Jesus de Nazaré
Por: RicardoMartins88 • 31/5/2016 • Resenha • 3.354 Palavras (14 Páginas) • 1.034 Visualizações
Jesus de Nazaré, da entrada de Jerusalém até a Ressurreição
Recensão crítica
Introdução à obra
Este livro, escrito pelo papa Bento XVI, Joseph Ratzinger, traduzido para o português em 2011, é a segunda da trilogia de “Jesus de Nazaré”, tem como título: “Da entrada de Jerusalém até à ressurreição.”
O autor, divide-a em nove capítulos
Entrada em Jerusalém e a purificação do templo - Capítulo I
“Bartimeu recuperou a vista “e foi seguindo Jesus pelo caminho” (Mc 10, 48-52). Vendo de novo, juntou-se à peregrinação para Jerusalém. De um momento para o outro, o tema “Davi” e a sua intrínseca esperança messiânica apoderou-se da multidão: porventura este Jesus, com Quem estavam a caminho, não seria verdadeiramente o novo Davi esperado? Com a sua entrada na Cidade Santa, teria porventura chegado a hora em que Ele restabeleceria o reino de Davi?” - Creio ser este o paragrafo central de todo o capítulo.
Neste capítulo, Ratzinger, fala sobre a entrada de Jesus em Jerusalém, onde foi recebido com festa pela multidão. Embora os judeus esperassem um Messias político, um libertador que usasse o seu poder bélico, Jesus não era “esse” Messias. O Rei entra sentado num jumentinho, como “um rei da paz e um rei da simplicidade, um rei dos pobres”. - Não, Jesus não é um revolucionário político (Zelote), “não se fundamenta sobre a violência; não inicia uma revolta militar contra Roma. O seu poder é de caráter contrário: “é na pobreza de Deus, na paz de Deus que Ele identifica o único poder salvífico”.
A violência não instaura o Reino de Deus. Ao contrário, é um dos instrumentos preferidos do anticristo, não servindo à humanidade, e sim desumanizando-a. “Jesus não vem como destruidor; não vem com a espada do revolucionário. Vem com o dom da cura”. “Cristo, dedica-se àqueles que, por causa de suas enfermidades, são colocados a margem da sociedade, mostrando Deus como Aquele que ama.” - Jesus subverte a compreensão dos Judeus a respeito do zelo. Para Jesus, o zelo é amor sacrificial, que se doa “até ao fim.” Amor esse, que é universal. Isto é, que não se restringe ao povo judeu, Isaías e Zacarias, entre outros textos veterotestamentários, já assim anunciavam; “A universalidade, de que
falava a profecia de Isaías, é proposta à luz da Cruz: a partir da Cruz, o único Deus torna-Se reconhecível às nações; no Filho conhecerão o Pai e, desse modo, o único Deus que Se revelou na sarça ardente.”
O discurso escatológico de Jesus - Capítulo II
“Para o judaísmo, a cessação do sacrifício, a destruição do templo haveria de ser um choque tremendo. Templo e sacrifício estão no centro da Torá.”
Após a entrada em Jerusalém, é proclamado “o grande discurso escatológico de Jesus, com os temas centrais da destruição do templo, da destruição de Jerusalém, do Juízo final e do fim do mundo”.
Não tinha, até então, tomado a devida atenção para o real significado da “casa abandonada” – expressão essa que ainda não anuncia diretamente a destruição do templo, mas certamente o seu fim intrínseco, a cessação do seu significado como lugar de encontro entre Deus e o homem. O Ressuscitado é o novo templo, o verdadeiro lugar de contato entre Deus e o homem. Por isso, com razão, Wilckens pode também afirmar: “Talvez, desde o início, simplesmente os cristãos não tenham participado no culto do templo. (...) Por isso a destruição do templo no ano 70 (d.C.) não era, para os cristãos, um problema religioso seu.”
Percebo o que o autor pretende dizer com a destruição do templo não ter sido um problema para os cristãos. Porém, muito embora nos nossos dias, teoricamente, não termos o templo - espaço de encontro - como sendo o lugar da presença de Deus assim como um lugar histórico-salvífico, parece-me que ainda impera uma grande dicotomia nas nossas comunidades cristãs. Por vezes, considero que chegamos a “judaizar” o nosso cristianismo, a olhar para o templo (loja, garagem, armazém, etc.) como sendo o lugar por excelência onde Deus se manifesta, olhando assim, para todas as restantes dimensões, atividades e espaços, menos importantes e, por vezes, profanos.
Ratzinger prossegue e afirma que Jesus, tantas vezes quis acolher os filhos de Jerusalém, mas eles não o aceitaram, e depois os romanos destroem o templo e fazem um massacre dos judeus.
Para o judaísmo, “a destruição do templo deve ter sido um grande choque”: com o fim dos sacrifícios expiatórios eles não poderiam fazer nada que compensasse o mal crescente no mundo. Mas, com Jesus, “é superada a época do templo de pedra. Iniciou-se algo novo. Jesus mesmo é colocado no lugar do templo, é Ele o novo templo, é a presença de Deus vivente. Nele Deus e homem, Deus e o mundo se encontram”. No seu amor, desfaz-se todo o pecado do mundo. - Ele é o propiciatório da arca da aliança. Nele, todos os pecados foram lavados, Ele é o sacrifício completo e perfeito. Não há mais necessidade de rituais. Na verdade, esses rituais apontavam, eram tipos, do Cristo Redentor.
Jesus, no discurso escatológico, fala do tempo dos pagãos, localizado entre a destruição de Jerusalém e do fim do mundo: durante esse tempo, “o Evangelho deve ser levado a todo o mundo e a todos os homens: somente depois a história poderá chegar a sua meta”.
Bento XVI, na minha opinião, faz uma leitura bastante perspicaz ao aferir: “Em alguns períodos da história, tornou-se demasiado débil a percepção dessa urgência (evangelização), mas sempre se reacendia depois, suscitando um novo dinamismo na evangelização.” Vivemos dias, creio, em especial no Ocidente, em que a Igreja anda entorpecida sem a real noção da urgência de proclamar a Boa-nova. E isso, obviamente, influencia negativamente a práxis da igreja levando-a a ser insipida e irrelevante.
Outro aspeto que Bento XVI considera neste capítulo, e que pessoalmente corroboro, é o facto de o “tempo dos pagãos” não ser exclusivo de Lucas e, sim, ser “patrimônio comum da tradição de todos os evangelhos”. Aliás, em bom rigor, não é somente dos evangelhos, é de toda a bíblia, a começar em Gênesis. (p. ex., Gn 12: 1-3)
Um aspeto pertinente que o Bento XVI salienta, é o facto de Jesus no seu discurso escatológico não descrever as realidades futuras com as suas próprias palavras, antes, recorreu a palavras usadas pelos profetas que o precederam, dando uma nova interpretação às mesmas.
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