Felicidade e Sustentabilidade - Importância para as Relações Internacionais
Por: camilavilela • 25/6/2015 • Artigo • 6.880 Palavras (28 Páginas) • 292 Visualizações
1. INTRODUÇÃO A humanidade está passando por transformações em diversos âmbitos, envolvendo questões políticas, culturais, sociais, ambientais e filosóficas. As relações entre os indivíduos e natureza têm sido tema para muitas reflexões e críticas e, nesse sentido, as propostas relacionadas ao desenvolvimento sustentável ganham, gradativamente, espaço nas discussões e ações locais, nacionais e internacionais. O desenvolvimento sustentável está além da ótica ambiental, pois este se inter- relaciona diretamente com as questões econômicas, sociais, éticas, territoriais e políticas e sugere que as atuais gerações usem os recursos naturais sem que a capacidade das futuras gerações de fazer o mesmo seja diminuída (BRUNDTLAND REPORT, 1987). Os indicadores sociais e econômicos não são suficientes para explicar se uma população ou Estado baseia seu desenvolvimento na sustentabilidade. Além disso, o bem-estar social e a felicidade são percepções subjetivas que também devem ser incorporadas e baseadas nos princípios da sustentabilidade. Esta pesquisa analisou a inter-relação entre os indicadores de felicidade e as práticas baseadas no desenvolvimento sustentável. Acredita-se que a felicidade não consiste em um estilo de vida com alto consumo e, sim, o acesso adequado em quantidade e qualidade de recursos materiais e imateriais a todos os indivíduos, de modo que a humanidade possa usufruir de dignas condições de vida, considerando a inclusão social e o baixo impacto ambiental. Os questionamentos que motivaram essa pesquisa foram: “Como é medida a felicidade dentro dos países e qual o papel da sustentabilidade nesses indicadores? Qual a importância desses indicadores para as Relações Internacionais?” Sendo assim, o principal objetivo do trabalho é analisar a inter-relação entre os indicadores de felicidade e os indicadores de sustentabilidade considerando o atual estado do mundo. Para tanto, os temas relacionados à problemática serão apresentados e discutidos a seguir, considerando os indicadores de felicidade criados pelo presidente do país Butão, juntamente com os estudos e conferências internacionais que apontem possíveis caminhos para promover a felicidade associado a um estilo de vida sustentável. Para o desenvolvimento desta pesquisa foi necessário, primeiramente, o levantamento bibliográfico relacionado aos assuntos a serem tratados, como desenvolvimento sustentável, qualidade de vida, indicadores sociais, felicidade. Foram consultados livros, artigos científicos, revistas, sites e relatórios oficiais, como o “World Happiness Report”,
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publicado pela ONU em 2010 e o Brundtland Report, também publicado pela ONU, em 1987. Esses materiais serviram de base para a discussão proposta. Outros dados sobre questões ambientais e sociais foram pesquisados em fontes oficiais para ajudar na análise entre indicadores de felicidade e de desenvolvimento sustentável.
2. REVISÃO TEÓRICA
2.1 O estado do mundo
Uma das questões mais preocupantes do mundo hoje é o fato das pessoas não conseguirem viver de forma harmoniosa com o ambiente, e por dinheiro, destruí-lo, pensando que dessa maneira serão felizes. O abismo existente entre os que têm mais e os que têm pouco vêm destruindo a ideia de comunidade. Segundo Sandel (2013) a destruição desse senso de comunidade nos tira um propósito muito importante que é o de ser melhor, elevar o caráter, aprender e debater com os outros, respeitando-se. Dessa forma as pessoas hoje vivem no mundo apenas para cumprir sua função de consumidores levando uma vida totalmente privada; deixam de lado aspectos importantes da vida pública como a busca pela felicidade, o equilíbrio, a vida sustentável e o convívio em coletividade. Essa posição é tão caótica que algumas pessoas no mundo inteiro começaram a levantar questões que antes estavam esquecidas. Muitas conferências internacionais aconteceram, principalmente na década de 1990, para mudar os paradigmas que antes controlavam toda a sociedade. Temas pouco lembrados como o desenvolvimento sustentável e felicidade começaram a ter um espaço crescente nas agendas internacionais como tentativa de mudança de postura das pessoas e dos países. A seguir serão apresentadas as principais ideias e análises que foram extraídas desses encontros internacionais buscando assim olhar por outro ângulo os novos problemas do mundo. Em um relatório inédito sobre felicidade, existe uma análise muito coerente sobre o estado do mundo hoje. Nota-se que vivemos numa era de contradições onde o mundo passa por uma onda de tecnologia enquanto ainda existem milhões de pessoas passando fome. Segundo o World Happiness Report (2010, p. 3) “a economia mundial deveria usar a tecnologia para produzir mais com menos de forma a atender toda a população”.
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Assim fica muito clara a situação de negligência que o mundo vivencia na atualidade. Todo ano, gastam-se milhões com inovações, mas aparentemente essas inovações não são eficientes. Ou ainda, como Oscar Motomura (2008) diz em um discurso, as inovações não são responsáveis. Isso acontece porque as pessoas ficam tão preocupadas em inovar e esquecem de fato de inovar em áreas que tragam grandes benefícios para a população hoje e no futuro. Isso acaba por colocar em risco muitas vidas pelo mundo, e até, tirando o direito das atuais e futuras gerações de buscarem a felicidade e de terem acesso ao mesmo meio ambiente que nossos pais e avós tiveram.
2.2 O estado da felicidade e da sustentabilidade mundial
Segundo Pedrão (2012, p.1) as Relações Internacionais são compostas por processos de alternância em cooperação e conflito e se desenvolveram como uma totalidade de complexidades que revelam um cenário extraterritorial (o sistema internacional). São relações assimétricas de poder que se revelam no plano de inserção e posicionamento estratégico de atores – relações assimétricas, pois os atores são essencialmente distintos. Segundo Ludolf (2013, p.1), desde os tempos de Marx já se discutia contradições internas do modelo de acumulação promovido pelo capitalismo e é óbvio que agora, organizado internacionalmente, ele produzirá contradições em nível global e a percepção desse movimento é o que fará ascender, no âmbito dos debates das relações internacionais, as análises das questões sociais e da globalidade desses problemas (problemas comuns a todos os Estados). Isso por que, segundo SEN (2000, p. 68) “a ética capitalista é de fato profundamente limitada em alguns aspectos, sobretudo as questões de desigualdade econômica, de proteção ambiental e da necessidade
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