O Pão de Ontem
Por: Guilherme Lemos • 17/3/2021 • Dissertação • 519 Palavras (3 Páginas) • 179 Visualizações
Pão de Ontem
Provavelmente você nunca viu uma padaria vendendo pão de “ontem”. Até onde eu me lembro, existiam poucos destinos para aqueles pães que não eram vendidos na padaria ou não eram consumidos em casa: farinha de rosca, torrada, a velha lata de lixo ou doar para alguém necessitado.
Inclusive, arrepio igual gato quando lembro da expressão (que vejo cada vez menos ser usada, graças a Deus) quando um parente ou amigo querido tocam a campainha e a pessoa lá de dentro grita enquanto vai abrir a porta com um sorriso no rosto e os braços abertos: “Aqui não tem pão velho não!”. Isso diz muito sobre como tratamos as pessoas e o nosso pão de ontem.
Tudo bem que vivemos os melhores e os piores tempos: temos incríveis avanços da tecnologia e da medicina à disposição, mas ainda não entendemos como rouba-se e mata-se tanto, sei lá. Mas com certeza já se falava isso em 2000, em 1980, até em 1945 e em 1914, talvez muito antes.
Tudo bem o que? Acho que toda frase que começa com “Tudo bem que...”, ou “Sem querer criticar, mas...” e até “Quem sou eu pra falar algo, mas...” são tão ruins quanto “Precisamos conversar” e “Não tenho nada contra, inclusive tenho amigos que são...” e precedem toda cagação de regra e enxurrada de bosta verbalizada que um ser humano possa expelir, e espero que o que vem a seguir seja nada mais, nada menos do que isso. Sem querer descer muito ao nível escatológico da coisa, mas todo mundo defeca pela boca, talvez faça parte da natureza e da fisiologia humana, não sei. Em que ano estudam isso nas faculdades?
O ponto é, no momento em que estão gourmetizando tudo o mais, outro dia fui à padaria (ou abri o app da padaria online, não lembro) e estava lá escancarado: PÃO DE ONTEM.
É claro, não se tratava de um mero pão francês murcho, duro e com pontos de bolor, era um belo pão italiano, artesanal, feito com fermentação natural e com 48h de descanso (qualquer dessas características é melhor que qualquer uma das minhas), que foi feito artesanalmente no dia anterior, mas não foi vendido, e então ele está à venda hoje por um terço do valor do pão de hoje. Além disso, havia a explicação de que o pão dura até 7 dias em boas condições para o consumo, afinal, com tantos predicados, era o mínimo que poderíamos esperar de um pão de passou 48h relaxando.
Quem compraria pão de ontem? Sério, a pessoa que se propõe a ir a uma padaria onde vendem-se pães de fermentação natural, vai comprar pão de ontem? Respeito né?
Eu comprei, além de ter ficado curioso, adoro pão italiano.
E para piorar a situação: não sei se a pessoa que me atendeu errou o pedido, ou é a política da empresa para a venda de pães de ontem, mas quando cheguei em casa (ou a encomenda chegou, enfim) havia 2 pães na embalagem (pão assim não vem no saco pardo, não), até conferi a notinha e havia apenas 1 unidade por ali. Quer mais? Estava muito bom, adoro pão de o
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