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O Triunfo Da Toyota

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Por:   •  22/1/2015  •  1.492 Palavras (6 Páginas)  •  350 Visualizações

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A gigante japonesa está perto de quebrar uma hegemonia histórica. Segundo projeções do mercado, até o final de 2007 a Toyota será a maior fabricante de automóveis do mundo – é a primeira vez em 100 anos que Ford e General Motors deixam a liderança. O segredo? Uma cultura, nascida há 50 anos, ancorada na busca incessante pela inovação

Carros montados no terminal de Long Beach, nos EUA: a empresa tem hoje 15% do mercado global

A segunda metade do século 20 viu nascer uma grande revolução na indústria mundial. Enquanto o Japão agonizava no pós-guerra, a fabricante de automóveis Toyota criava, na década de 50, um dos sistemas de produção mais inovadores de todos os tempos. O modelo idealizado pelo fundador da empresa, Sakichi Toyoda, e aprimorado por seu filho, Kiichiro, consiste basicamente numa cadeia de suprimentos enxuta, flexível e altamente terceirizada, que prevê a eliminação quase total dos estoques e a busca incessante pela agilização do processo produtivo. Com tal premissa, a Toyota tornou anacrônicos os métodos consagrados por Henry Ford, que, em 1908, introduziu a linha de montagem na fabricação de automóveis. A produção em série inventada por Ford possibilitou a confecção de bens a preços acessíveis, ajudou a erigir a sociedade de consumo e tornou-se um paradigma de sucesso cultuado e reproduzido por toda e qualquer empresa no mundo. Entretanto, os métodos produtivos de Ford revelaram-se inflexíveis (não à toa, todos os seus carros daquele período eram pretos) e altamente ineficientes, o oposto do que veio a ser o método Toyota. Graças a isso, nas últimas cinco décadas o sistema desenvolvido pelos japoneses foi replicado por centenas de companhias de diferentes setores, entre elas a Microsoft, produtora de softwares, e a Boeing, fabricante de aviões, sendo reconhecido como um padrão de excelência único no mundo.

O discreto CEO Katsuaki Watanabe: a conquista do primeiro lugar não é obsessão

Nos próximos meses, o chamado Sistema Toyota de Produção atingirá seu ápice. Segundo projeções da consultoria especializada CSM Worldwide, os japoneses da Toyota estão prestes a assumir a dianteira mundial da indústria automobilística. Estima-se que até dezembro deste ano a montadora alcançará recordistas 8,54 milhões de unidades vendidas no mundo, ante 8,53 milhões da General Motors. A façanha é notável: desde que a Ford iniciou a produção em série, o setor vem sendo dominado por empresas nascidas nos Estados Unidos. Embalada pelo sucesso do modelo T, a companhia de Henry Ford liderou as vendas globais durante mais de duas décadas. Em 1930, graças principalmente a seu legendário presidente Alfred Sloan, a General Motors tornou-se a número 1 do planeta, posição que manteve até 2006. Fosse a Toyota uma companhia barulhenta como a Apple, o feito seria comemorado com festas e discursos estrepitosos (não é difícil imaginar o alvoroço que Steve Jobs faria). Com ela não é assim. Mesmo às vésperas de alcançar uma das maiores proezas da indústria nos últimos 100 anos, os japoneses da Toyota continuam tão discretos quanto monges budistas. Nos comunicados oficiais da empresa, não há referências ao fato. Tampouco seus executivos alardeiam a provável conquista. Recentemente, num evento nos Estados Unidos, Katsuaki Watanabe, CEO da Toyota, afirmou que liderar as vendas não é uma obsessão. Para ele, melhor mesmo é continuar ganhando dinheiro, muito dinheiro, no negócio de automóveis. No ano passado, quando ocupou o segundo posto global, a Toyota lucrou US$ 13 bilhões, valor superior ao do lucro somado das outras cinco maiores fabricantes. A General Motors, depois de um 2005 tenebroso, alcançou o lucro de US$ 2,5 bilhões no ano passado. Já a Ford registrou prejuízo de US$ 12,7 bilhões, o pior resultado financeiro de sua história. Apesar do estilo antagônico de seus líderes, Toyota e Apple têm em comum uma característica essencial que permitiu que as duas empresas se tornassem referência não apenas em suas áreas de atuação. Nenhum concorrente inova tanto quanto elas. Fundada em 1933 na província de Aichi, no Japão, a Toyota sempre foi uma usina de idéias. "Com o surgimento do Sistema Toyota de Produção, a empresa de uma hora para outra começou a gastar muito menos para fazer carros tão bons quanto os automóveis americanos", disse a Época NEGÓCIOS W. Chan Kim, professor de gestão internacional da Escola de Administração Insead, na França, e co-autor do best-seller A Estratégia do Oceano Azul, que analisa os mecanismos utilizados por grandes corporações para criar novos mercados, os chamados oceanos azuis. "A busca obstinada pela inovação salvou a Toyota do fracasso ao qual ela parecia condenada e a tornou uma gigante capaz de brigar com concorrentes maiores."

