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ANÁLISE SOBRE O IMPACTO DA BIPOLARIDADE NA GUERRA FRIA

Por:   •  25/9/2018  •  Resenha  •  1.867 Palavras (8 Páginas)  •  236 Visualizações

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“DOUTOR FANTÁSTICO – UMA ANÁLISE SOBRE O IMPACTO DA BIPOLARIDADE NA GUERRA FRIA”

  • Introdução

Os conflitos bélicos trazem consigo algo que lhes é íntimo e essencial: os fins políticos. Por definição, a guerra pode ser entendida como sendo o uso da força, por grupos organizados e com fins políticos. Portanto, mesmo com suas infinitas particularidades, o ethos de qualquer conflito pode ser analisado a partir de seus objetivos, lançando bases para a compreensão de seus desdobramentos e seus meios. No caso da Guerra Fria, esse estudo torna-se bastante nebuloso visto que diversos aspectos tornam o conflito inédito, além de longevo e belicoso, contribuindo ainda mais para o surgimento de diversos nichos dentro do próprio conflito, que deve ser compartimentalizado e analisado por etapas, para que não haja falsa simetria e falácias argumentativas.

        Tendo como base o filme “Doutor Fantástico” (1964) de Stanley Kubrick (1928-1999), o cerne desta análise será um aspecto detalhado da Guerra Fria, localizado como uma doutrina e popularmente conhecido como M.A.D. (Mutual Assured Destruction). A obra de Kubrick coloca as tensões inerentes ao conflito e, através do escárnio e da provocação, desloca as consequências da existência do M.A.D. até seu ponto mais extremo: a possibilidade aniquilação total da humanidade. Ao escolher a comédia como eixo motor da exploração dessas consequências, o diretor provoca o público e a sociedade como um todo, expondo o lado ridículo e estapafúrdio de um dos momentos mais delicados da história da política internacional. O filme transpassa a noção de que a destruição era apenas um passo delimitado pela estrutura mambembe que a corrida armamentista trouxe para o sistema internacional e o fator apocalíptico das armas nucleares, atingindo o ambiente mais propício para a derrocada da humanidade: a insanidade causada pela alienação dos atores políticos frente ao desenrolar dos fatos.

  • O Princípio da Guerra Fria

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a Europa vivia momentos críticos e a reconstrução era a única pauta que norteava as nações vitimadas pelo conflito. Exauridos de recursos econômicos – com a produção e o abastecimento afetados pela Guerra – os países europeus assistiam de perto a pulverização dos regimes totalitaristas que permearam a região e foram as causas subjetiva e necessária para que o conflito ocorresse. É nesse momento que se permite compreender que a ordem mundial que se instalara viria a corroborar para o conflito central da segunda metade do século XX. A Guerra Fria se anunciava com o primor de um conflito de bases ideológicas, onde a preponderância de duas superpotências, EUA e URSS, deslocavam o eixo de poder para o sentido Oeste-Leste, deformando completamente a velha estrutura multipolar europeia e sentenciando a megalomania dos anos que se seguiriam.

O início do conflito é alvo de divergência entre diversos autores conceituados. André Fontaine (1965)[1] compreende a incompatibilidade da ideologia que possibilitou a existência da União Soviética como país e sua constante rivalidade com o Oeste, partindo da Revolução de 1917, como sendo o ponto de partida da noção de guerra fria entre Ocidente e União Soviética. Porém, o autor não deixa de sinalizar a importância da bipolaridade pós-1945, uma vez que a existência do antagonismo entre os atores possibilita surgir as divergências e as disputas de interesse que marcam o período.

Outros autores entendem que a emergência do conflito se dá após a Segunda Guerra Mundial, como é o caso de Louis Hallé[2], na obra “The Cold War as History” (1967) que localiza a gênese do conceito de guerra fria no período 1945-1947, inserido ainda nos esforços de pacificação dos Aliados ao final da Segunda Grande Guerra.

        Desse modo cabe a análise de que o pós-guerra confere à Guerra Fria seu caráter geopolítico e demonstra como o espaço se torna importante para o conflito, tanto para a sua expansão e escalada, como para seu próprio declínio, quando enfrentados os custos desencadeados pela busca latente de influência dos conflitos paralelos – como a Guerra da Coreia (1950) ou a Guerra do Vietnã (1955). O sentimento que sucede a Segunda Guerra Mundial é de compensação, para o lado soviético, aonde Stálin almejava ser pago em moeda territorial pelas vitórias soviéticas e pelo sofrimento heroico do povo russo e de contenção desse avanço pelo lado estadunidense.

Com o avanço do conflito, a relevância das linhas divisórias físicas na Europa passa para segundo plano e a Guerra Fria assume a face combativa que mais vai caracterizar o período na história: a guerra ideológica. Os Estados Unidos, líder do “Mundo Livre”, usufruindo de sua posição no “topo da escada”, redobra sua atenção para que o discurso da solidez e da vanguarda que o liberalismo propõe seja aceito como ideologia dominante, porém sem deixar que a incipiente corrida armamentista seja colocada em segundo plano, para que o equilíbrio entre credibilidade e materialidade, quando pensado em fins políticos de manipulação da vontade de outros atores, não seja prejudicado.

A União Soviética, após o imenso desgaste durante a Segunda Guerra, possuía a visão sumariamente territorialista, inclusive lançando mão de um avanço de fronteiras em direção ao Oeste logo após o fim do conflito mundial, percebendo a lacuna de poder deixada pela proposta de retirada das tropas estadunidenses. Porém, era a presença ideológica da Revolução de 1917 que trazia consigo as pretensões de internacionalização da ideologia soviética.

Desse modo, é cabal a dualidade entre a necessidade de expansão das ideologias no espaço político mundial versus a crescente beligerância e aumento da distância de articulação entre os países. Esse distanciamento, quando analisado, serve para compreender como se daria o fortalecimento dos arsenais nucleares e a sua consolidação como o ponto de convergência das tensões que se instalaram ao redor da Guerra Fria. Notadamente, o advento da arma nuclear transforma profundamente o cálculo político de uma guerra quente entre ambas as potências, e é através da sua utilização como instrumento de barganha que o mundo consegue presenciar o dilema de segurança em sua essência mais básica, talvez pelo simples fato de que a equação de assimilação entre amigo e inimigo estava exposta em meios bem delimitados. A bipolaridade confere à Guerra Fria seu aspecto mais voraz e ao mesmo tempo a estabilidade da paz armada, uma vez que as posições estavam bem definidas e o erro de cálculo por parte de algum Estado tornava a reação a ser tomada pelo outro algo a ser pensado, pois o conflito não estava definido entre vencedores e perdedores, mas sim entre quem comprometeria primeiro o futuro da humanidade.

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