarem, processarem e escusa-lo de direitos fundamentais em seu processo. A obra pode até ser interpretada como uma crítica severa ao poder judiciário, um contraponto as bases legais do processo democrático atual. Não dando ao acusado direitos e garantias humanas fundamentais. Josef K não sabe como defender-se, já que não sabe o delito que cometeu, talvez esse pequeno detalhe mostre que O Processo além de ser apenas um procedimento jurídico também seja um processo no interior da mente de Josef K, um tormento que ao longo da obra, vai levando a sua sanidade e razão. K mesmo dispondo de um advogado, amigo do seu tio, vê seu processo continuar estabilizado, motivo pelo qual, resolve dispensar o tal advogado. Neste contexto os advogados parecem ser inúteis, incapazes de infligir continuidade ao processo, são bajuladores dos juízes e maltratam seus clientes, que por sua vez, imploram por justiça. Os juízes não possuem nenhum escrúpulo moral, abusam do poder que lhes é conferido, permitem desordem e imoralidades sexuais em suas audiências, se colocam a acima da lei e do próprio povo. Não levam a sério o processo, não parecem sequer conhecer o processo, os livros judiciais, se é que assim podem ser chamados, apresentam conteúdo contrário a moralidade e aos bons costumes. 3 Apesar de todas as primeiras críticas o filme começa de uma maneira excêntrica, com uma cena um tanto simbólica, para não dizer ilustrativa, uma narrativa em que uma pequena história é lançada como uma pequena introdução, o narrador começa a falar com uma voz grave, quase solene, ao fundo uma música em tom fúnebre, e de repente começa o discurso, o qual é ilustrado por desenhos sombrios. Diante da lei está postado um guarda, existe uma porta e um homem que veio do interior chega perto do guarda e pede que o deixe entrar na lei. Entretanto o guarda não pode deixa-lo entrar. O homem reflete um pouco, e pergunta novamente ao guarda se mais tarde lhe será permitido entrar. “É possível” responde o guarda, “mas agora não”. Assim o homem tenta olhar pois aprendeu que a lei foi feita para todos, entretanto o guarda o adverte “não tente entrar sem minha permissão”. O pobre homem olha o guarda que em seguida lhe dirige a palavra: “Sou poderoso, apesar de ser o menor dos guardas”. “Ademais em cada porta, em cada uma das demais salas existem outras sentinelas, cada uma mais poderosa que a outra”. Dito isso o homem senta-se perante a porta e espera, espera, espera durante muitos anos, e ficando velho e quase louco, pede até mesmo que as pulgas convençam o guarda a deixá-lo entrar. Então o homem quase morrendo entende que sua visão é curta, mas logo percebe na escuridão o brilho imortal na porta da lei. Assim agora antes de morrer toda sua experiência e existência se concentram em uma única pergunta, dessa maneira chama o guarda e pergunta afirmando que todos lutam para ter a lei, então porque em todos esses anos ninguém pediu para entrar? O guarda então responde: “Só você poderia entrar. Ninguém passaria por esta porta. Esta porta foi feita somente para você”, e agora eu a fecharei afirma o guarda”. E assim segue uma cena em que uma porta se fecha e tudo escurece, e o narrador diz ao final “essa é uma passagem do romance O Processo, e que a lógica dessa história é a lógica de um sonho ou mesmo a lógica de um pesadelo. 4 Cabe informar a título de curiosidade que esta pequena passagem está inserida no capitulo intitulado “Na Catedral”, onde o religioso conta essa pequena narrativa a Josef K e ambos começam a discutir, defendendo seus pontos de vista, entretanto não conseguem chegar a um acordo. Dessa maneira se inicia o filme, a primeira cena nos remete a Josef K dormindo despreocupadamente em sua cama, quando ouve um barulho inquietante, desperta mas permanece deitado, logo alguém vestido de preto adentra ao quarto e logo Josef K se levanta e pergunta de maneira indireta “Sra. Burstener?”