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Questões Comentadas ENEM - Português

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Por:   •  19/11/2014  •  2.486 Palavras (10 Páginas)  •  594 Visualizações

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Miguilim

“De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de óculos, corado, alto, com um chapéu diferente, mesmo.

- Deus te abençoe, pequenino. Como é teu nome?

- Miguilim. Eu sou irmão do Dito.

- E o seu irmão Dito é o dono daqui?

- Não, meu senhor. O Ditinho está em glória.

O homem esbarrava o avanço do cavalo, que era zelado, manteúdo, formoso como nenhum outro. Redizia:

- Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda... Mas que é que há,Miguilim?

Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso é que o encarava.

- Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua casa?

- É Mãe, e os meninos...

Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos. O senhor alto e claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era um camarada. O senhor perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: - Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?.

ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

Esta história, com narrador observador em terceira pessoa, apresenta os acontecimentos da perspectiva de Miguilim. O fato de o ponto de vista do narrador ter Miguilim como referência, inclusive espacial, fica explicitado em:

(A) “O homem trouxe o cavalo cá bem junto”

(B) “Ele era de óculos, corado, alto (...)”

(C) “O homem esbarrava o avanço do cavalo, (....”

(D) “Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, (...)”

(E) “Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos”

Comentário: A locução adverbial “cá bem junto” faz referência ao espaço próximo de Miguilim. O advérbio “cá” indica proximidade (no texto, o lugar de onde o enunciador emite o discurso). É perceptível que o narrador tem acesso ao mundo de Miguilim, o que caracteriza esse narrador como onisciente.

7Érico Veríssimo relata, em suas memórias, um episódio da adolescência que teve influência significativa em sua carreira de escritor.

“Lembro-me de que certa noite – eu teria uns quatorze anos, quando muito – encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam “carneado”. (...) Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode agüentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar esses talhos e salvar essa vida? (...)

Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a idéia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.”

VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I. Porto Alegre:

Editora Globo, 1978.

Neste texto, por meio da metáfora da lâmpada que ilumina a escuridão, Érico Veríssimo define como uma das funções do escritor e, por extensão, da literatura,

(A) criar a fantasia.

(B) permitir o sonho.

(C) denunciar o real.

(D) criar o belo.

(E) fugir da náusea.

Comentário: O locutor defende o engajamento da arte; a expressão do texto “o escritor pode... fazer luz sobre a realidade de seu mundo” equivale ao que afirma a alternativa C, pois a criação artística deve estar a serviço de uma causa social, denunciando, assim, as injustiças.

9“Narizinho correu os olhos pela assistência. Não podia haver nada mais curioso. Besourinhos de fraque e flores na lapela conversavam com baratinhas de mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas douradas, verdes e azuis, falavam mal das vespas de cintura fina – achando que era exagero usarem coletes tão apertados. Sardinhas aos centos criticavam os cuidados excessivos que as borboletas de toucados de gaze tinham com o pó das suas asas. Mamangavas de ferrões amarrados para não morderem. E canários cantando, e beija-flores beijando flores, e camarões camaronando, e caranguejos caranguejando, tudo que é pequenino e não morde, pequeninando e não mordendo.”

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Brasiliense, 1947.

No último período do trecho, há uma série de verbos no gerúndio que contribuem para caracterizar o ambiente fantástico descrito. Expressões como “camaronando”, “caranguejando” e “pequeninando e não mordendo” criam, principalmente, efeitos de

(A) esvaziamento de sentido.

(B) monotonia do ambiente.

(C) estaticidade dos animais.

(D) interrupção dos movimentos.

(E) dinamicidade do cenário.

Comentário: Uma vez que a forma nominal gerúndio indica uma ação contínua que esteve, está ou estará em andamento, podemos depreender que o seu uso do gerúndio nos fragmentos da questão sugere movimento à descrição e, por extensão, dinamicidade do cenário.

20 O autor da tira utilizou os princípios de composição de um conhecido movimento artístico para representar a necessidade deum mesmo observador aprender a considerar, simultaneamente, diferentes pontos de vista.

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