A síncope Nas Proparoxítonas No Português Falado Em Cametá NE Paraense
Trabalho Universitário: A síncope Nas Proparoxítonas No Português Falado Em Cametá NE Paraense. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: contadorhp04vesp • 30/9/2013 • 4.180 Palavras (17 Páginas) • 366 Visualizações
INTRODUÇÃO
Este trabalho trata do fenômeno da síncope ou supressão da vogal postônica não-final das proparoxítonas, uma regra que se originou no latim vulgar, atravessou as diferentes fases do Português e difundiu-se em todo o país na fala popular.
O fenômeno da síncope foi observado na fala de 16 informantes da zona rural e urbana do Município de Cametá e analisado sob a perspectiva laboviana da teoria da variação.
A cidade de Cametá, nordeste paraense, é uma cidade considerada patrimônio histórico, fundada a 24 de dezembro de 1635, século XVII. Está situada na margem esquerda do Rio Tocantins, a 146 km, aproximadamente, em linha reta, da capital do estado, Belém. De acordo com o censo demográfico de 2000 (IBGE), a população total do município de Cametá é de 97.624 habitantes, sendo 40.417 residentes da zona urbana e 57.207 na zona rural.
Com uma população majoritariamente rural, o município apresenta um linguajar característico, junção de várias vozes que fazem do mesmo uma localidade rica em signos lingüísticos peculiares. Embora ocorram preconceitos, estes signos lingüísticos, são afluentes que deságuam num rio maior e comum: a Língua Portuguesa.
A maioria dos habitantes desse belo e cativante município, praticantes da linguagem local, não se preocupa com o modo peculiar do nosso falar, no que se refere ao menor ou maior grau de importância, do ponto de vista lingüístico. No entanto, observa-se que algumas pessoas, principalmente as que vivem na zona urbana de nosso município e algumas outras advindas de demais localidades, apresentam um descaso junto à fala daqueles que não seguem a norma culta padrão e, portanto, falam “errado” ou, como eu mesmo já ouvi, falam “engraçado” – uma forma óbvia de eufemismo que não deixa de ser preconceituoso e depreciativo. Isso é um absurdo! Enquanto algumas sociedades lutam para preservar suas culturas e raízes locais, a nossa sociedade discrimina os seus falantes e menospreza nossa cultura, lembrando, é claro, que a linguagem falada também é cultural.
Para uma sociedade preconceituosa, “falar o português corretamente” é sinônimo de prestígio, de ascensão social. O falar diferente é interpretado como “erro”, porque diverge da realidade culta, ignorando-se assim que a língua usada efetivamente pelos brasileiros, em sua totalidade, não é homogênea e compacta, mas repleta de variações, fruto do contato da língua com o meio. No dizer de Rodrigues (2005 s/p).
A historicidade desse município é marcante no estado do Pará: a sua linguagem assume formas identificadoras dos habitantes desse lugar, não sendo cabível a alcunha de erros, haja vista que são marcas lingüísticas de homens e mulheres que merecem todo respeito.
Sabendo-se que a língua funciona como um elemento de interação entre os indivíduos e a sociedade em que atuam e acreditando no poder que cabe à sociolingüística e nas possíveis origens e causas dessas variantes regionais e suas implicações sócio-educacionais, este trabalho desenvolve um estudo do fenômeno da síncope utilizando-se de uma análise quantitativa apoiada no pacote de programas VARBRUL e objetiva descrever o fenômeno da síncope no município de Cametá, procurando contribuir para que se desfaça a carga de preconceito que o fenômeno carrega consigo, deixando claro que, como qualquer fenômeno lingüístico, a síncope pode constituir mais uma marca lingüística de nossa população , embora com pequena probabilidade de ocorrência, e não pode, de maneira alguma, ser usada como mecanismo de depreciação e preconceito; como já dissemos isso acaba estigmatizando socialmente os falantes que utilizam dessa linguagem para comunicar-se com seus amigos e familiares, realizar compras e vendas, cantarolar seus sonhos e vivências; enfim, utilizam-na para viver.
Esse trabalho busca, por fim, e de forma geral, proceder a uma investigação sobre o fenômeno da síncope da vogal postônica não-final das proparoxítonas no português falado em Cametá, relacionado à variação lingüística e às variações diastráticas, numa tentativa de ajudar na implementação de tecnologia educacional que contribua com a melhora da auto-estima lingüística do homem tocantino, bem como para o desenvolvimento de novas tecnologias educacionais que retratem essas diversidades lingüísticas em sala de aula, encarando-as não como um problema, mas como uma qualidade constitutiva do fenômeno lingüístico. No dizer de Gadet (1971, p. 9, apud Rodrigues, 2005, s/p):
Como a sociolingüística estuda as relações entre as variações lingüísticas e as variações sociolingüísticas devem tentar mostrar-se que a variação da linguagem de um falante para outro está determinada e, em caso positivo, como e porque fator.
Inicialmente a motivação para o desenvolvimento deste trabalho surgiu advinda de um sentimento de amor por Cametá - minha terra natal, da qual estive ausente por longos anos e que me acolheu de forma muito carinhosa em meu retorno - e que não me deixa admitir situações de preconceito com este povo tão querido e hospitaleiro, que luta e sobrevive nesta cativante cidade e nunca deixa de doar um sorriso, apesar da vida sofrida que leva. Meu objetivo inicial desta forma era mostrar que os fenômenos lingüísticos do falar cametaense, em especial o da síncope, devem ser motivos de orgulho, um símbolo de nossa cultura, e não motivo de escárnio e preconceito. Posteriormente percebi que este estudo também poderia ajudar na implementação de tecnologias educacionais e, assim, melhorar a auto-estima lingüística da população tocantinense, bem como levar essas diversidades lingüísticas para a sala de aula, encarando-as como qualidades do fenômeno lingüístico regional.
Inicialmente, a hipótese levantada, ligada aos fatores extralingüísticos, era de que a zona de origem e a faixa etária seriam os principais fatores que determinariam a supressão ou não da vogal postônica – a síncope nas proparoxítonas. Ao se analisar a fala de alguns informantes sendo zona urbana e rural respectivamente, como, por exemplo, o informante J.N. R (zona urbana) que apresentou duas situações de síncope em sua fala e da informante M.R (zona urbana) que também demonstrou uso de supressão da vogal postônica não-final. Em contraposição, as informantes T.S e B.M.C, ambas da zona rural, não apresentaram nenhuma ocorrência de síncope em suas falas. Concluímos, então, que a zona de origem e a faixa etária estão intimamente ligadas a outro fator determinante na ocorrência do fenômeno da síncope: a escolaridade. Estamos cientes de que a escolaridade apresenta um papel relevante no comportamento lingüístico
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