. O homem de preto sem se identificar pergunta a Josef K; “esperava a Sra. Burstner? ”. E Josef K responde quase que constrangido; “não”; “claro que não” como se tivesse que dar satisfações ao estranho. Este sem a menor cerimônia abre as cortinas do quarto e começar a interrogar Josef K, e este assustado começa a questionar o homem de preto: “Quem é você? “O que faz aqui? ”, mas no meio das perguntas K começa a se explicar ao mesmo tempo que começa a chamar pela senhora Grubach, o homem de preto apenas cada vez vai chegando mais perto de K, e este nervoso começa a trocar de roupa e questiona o homem “Você é da polícia?”, e o homem de preto imediatamente responde “Não tire conclusões” e logo entram em um diálogo estranho, e K de maneira quase autoritária questiona ao estranho homem de preto se este não deveria mostrar seus documentos, entretanto o homem de preto apenas responde de maneira automática sem demonstrar qualquer emoção e surpresa afirmando que é K quem deveria mostrar seus documentos. Josef K de maneira também automática apenas retira de uma gaveta seus documentos e entrega ao estranho homem de preto. Que começa a questionar K novamente e de maneira quase inexplicável outro homem vestido de preto, estranhamente gordo entra no quarto, enquanto o primeiro homem sai. A cena é simplesmente desprovida de lógica, e demonstra a maneira arbitraria em que os investigadores entram no quarto de Josef K, não existe razão nem coerência na cena, demonstra uma justiça fria automática, uma cena mecânica em que as partes inclusive Josef K não sabem o que fazem, os guarda apenas aparentam saber seus passos 5 apenas isso e nada mais, a primeira impressão e que tudo não passa de uma grande arbitrariedade, uma loucura. Não existe uma ordem, um fundamento, uma etiqueta ou uma solenidade legal, a cena funciona com uma fluidez assustadora, e no fim desse dialogo insano, o homem de preto gordo afirma a Josef K que está preso, e este apenas retruca “ Está é uma acusação formal? “. Nesse momento o homem de preto responde “Eu não poderia fazer isso”. A cena continua e outro homem também vestido de preto, mas diferente do primeiro entra no quarto, assim os dois homens de preto que na realidade são guardas começam a falar que ”o processo começou e que até depor, Josef K deverá ficar em seu quarto”. K apenas se limita a dizer, que já está em seu quarto, e em seguida quase que com a mesma solenidade os dois guardas vestidos de preto começam a mexer nas roupas de K, e com a maior indecência insistem que K deve entrega suas camisas pois é uma tradição, e como se necessitassem de uma razão apenas afirmam que existe muita corrupção no serviço público, uma maneira um pouco insensata para justificar uma atitude um quanto tanto absurda. A polícia judiciária, a qual é representada pelos guardas e o inspetor apenas maltratam K, fingem saber do que se trata, mas na realidade não sabem de nada. E se orgulham de dizer que são apenas baixos funcionários que não podem influir em nada. K nesse momento parecer não acreditar em nada do que acontece a sua volta, em seguida abre a porta do quarto entra em outra sala e se depara com três de seus subordinados do banco em que trabalha, olhando as fotos do quarto da senhora Burstner e se pergunta quem teria os trazido? Diante desse questionamento com um gesto os três homens vestidos de ternos pretos apontam para os guardas atrás de K, e este percebe que tudo é obra da polícia, e assim K percebe que há algo errado. Pouco depois K se dirige a cozinha onde encontra a Sra. Grubach e está apenas se limita a dizer bom dia e a informar que o café está pronto. 6 Josef K constrangido tenta se explicar, mas a senhora Grubach apenas afirma que K deve entender que está preso, K apenas concorda, e a senhora Grubach afirma que entende que a prisão de K se trata de algo mais abstrato, e K afirma categoricamente que é algo tão abstrato que não se aplica a ele. Após muita perda de tempo e de discursos inúteis Josef K se dirige ao banco pois apesar de estar detido, essa detenção não é uma detenção comum, se trata de algo diferente especial, assim K vai ao trabalho normalmente onde termina o seu dia. Ao anoitecer Josef K se dirige a um teatro e sentado em meio as cadeiras na multidão, uma mulher desconhecida lhe entrega um bilhete, e afirma que um homem lhe espera do lado de fora. Ao sair do teatro K logo se depara com o inspetor que logo o conduz por um