A CULTURA DA TOYOTA

Fundador da Toyota, Sakichi Toyoda é um dos grandes inovadores contemporâneos. Ele criou o Sistema Toyota de Produção, modelo que transformou a indústria automobilística. Hoje, a empresa é reconhecida por possuir um padrão de excelência único no mundo. Entenda o que a faz diferente:

Toyoda: padrão único

1) Produção enxuta O Sistema Toyota de Produção consiste numa cadeia de suprimentos enxuta e altamente terceirizada, que prevê a eliminação dos estoques e a busca permanente pela agilização do processo produtivo.

2) Eficiência logística A Toyota leva ao extremo o conceito de just-in-time (algo como a peça necessária, na quantidade necessária, no momento necessário). Os fornecedores são monitorados em tempo real.

3) Redes de conhecimento A empresa promove a transferência de seu know-how para os parceiros, treinados para atuar de acordo com a cultura Toyota. O compartilhamento do conhecimento cria redes que facilitam a troca de informações.

4) Flexibilidade no chão de fábrica Os operários da empresa têm autonomia para interromper a produção, caso detectem algum problema em peças ou equipamentos, evitando que os defeitos apareçam apenas no final do processo.

5) Agilidade para incorporar tecnologias A Toyota foi a primeira empresa a fabricar em grande escala um carro híbrido. A General Motors tinha um projeto parecido, mas não quis correr o risco.

6) Conhecimento do consumidor Enquanto os outros fabricantes faziam carros a partir de concepções de seus engenheiros, a Toyota inovou ao mapear as expectativas dos clientes. O Lexus foi desenhado com base nas sugestões dos consumidores.

Um milhão de idéias

A perseguição do que é original pode ser medida em números: a cada ano, a empresa implementa em todos os seus processos e níveis organizacionais aproximadamente 1 milhão de idéias novas, segundo um levantamento realizado por Mathew May, professor durante oito anos da Universidade Toyota e autor do livro The Elegant Solution. Lançada no início do ano, a publicação mergulha nas práticas que tornaram a Toyota uma das empresas mais bem-sucedidas do mundo. De acordo com a análise de May, três princípios básicos formam o que ele chama de "mágica Toyota". O primeiro deles é a criatividade. Outras companhias também possuem essa característica, mas poucas atingiram o mesmo grau de inventividade. "A diferença é que a Toyota não busca apenas as respostas, mas acima de tudo está atrás de perguntas", escreveu o autor. O que os consumidores procuram? Há um jeito melhor de fazer isso? Como posso resolver o problema? Na montadora japonesa, segundo o autor, as respostas são de fato convertidas em ações - numa espiral de criatividade que abrange todos os níveis.

O segundo princípio destacado por May é a perseguição da perfeição. Parece um conceito óbvio, mas na Toyota o óbvio costuma fazer a diferença. Para a montadora japonesa, a perfeição é irmã gêmea da simplicidade. Se um procedimento é complexo demais, não faz sentido investir nele - o mesmo vale para idéias, produtos e modelos de gestão. O terceiro e último princípio diz respeito à capacidade de se ajustar ao mercado. Ninguém na indústria lança carros tão sintonizados com as demandas do público. Isso se deve principalmente à eficiência de seus métodos, que permite o lançamento de carros melhores e mais baratos do que os da concorrência.

Se existe uma palavra capaz de traduzir a eficiência dos métodos da Toyota é logística. No pós-guerra, a empresa não tinha espaço nem dinheiro para guardar estoques. Para sobreviver, teve de aprender a viver sem eles. Nesse ramo, isso só é possível se houver uma estreita ligação com fornecedores. Sem armazenar peças e componentes, a companhia precisava receber o item certo na hora exata, para que todo o processo produtivo não fosse comprometido. Acabou criando o que parecia inviável - a fabricação de um carro sem estoques excessivos. Só no ano passado, a Toyota economizou US$ 100 milhões em custos financeiros decorrentes de sua inteligência logística. A obsessão pela agilidade dos processos fez a montadora japonesa levar ao extremo o conceito de entregas just-in-time. Em sua fábrica em Bangalore, na Índia, a Toyota exige que a entrega de peças aconteça a cada duas horas, sete dias por semana. Significa que, enquanto um caminhão despacha, digamos, amortecedores, outro já se aproxima com um carregamento de faróis. A operação é ainda mais complexa, considerando que, na Índia, alguns fornecedores estão a mil quilômetros de distância. Para monitorar tudo isso, a empresa desenvolveu sistemas matemáticos que ajudam a definir as melhores rotas até o destino final.

Fonte: http://epocanegocios.globo.com/Revista/Epocanegocios/0,,EDR76927-8382,00.html

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