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O Ponto de Mutação

Por:   •  24/9/2019  •  Resenha  •  1.616 Palavras (7 Páginas)  •  175 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

CURSO BACHARELADO EM CIÊNCIAS ECONOMICAS

Breno Fernandes da Cruz

 

A fragmentação como limitadora da visão

                                                                           

                                                                         Resenha apresentada para a disciplina Economia e Ética, no curso de Ciências Econômicas, da Universidade Federal de Uberlândia

Prof. Daniel Caixeta Andrade

                                                       Uberlândia/MG

02/08/2017

    Fritjof Capra, 78, é um cientista ambientalista, doutor em física, educador e ativista Austríaco que desenvolve um trabalho na promoção da educação ecológica. Um de seus principais livros é o Ponto de Mutação, publicado em 1983 (CAPRA, Frijot. Álvaro Cabral. O ponto de mutação. São Paulo: Ed Cultrix, 2006, 433p) no qual afronta o cartesianismo newtoniano reducionista em favor do pensamento sistêmico.

    A fundamentação teórica explicitada no capítulo I é bem desenvolvida e coerente, apontando para uma multifacetada crise mundial, decorrente de problemas que vão desde os aspectos econômicos até as questões relacionadas à saúde tanto das pessoas como do meio ambiente, todos eles interligados e interdependentes como peças de um grande quebra cabeça.

     Esse é o ponto de partida para a crítica de Capra em relação ao método cartesiano que utiliza uma ciência essencialmente racional e não especulativa, cujo método é universal inspirado no rigor matemático, que propõe equivocadamente decompor o todo em partes isoladas, ou seja, fragmentar o objeto de estudo para melhor analisá-lo e compreendê-lo. O entendimento dessa crise fica, portanto obscurecido pela utilização desse método, visto que os especialistas não são mais capazes de solucionar ou explicar os fenômenos que se desenrolam em seus respectivos objetos de estudo, justamente porque eles não são independentes uns dos outros, mas sim constituintes de um mesmo sistema, logo um não apresenta imunidade em relação as variáveis que afetam os outros.

     O método Cartesiano foi e continua sendo importante para o desenvolvimento da ciência, entretanto pode-se dar razão a Capra em sua crítica no aspecto de que a racionalidade não precisa está associada à fragmentação. O ser humano não é fragmentado: o corpo está ligado à mente, assim como o sistema que constitui o ser humano como um todo, não é independente do meio em que vive. No ramo da medicina, as doenças do corpo são cuidadas pelos médicos ( atualmente há praticamente um especialista para cada parte do corpo) e as mentais por psicólogos e psiquiatras, entretanto não se pode desconsiderar a necessidade de um trabalho conjunto entre eles. A depressão, por exemplo, é um problema mental que apresenta sintomas como a síndrome do intestino irritável, dor de cabeça, dores no corpo dentre outros problemas de cunho físico, isso porque a mente está intrinsecamente ligada ao corpo. No aspecto econômico, que será abordado de forma mais profunda no capitulo VII, pode-se destacar um dos maiores dilemas enfrentados na atualidade, que é a relação entre satisfação das necessidades através do consumo e deterioração do meio ambiente. Quando se pensa em ambos de maneira fragmentada, é comum que se pense no crescimento ilimitado como forma mais relevante pra promover a felicidade, esquecendo-se de que os fatores de produção são limitados e que os problemas ambientais são também um problema para preservação da vida humana.

     Emerge, com a análise apresentada, a necessidade de uma transição social devido às limitações da visão de mundo cartesiana. A primeira transição relaciona-se com um declínio do patriarcado em que os homens, determinam o papel das mulheres. Segundo Capra, o movimento feminista emerge e terá um profundo efeito sobre a futura evolução. Historicamente as mulheres ficaram ligadas a tarefas secundárias sempre subjugadas em relação aos homens, religiosamente falando, a participação delas fica limitada à mitologia onde aparecem ora como símbolos sexuais como Afrodite ora como esposas responsáveis a cima de tudo por zelar pela casa. No âmbito da ciência, apenas nomes masculinos figuram entre os mais importantes e na perspectiva geral elas eram excluídas das decisões, ou seja, não tinham direito ao voto, quem dirá de apresentar-se como candidatas. Diante disso é inevitável constatar uma evolução significativa, mas ainda hoje as mulheres são subjugadas. O movimento feminista citado ainda é visto como um “movimento de minoria” e lida com a aversão de grande parte da população, existem mulheres ocupando posições importantes no cenário político mundial, mas infelizmente são exceções que fogem à regra, o mesmo vale para cargos importantes dentro de empresas. Elas ainda ganham menos que os homens, e são vistas como principais responsáveis pelos afazeres domésticos. A segunda transição refere-se ao declínio da era do combustível fóssil. Uma análise atual permite à conclusão de que a maior parte da demanda mundial de energia ainda é suprida por meio da utilização desses combustíveis. Sua massiva substituição pelas fontes de energia renováveis não é tarefa fácil, pois envolve mudanças tecnológicas, econômicas e institucionais significativas. Essas mudanças transcendem o setor energético e envolvem temas que dizem respeito a um conjunto de valores associados ao papel crucial da energia no crescimento econômico e no bem estar social e à relação com os recursos naturais e o meio ambiente. A terceira e última transição, que é a base que justifica a não efetivação das duas anteriores, é a mudança de paradigma que pressupõe uma profunda mudança no pensamento, percepção e valores que formam determinada visão de realidade. A dificuldade nessa mudança justifica-se através da análise de Herman Daly, de que somos inconscientes dos paradigmas até que a claridade do pensamento científico seja obscurecida por uma anomalia, e mesmo sob a pressão de fatos que parecem não se encaixar, (como é o caso) os paradigmas não são facilmente abandonados, já que para tal é preciso mudar a base inteira da comunidade intelectual.

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