O que é religião
Por: paulo747 • 16/5/2016 • Trabalho acadêmico • 3.307 Palavras (14 Páginas) • 386 Visualizações
No livro “O que é religião” Rubem Alves, dividido em nove capitulos o autor faz uma análise do que é religião, seus fenômenos, a cultura religiosa e como ela foi perdendo seu espaço e quando se pensava que ela estava morta, resurge com força.
Perspectivas
Rubem Alves já começa apontando para o fato que no passado os homens eram educados e tudo girava em torno da religião, os que não criam eram raros, e tinham vergonha de apresentarem seus questionamentos e descrenças, e os que se ousavam declarar-se sem religião eram jogados na fogueira. A sociedade tudo enterpretava pela religião, a música, a filosofia, o bem o mal.
Mas com o avanço da ciência, da tecnologia, da industria, dos bancos, o mundo religioso foi sendo substituido, o sagrado foi se extinguindo, experiências religiosas, visões, milagres foram perdendo espaço na vida cotidiana, mas o autor também mostra que quando a dor, o luto, a doença bate na porta dos individuos, muitos voltam-se para os curadores, os benzedores, os sacerdotes, os profetas que estes rezam suplicam sem nem ao menos, sem nem ao menos saberem a quem. São nessas situações que Rubem aponta o fenômeno religioso e seu estudo como um espelho em que nos vemos.
Os Símbolos da Ausência
Neste capítulo o autor faz uma comparação do mundo animal e do mundo humano. Partindo primeiro do mundo animal, ele mostra como através dos anos a adaptação física fez-se necessário, dentes, garras, cascos, venenos, odores, que os animais tiveram que aguçar seus sentidos, misturar-se ao ambiente, e que todo esse processo é o mesmo até o dia de hoje, o que os passáros cantavam a milhares de anos, ainda hoje cantam, as colmeias são feitas da mesma maneira pelas abelhas, dos moluscos. Ele traz a ideia de um ciclo biológico completo, fechado e perfeito.
No mundo dos homens o autor mostra que cada um seguirá seu própio caminho, gostos, talentos, visão do mundo, inspiração, imaginações, que alguns cometeram suicídio, outros serão capazes de se entregarem a morte por um ideal, serão revolucionários, outros renunciarão a vontade, o prazer, e que outros se entregarão a toda sorte de vícios.
Enquanto no mundo animal, eles simplesmente seguem o ciclo da vida, no mundo humano a criança tem que ser educada, conseguimos isso quando fazemos gestos, contamos histórias.
Rubem Alves aborda o abandono do pronto, vindo da natureza. Para o que ele chama de cultura: homens fazem jardins, pintam quadros, constroem altares, para estes atos e outros eles confessam que não tem respostas, para esse esforço humano de mudanças que ele chama de “mistério antropológico”. Partindo da psicanálise o autor deduz que “o homem faz cultura a fim de criar os objetos do seu desejo”. E que estes quando não se realizam tornam-se em símbolos, e estes simbolos são como os horizontes.”Quanto mais deles nos aproximamos, mais fogem de nos. E, no entanto, cercam-nos atrás, pelos lados, à frente.” E que estes são como referêcias no nosso caminhar. Segundo Rubem é dentro desta perspectiva que surge a religião, que para ele é uma teia de símbolos, de horizontes. Alves também comenta como objetos Inertes, como pedras, plantas e gestos insignificantes tornam-se sagrados, através do que ele chama de batismo. Que coisas e gestos “passam a ser os sinais visíveis desta teia invisível, designificações, que vem a existir pelo poder humano de dar nomes as coisas, atribuindo-lhes um valor”. Que este valor faz-nos estremecer quando focamos estes “objetos sagrados”.
Segundo o autor nistor (no estremecer) e que está a marca emocional/existencial da experiência do sagrado. Acontece uma transformação processada. Agora a linguagem está além dos sentidos, só através dos olhos da fé podem ser compreendidos, é “um terceiro olho que se abre para ver coisas que os outros dois não podem ver”.
Rubem comenta que a religião é construida por símbolos, que vão se multiplicando e transformando-se em profanos e sagrados, que estes símbolos religiosos são na verdade entidades imaginárias. Claro que ao fazer tais afirmações ele logo explica que a religião não é apenas imaginação, apenas fantasia, mas do poder e do amor que o imaginário tem. Que os homens não vivem só de pão, vivem também dos símbolos.
O Exílio do Sagrado
Neste capítulo Rubem mostra como os símbolos de tanto serem repetidos e compartilhados, de tanto serem usados, nos os ratificamos, passamos a tratá-los como se fossem coisas , estes sofreram uma metamorfose, deixaram de ser imaginários e passaram a ser tratados como verdades. Os Símbolos vitoriosos passam a ser chamados de verdades e os derrotados de heresias, Alves também também aborda o processo histórico da nossa civilização, partindo de duas vertentes: De um lado os hebreus e os cristãos, e do outro lado as tradições culturais grego-romanas. Que foi na junção dessas vertentes que segundo ele se amalgamaram, surgiu o período da nossa hístoria chamada de idade média. É nessa época que os símbolos do sagrado ganham proporções, densidades, onipresença a ponto de o mundo invisível ser mais sentido, que o mundo das coisas materias. Tudo girava em torno do sagrado, a arte, o destino, a eternidade, a vida. A eterna luta do bem e do mal, onde os que temiam a Deus eram protegidos por seus anjos, já as pestes, doenças, desgraças eram o castigo para os ateus e pecadores. Agora tudo girava em torno da salvação, do perigo e do inferno.
Mas aos poucos e constantemente os homens começaram a fazer coisas não previstas no “receituário religioso”. Estes homens segundo o autor não estavam no topo da hierarquia sagrada nem os condenados aos subterrâneos, são os da nova classe, os que descobrem através do trabalho, o lucro, a riqueza da atitude passiva, receptiva, agora inauguram uma nova atitude de manipular, agressiva, ativa. Se apropriam da natureza, dos campos, levando-os as fábricas e destas aos mercados. São os burgueses, que a cada dia dão menos importância ao universo religioso e cada vez mais ao lucro. Onde só existe lugar para o que é matéria, deixando de lado os símbolos do sagrado. Tudo passa pela lógica, pela razão, o mundo deixa de ser o encantado mundo religioso, dos mistérios para o da prática humana, do trabalho que leva ao lucro e este a riqueza, a natureza perde sua aura sagrada e passa a ser fonde de matéria prima, fonte de lucro.
Aqui, Alves aborda a origem do conflito e da pergunta:”o que é religião?” aparecem os conflitos da igreja e do poder econômico. A argumentação é a mesma. Que a religião cuide das realidades espirituais, que das coisas materiais a espada e o dinheiro se encarregam.
A religião representa o passado, a tradição que está sendo derrotada. O mundo burguês conquista uma aliada, é a ciência, antes restrida a religião, agora vê no mundo burguês uma maneira lógica de adaptação: conhecer é saber o funcionamento, que tem o segredo da manipulação e controle, abrindo o caminho para técnica, fazendo a ligação entre a universidade e a fábrica, a fábrica e o lucro. O sucesso da ciência foi total. A religião passa a ser vista como objeto do passado, seus discursos são classificados como engodos, imaginações. Rubem aponta que foi assim que a religião foi tornando-se como passado, atraso, período negro da história, idade das trevas. Rubem cita Rickert “com o triunfo da burguesia Deus passou a ter problemas habitacionais crônicos. Despejado de um lugar, despejado de outro...” foi sendo empurrado para fora do mundo.
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