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A Religião

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Por:   •  19/9/2013  •  6.355 Palavras (26 Páginas)  •  243 Visualizações

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A RELIGIÃO COMO FENÔMENO ANTROPOLÓGICO.

Elementos constitutivos do fenômeno religioso

Prof. Dr. Salustiano Alvarez Gómez PUC-MG

Introdução

Mesmo que algumas tendências da sociologia chegassem a decretar o “fim da religião” é evidente a presença do religioso na sociedade atual. Manifesta-se historicamente como um fenômeno que faz parte da construção do cotidiano e da fundamentação e origem das culturas. A presença do religioso é inquestionável. Pode-se negar Deus, como de fato o negaram sistemas filosóficos, mas, olhando para a realidade, não se pode negar a presença da religião.

Neste trabalho pretendemos pensar o significado da Religião como atividade humana, elaborada e construída pelo próprio homem. Distanciamos-nos de uma visão teológica da religião, a pesar da impossibilidade de neutralidade. Não consideraremos a religião como prática de compromisso cristão, mas como fenômeno social que pode ser estudado objetivamente como ciência.

1- A RELIGIÃO COMO FENÔMENO. Categorias de interpretação.

Começamos nossa abordagem considerando alguns aspectos constitutivos que se fazem presentes no fenômeno religioso e na origem da religião, tais como o sagrado e o profano, as festas, a fé e a crença, o mito e a sua relação com o rito e a experiência da realidade simbólica.

1.1.- A morte como mistério e a religião como resposta:

Queremos reafirmar como ponto de partida, a experiência a tomada de consciência da realidade em que o homem vive. Dentro dessa consciência, o homem como veremos mais adiante ao tratar da “realidade simbólica”, não se conforma com um mero “estar” no mundo, mas preocupa-se também com dominar e melhorar o seu entorno. A ação humana é um exercício de interpretação, através da qual dá sentido às coisas existentes ao seu redor.

Esta ação interpretativa tem a sua origem na imaginação. O ser humano é um ser que imagina. Da imaginação surgem atividades capazes de transformar a realidade física e dar à mesma um sentido mais vivencial. A partir da imaginação uma pedra deixa de ser pedra para se transformar, com a técnica, num machado, que, a sua vez, pode ser imaginado capaz de cortar árvores, que por sua vez podem ser utilizadas para construir canoas, casas, represas, arcos e flechas e tantos outros úteis para os grupos humanos. A imaginação se desenvolve constantemente em busca de novas realidades, partindo daquelas que já existem.

O que a imaginação faz é perguntar. O ser humano é um ser de perguntas constantes. Quer saber o porquê da tempestade, do rio, da montanha, da relação humana, do nascimento, em fim, de tudo que acontece ao seu redor.

Ao mesmo tempo em que o homem formula perguntas, também elabora as suas respostas. O ser humano é um ser que pergunta e responde. Algumas de suas respostas terão um caráter quantitativo, mecânico ou matemático. São as respostas que surgem do evidente, que não permitem dúvidas e podem ser registradas através da repetição e da medida sem experimentar resultados diferentes. A esse tipo de respostas podemos chamar de Ciências, permitindo deduzir leis físicas.

Outras perguntas não permitem respostas claras e de absoluta certeza. Querer explicar a origem da vida e do mundo, os conflitos nas relações humanas, as reações imprevisíveis do caráter, ..., encontramos-nos ante a impossibilidade de uma resposta mecânica e mensurável, perguntas que exigem respostas imaginativas e intuitivas em lugar de matemáticas. Aparecem, então os mitos e as mitologias, como respostas com caráter “irracional e ilógico”, ante a impossibilidade de não ater-se á razão lógica, la razón de la sin-razón que a mi razón se hace, recordando as sempre sábias lições de Dom Quixote, e que obedecem a “outras lógicas”. Mais do que uma resposta sem lógica ou sem racionalidade, na realidade o que queremos afirmar é que algumas questões obedecem a “outras lógicas” que não são mecanicamente quantificáveis.

Entre as perguntas de difícil resposta encontra-se a experiência da morte. A morte é o acontecimento mais enigmático do ser humano, e, como toda experiência, provoca a imaginação, pois o ser humano não se conforma em ficar sem resposta. Por ser enigmática a morte tem que ser imaginativa e criativa, pois de modo algum trata de evidencias futuras. A pós-morte é indecifrável. A resposta ao enigma da morte vem marcada pelo mistério que, ao invés de coibir ou amedrontar o ser humano, faz-lhe refletir e pensar.

A resposta antropológica ao mistério da morte elabora dois sentidos complementares que entram no conceito de RELIGIÃO. O primeiro pode ser definido a partir do conceito latino RELIGARE, unir ou ligar. A pergunta sobre a morte elabora uma resposta baseada na crença da existência de um mundo posterior e continuo do “aqui e agora”, a realidade do além. A morte não tem o poder de acabar com a relação e a convivência humana. Os mortos continuam fazendo parte da “mesma vida”, porem já em uma realidade diferente e desconhecida. A reflexão do mistério da morte torna possível a resposta que interpreta a morte como continuação da vida, permitindo unir ou ligar (religar), o conhecido e o desconhecido, o passado e o futuro, o limitado e o ilimitado, o temporal e o eterno, o imanente e o transcendente, o temporal e o eterno.

Esta relação de continuidade é tão forte e importante para a vida e as relações humanas que o fato de religar-se provoca o compromisso entre a realidade conhecida e a desconhecida, interpretada como superior. É uma realidade que exige uma releitura, RELEGERE, reler, repensar a vida desde a morte, ou seja, a morte dá um sentido tão forte e vivo, que provoca a releitura da mesma vida. Em outras palavras, a forma de entender a realidade da morte é o que dita as orientações para o comportamento da vida, até o ponto de produzir códigos de conduta, valores éticos e regras normativas. De fato, os mais antigos códices, como podem ser o Livro dos Mortos, o Código de Hamurabi ou o Decálogo bíblico, são frutos da experiência religiosa.

A morte impõe uma atitude diante da vida. Desde esse parâmetro, já podemos elaborar uma definição de Religião: criação simbólica interpretativa dos grupos humanos em relação ao misterioso da vida do além, mas com implicações na realidade terrena e conhecida. O mistério é capaz de assustar e amedrontar, mas também permite animar e dar sentido pleno à vida do grupo humano.

Esta realidade que surge do misterioso

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