corredor escuro por alguns metros e curvas adentro. Em certo momento eles param, e K é colocado embaixo de uma luminária, nesse momento o inspetor lhe entrega um pedaço de papel e afirma que neste singelo pedaço de papel está desenhado um mapa indicando o local o qual K deve se dirigir pois será interrogado, K nem ao menos recebe uma intimação formal, nem mesmo a hora foi informada, é tudo de forma muito rápida obscura sem nenhuma razão aparente. Parece que nesse momento antes o que era um inquérito já se transforma em um processo. Assim como se não existisse razão em suas ações K segue pelo caminho escuro e chega a um local cheio de pessoas paradas, imóveis, seminuas, com faces retorcidas e encaradas, todas essas pessoas tem uma placa pendurada em seus pescoços, e nessa placa alguns números escritos sem nenhuma lógica ou razão aparente, K apenas se limita a caminhar por entre essas pessoas, como se tudo não passasse de uma paisagem ou até mesmo uma simples parede. Depois de um certo tempo caminhando K chega a outra sala onde encontra uma mulher que lava sua roupa, e esta parece não se assustar com K, e diante de sua presença se limita a dizer que K deve adentrar a próxima porta. Ao entrar K logo percebe que está diante de um tribunal, um tribunal que mais parece um teatro, apinhado de pessoas, e estas todas olham atentamente para K. 7 No centro do salão, sobre um palanque montado com estrados, está uma pequena mezinha, e atrás dela está o magistrado que ao ver Josef K apenas grita para todos que K está atrasado e deveria ter chegado há uma hora e cinco minutos, Josef K permanece em silencio e o juiz pede que se aproxime, e assim K sobe no estrado e chega perto do juiz que lhe pergunta: -“Você é o pintor de casas? ” E K apenas responde secamente: Não Nesse instante toda a corte, toda a multidão no salão começa a rir de maneira exacerbada pitoresca, um interrogatório que parece um programa de comedia. E em meio aos risos K começa a entoar um discurso onde declara todas as suas insatisfações com o processo que vem sofrendo, toda a arbitrariedade dessa justiça desconhecida e escusa, sem regras e sem leis, todo o inconformismo com esta realidade, onde tudo parece ser inacessível, inalcançável para os comuns, pois existe um tribunal menor que está dentro de um tribunal muito maior, inacessível inalcançável para os acusados comuns. Em certo ponto não se pode saber do que K é acusado ou o porquê é processado, entretanto todos aqueles que de alguma maneira estão ligados ao tribunal parecem saber de algo ao mesmo tempo que nada sabem. Ainda é controverso o fato de o interrogatório seja tão público e a acusação não, na realidade pairam muitas dúvidas sobre a existência de uma acusação, nem sequer existe um promotor de justiça incumbido de analisar a conduta de K e a de tipifica-la como crime, todos os fatos seguem uma ordem desgastante, destrutiva ao ponto de se perceber como a justiça pode ser perversa aos inocentes. K ainda ao sair do tribunal após toda a cena deplorável é advertido pois estaria renunciando a oportunidade de ser interrogado, apesar de que o magistrado não parece se quer ter a mínima vontade de interrogar K, parece que a figura do magistrado é apenas decorativa. Os réus no tribunal são tratados como coisas que em fila e vestidos de preto imploram para que ao seu processo seja dado andamento, passam dias nas filas, anos, 8 aguardando incessantemente por uma oportunidade de provarem sua inocência e de descobrirem o que deu causa a tamanha situação perante o judiciário. Em determinada cena, o descaso é tanto para com Josef, que o porteiro o joga escada a baixo, não prestando socorro ou demonstrando algum arrependimento frente ao ocorrido. Portanto o filme inteiro é uma demonstração ficcional de uma clara afronta aos princípios processuais penais, as garantias fundamentais inerentes ao ser humano tais como presunção de inocência, ampla defesa, contraditório, entre outros princípios estimados pelo estado democrático de direito. Ao fim do filme, o triste fim de K é consumado por sua morte, ao ser explodido já que não aceitou se matar.
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