Seti E Laplane
Artigos Científicos: Seti E Laplane. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: forester • 21/10/2013 • 8.349 Palavras (34 Páginas) • 443 Visualizações
Economia e Sociedade, Campinas, v. 11, n. 1 (18), p. 63-94, jan./jun. 2002.
O Investimento Direto Estrangeiro e a
internacionalização da economia brasileira nos anos 19901
Fernando Sarti2
Mariano F. Laplane2
Resumo
O trabalho analisou o processo de internacionalização produtiva no Brasil nos anos 1990 e apontou
diferenças importantes com relação às experiências em outros países: México, Coréia do Sul e
China. A internacionalização “introvertida” caracterizou-se pela transferência da propriedade de
empresas nacionais para investidores estrangeiros, sem contrapartida proporcional de investimentos
de empresas brasileiras no exterior, e pela assimetria entre o expressivo incremento de volume e
conteúdo importados no mercado e na produção domésticas vis-à-vis o apenas modesto desempenho
exportador. Como resultado, explicitou-se a contradição entre as dimensões micro e
macroeconômica da internacionalização, na qual a estrutura produtiva muito mais eficiente
contribuiu para agravar a vulnerabilidade externa da economia brasileira.
Palavras-chave: Desenvolvimento econômico; Comércio exterior, Internacionalização produtiva;
Reestruturação industrial; Investimento direto estrangeiro.
Abstract
This paper analyses the process of internationalization of Brazilian manufacturing during the
nineties. Important differences were found comparing the Brazilian experience to the cases of
Mexico, South Korea and China. In Brazil, the “inward" internationalization process was
characterized by the transference of property of domestic companies to foreign investors, without
proportional counterpart investment by Brazilian companies overseas. Other important difference
was the asymmetry between the expressive increment of imports, both of final goods and inputs, and
the barely modest growth in exports. As a result, tensions arose between the macroeconomic and
microeconomic dimensions of the internationalization process, emerging from a more efficient
manufacturing structure contributing paradoxically to aggravate the external vulnerability of the
Brazilian economy.
Key words: Economic growth; Foreign trade; Productive internationalization; Manufacturing
structure; Foreign Direct Investment.
JEL F21, F41, L23.
Introdução
Em 1997 publicamos um trabalho que avaliava a contribuição potencial do
Investimento Direto Estrangeiro (IDE) para a retomada do crescimento sustentado
da economia brasileira (Laplane & Sarti, 1997). No ano anterior, o fluxo de IDE
(1) A pesquisa que deu origem a esta publicação contou com o apoio financeiro da FAPESP (processo
n. 99/03267-9).
(2) Professores do Instituto de Economia da Unicamp.
Fernando Sarti / Mariano F. Laplane
Economia e Sociedade, Campinas, v. 11, n. 1 (18), p. 63-64 94, jan./jun. 2002.
tinha atingido US$ 10,8 bilhões, valor superior aos fluxos acumulados entre 1990
e 1995. O crescimento explosivo do investimento direto alimentava, em muitos
analistas, expectativas otimistas no sentido de que atuaria como motor de uma
nova fase de crescimento e como agente modernizador da estrutura empresarial
brasileira. Esperava-se que o IDE atuasse como o componente mais estável de um
novo padrão de financiamento de longo prazo, apoiado na atração de fluxos
crescentes de poupança externa. Imaginava-se, também, que as empresas
estrangeiras seriam protagonistas importantes na adoção de um novo estilo de
crescimento com maior ênfase nas exportações, a partir de uma base produtiva
mais especializada e com maior conteúdo tecnológico.
O argumento sustentado no trabalho era o de que o poder de indução do
crescimento do IDE era baixo. Os investimentos produtivos das empresas
estrangeiras apresentavam baixos coeficientes de capital e de emprego. A
tradicional fragilidade das cadeias produtivas locais, agravada pela estratégia de
estabilização adotada – câmbio valorizado e juros elevados –, fazia com que parte
importante do impulso dinâmico dos investimentos fosse direcionada para o
exterior, alimentando a importação de equipamentos, de componentes e de
tecnologia. Os investimentos estrangeiros em infra-estrutura (principalmente no
caso das telecomunicações) pareciam apresentar o mesmo problema.
A limitada capacidade do investimento estrangeiro de realimentar
endogenamente o crescimento também levantava dúvidas, a nosso ver, sobre a
viabilidade de atrair indefinidamente quantidades crescentes de IDE para financiar
o déficit em conta corrente. Sendo a expansão do mercado interno o principal fator
de atração de IDE, a incapacidade deste de realimentar o crescimento encerrava a
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