A PACIÊNCIA DIABÓLICA OU A BIOGRAFIA DE UMA DESILUSÃO

A PACIÊNCIA DIABÓLICA OU A BIOGRAFIA DE UMA DESILUSÃO

Conta-se que as tentações do Diabo atravessam o tempo e o espaço dos mundos. Não seria muito diferente naquele sertão nordestino do Caetés, na cidade de Garanhuns, Pernambuco, onde um filho de lavradores nasceu e cresceu, desafiando todas as expectativas do contínuo fracasso regional. Migrou para o eldorado de São Paulo, onde duramente trabalhou, passando a escrever seu nome nos movimentos sindicais. Neste momento o Diabo somente observa e sabe esperar.

O carisma desse filho do nordeste era inigualável, comandando a fundação de um partido político com base na classe operária, sindicalistas, intelectuais, artistas e católicos ligados à Teologia da Libertação, com uma proposta socialista e ideal ético diferenciado. Este nordestino, contrariando todas as lógicas sociais, liderou a organização de um movimento sonhado por muitos; uma verdadeira utopia de igualdade e solidariedade.

Mas as tentações do Diabo atravessam o tempo e o espaço dos mundos; e assim começa a agir na soleira das vaidades. Para alcançar seu projeto de poder, este nordestino se rendeu a idolatria do poder e vendeu a sua alma ao Encardido, se tornando um ídolo, um comandante de uma falange enfeitiçada; um ícone de cegos. Deixou de ser a diferença para se tornar igual aos outros indigentes de caráter, sempre presentes no curso de toda a história. Aliou-se ao pior da espécie politiqueira e venceu, mas logo compartilhando os quinhões do poder conquistado.

Alçado as vaidades do poder, o nordestino se considerou acima do bem e do mal; inatingível na sua soberba; cobriu-se com a aura dos ‘iluminados’. Mas o Diabo é paciente e cobra seus créditos, e também troca de súditos. O pacto terminou; como terminam todas as falsas promessas encardidas. E como fruto da frustração a dispersão aconteceu, com a fúria adormecida das desilusões e dos ódios opostos. O cárcere da mentira tornou-se a recompensa desse filho do nordeste.

Mas as tentações do Diabo continuam atravessando o tempo e o espaço dos mundos, pois já encontrou um novo capitão para o seu time; um novo bastião de moral e ética “diferenciado”, com a sua prole de adolescentes inconsequentes. Outro “déspota iluminado”, com uma nova milícia de oportunistas e cegos mentais seguindo seu ídolo, ingenuamente “imaculado” pelo incenso dos fundamentalistas. A outra face de uma mesma moeda, diabolicamente insistente nos cofres de barro do poder.

A paciência diabólica assiste com satisfação a outra biografia para uma desilusão futura; ou já presente nos cantos obscuros da consciência, e no luto de arrependimentos ainda inconfessáveis.