Alinr
Trabalho Universitário: Alinr. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 1/3/2015 • 960 Palavras (4 Páginas) • 186 Visualizações
RESUMO: A classe trabalhadora no século XXI, em plena era da globalização,
é mais fragmentada, mais heterogênea e ainda mais diversificada.
Pode-se constatar, neste processo, uma perda significativa de direitos e de
sentidos, em sintonia com o caráter destrutivo do capital vigente. O sistema
de metabolismo, sob controle do capital, tornou o trabalho ainda mais
precarizado, por meio das formas de subempregado, desempregado, intensificando
os níveis de exploração para aqueles que trabalham. Esse processo
é bastante distinto, entretanto, das teses que propugnam o fim do trabalho.
Este texto explora alguns dos significados e das dimensões das mudanças
que vêm ocorrendo no mundo do trabalho.
Palavras-chave: Metamorfoses do trabalho. Sociedade do trabalho.
Trabalho e globalização.
CHANGES IN THE WORLD OF WORK IN THE GLOBALIZATION OF CAPITAL ERA
ABSTRACT: In the XXIth Century, the age of globalization, the working
class is more and more fragmented, heterogeneous and diversified. They
lost most of their rights, their work lacks meaning, which is in accordance
with the destructive character of the capital. The metabolic relations under
the control of capital make work and labor even more precarious, unemploying,
de-employing and under-employing, not to mention the intensification
of the levels of exploitation. Thus, we cannot agree with the
thesis of the end of labor. This text explores some of the meanings and dimensions
of the changes that are taking place in the world of work.
Key words: Work Metamorphosis. Society of Work. Work and Globalization.
* Professor titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual
de Campinas (IFCH/UNICAMP). E-mail: rantunes@unicamp.br
** Professor-doutor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP),
câmpus de Marília (SP). E-mail: giovanni.alves@uol.com.br
336 Educ. Soc., Campinas, vol. 25, n. 87, p. 335-351, maio/ago. 2004
Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>
As mutações no mundo do trabalho na era da mundialização do capital
objetivo deste texto é analisar as principais mutações na objetividade
e subjetividade do mundo do trabalho, visando a oferecer
uma leitura alternativa e diferenciada com relação às teses que
defendem a idéia do esgotamento ou mesmo do fim do trabalho (e da
classe trabalhadora). Num segundo momento, buscaremos apreender
as principais determinações concretas da crise e das metamorfoses do
mundo do trabalho no contexto da mundialização do capital.
Enquanto se amplia significativamente, em escala mundial, o
conjunto de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de
trabalho, tantos autores têm dado adeus ao proletariado, têm defendido
a idéia do descentramento da categoria “trabalho”, da perda de
relevância do trabalho como elemento estruturante da sociedade. Seguiremos
um caminho alternativo e contrário a estas teses, mostrando
como há um processo heterogêneo e complexo, quando se analisa
a forma de ser da classe trabalhadora hoje.
1. As mutações no mundo do trabalho: heterogeneidade, fragmentação
e complexificação
Nossa tese central é a de que, se a classe trabalhadora não é idêntica
àquela existente em meados do século passado, ela também não está em
vias de desaparição, nem ontologicamente perdeu seu sentido estruturante.
Vamos, portanto, procurar compreendê-la, em sua conformação atual.
Devemos indicar, desde logo, que a classe trabalhadora hoje
compreende a totalidade dos assalariados, homens e mulheres que vivem
da venda da sua força de trabalho – a classe-que-vive-do-trabalho,
conforme nossa denominação (Antunes, 1995 e 1999) – e que
são despossuídos dos meios de produção. Mas ela vem presenciando
um processo multiforme, cujas principais tendências indicaremos a
seguir. Vamos enumerá-las:
1) Com a retração do binômio taylorismo/fordismo, vem ocorrendo
uma redução do proletariado industrial, fabril, tradicional, manual,
estável e especializado, herdeiro da era da indústria verticalizada de tipo
taylorista e fordista. Esse proletariado vem diminuindo com a reestruturação
produtiva do capital, dando lugar a formas mais desregulamentadas
de trabalho, reduzindo fortemente o conjunto de trabalhadores estáveis
que se estruturavam por meio de empregos formais.
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Ricardo Antunes & Giovanni Alves
Com o desenvolvimento da lean production e das formas de
horizontalização do capital produtivo, bem como das modalidades de
flexibilização e desconcentração do espaço físico produtivo, da introdução
da máquina informatizada, como a “telemática” (que permite relações
diretas entre empresas muito distantes), tem sido possível constatar
uma redução do proletariado estável, herdeiro da fase taylorista/
fordista.
2) Há, entretanto, contrariamente à tendência anteriormente
apontada, outra muito significativa e que se caracteriza pelo aumento
do novo proletariado fabril e de serviços, em escala mundial, presente
nas diversas modalidades de trabalho precarizado. São os terceirizados,
subcontratados, part-time, entre tantas outras formas assemelhadas, que
se expandem em escala global.
Anteriormente, estes postos de trabalho eram prioritariamente preenchidos
pelos imigrantes, como os gastarbeiters na Alemanha, o lavoro
nero na Itália, os chicanos nos EUA, os dekasseguis no Japão, entre tantos
outros exemplos. Mas, hoje, sua expansão atinge também os trabalhadores
remanescentes da era da especialização taylorista/fordista, cujas atividades
vêm desaparecendo cada vez mais. Com a desestruturação crescente
do Welfare State nos países do Norte e com a ampliação do desemprego
estrutural, os capitais transnacionais implementam alternativas de trabalho
crescentemente desregulamentadas, “informais”, de que são exemplo
as distintas formas de terceirização.
Esta processualidade atinge, também, ainda que de modo diferenciado,
os países subordinados de industrialização intermediária, como
Brasil, México, Argentina, entre tantos outros da América Latina que, depois
de uma enorme expansão de seu proletariado industrial nas décadas
passadas, passaram a presenciar significativos processos de desindustrialização,
tendo como resultante a expansão do trabalho precarizado, parcial,
temporário, terceirizado, informalizado etc., além de enormes níveis
de desemprego, de trabalhadores(as) desempregados(as).
3) Há uma outra tendência de enorme significado no mundo do
trabalho contemporâneo: trata-se do aumento significativo do trabalho
feminino, que atinge mais de 40% da força de trabalho em diversos países
avançados, e que tem sido absorvido pelo capital, preferencialmente
no universo do trabalho part-time, precarizado e desregulamentado.
No Reino Unido, por exemplo, desde 1998 o contingente feminino
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As mutações no mundo do trabalho na era da mundialização do capital
tornou-se superior ao masculino, na composição da força de trabalho
britânica.
Esta expansão do trabalho feminino tem, entretanto, um movimento
inverso quando se trata da temática salarial, na qual os níveis
de remuneração das mulheres são em média inferiores àqueles recebidos
pelos trabalhadores, o mesmo ocorrendo com relação aos direitos
sociais e do trabalho, que também são desiguais.
Muitos estudo têm apontado que, na nova divisão sexual do trabalho,
as atividades de concepção ou aquelas de capital intensivo são
realizadas predominantemente pelos homens, ao
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