Resenha - Gran Torino (Filme -2008)

Alvaro Arruda

RA00187404

Prof. David Magalhães

Filme: Gran Torino - Clint Eastwood

“Gran Torino” é um filme que pode conter uma história linearmente simples, mas apresenta todo um questionamento sócio-cultural, com situações referentes a condições do que se pode ou deve ser feito (com religiosidade, histórias de guerra e nacionalismo) fazem do filme uma grande obra para se refletir o cenário político atual. O filme se utiliza de uma trama em que busca contextualizar o tradicionalismo da ultra direita, podendo explicar como o mundo globalizado em que vivemos hoje acendeu as chamas de eleitores norte-americanos que levaram Trump a presidência, utilizando como exemplo o personagem Kowalski, que se encaixaria perfeitamente no grupo de seus eleitores. Kowalski é um ex-veterano de guerra, que após perder sua esposa se vê cercado de filhos interesseiros e familiares que não gostam dele, fazendo com que isso aumente sua rabugice. Um homem que trabalhou por bastante tempo na Ford (indústria nacional), solitário, cheio de manias, com suas verdades e histórias de luta (Guerra da Coréia) e dor, vivendo em um bairro violento e com poucos amigos, tem que aprender a conviver com vizinhos de descendência asiática (Hmong), que acabam proporcionando um contato com uma outra cultura e deixando sua vida com uma nova perspectiva.

Com a difusão das forças da globalização, nasceu dentro de Kowalski o apego a seu carro da Ford “Gran Torino”, uma boa representação do produto nacional americano, construído a partir de um capital produtivo, que mais tarde foi descartado por Washgninton ao priorizar o capital financeiro em Wall Street. Junto a isso, o colapso da indústria de ferrugem trouxe também o desemprego, a perda de riqueza dos trabalhadores e a marginalização política e cultural do lugar. Ao analisarmos o “gráfico do elefante”, de Branko Milanovic, podemos compreender um dos fatores principais que contribuíram para a revolta da classe média – na qual poderia se enquadrar Kowalski – contra o sistema e as elites. O gráfico demonstra a evolução dos ganhos financeiros (%) de cada parcela da sociedade durante a evolução da globalização entre 1988-2008, destacando A [a classe média global, que enquadra famílias orientais (China e região) que saíram da miséria de seus países e apresentaram grandes ganhos, tendo aumentos de até de 2.2], B (a classe média baixa americana europeia etc. que ao longo dos 20 anos teve sua renda estagnada, sem ganho algum) e C (as classes altas como em Wall Street que apresentaram altos ganhos). Desta forma, é possível perceber um acúmulo de ressentimentos e frustações de B frente tanto à camada rica financeira quanto à classe média emergente global. Forma-se então essa casta ressentida que seria abraçada e captada por movimentos da Ultra Direita, explicando o porquê do aumento de apoio a estes movimentos. Consequentemente, a cidade de Kowalski se torna um espaço de grande criminalidade, principalmente entre gangs asiáticas e latinas, aquelas nas quais não pertencem ao “American Way of Life”. Diante deste cenário, Kowalski irá fazer de tudo para preservar aquilo que dá sentido à sua existência – a honra, a independência, a propriedade, o Gran Torino (trabalho) – resistindo as forças da globalização, pois elas vão contra seus critérios morais e trazem desordem a comunidade tradicional.  

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