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Sentimento Do Mundo

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Por:   •  21/9/2014  •  1.112 Palavras (5 Páginas)  •  295 Visualizações

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Sentimento do Mundo

Tenho apenas duas mãos

e o sentimento do mundo,

mas estou cheio escravos,

minhas lembranças escorrem

e o corpo transige

na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu

estará morto e saqueado,

eu mesmo estarei morto,

morto meu desejo, morto

o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram

que havia uma guerra

e era necessário

trazer fogo e alimento.

Sinto-me disperso,

anterior a fronteiras,

humildemente vos peço

que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,

eu ficarei sozinho

desfiando a recordação

do sineiro, da viúva e do microcopista

que habitavam a barraca

e não foram encontrados

ao amanhecer

esse amanhecer

mais noite que a noite.

Confidência do Itabirano

Alguns anos vivi em Itabira.

Principalmente nasci em Itabira.

Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.

Noventa por cento de ferro nas calçadas.

Oitenta por cento de ferro nas almas.

E esse alheamento do que na vida é porosidade e

comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,

vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,

é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas que ora te ofereço:

este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;

este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;

este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.

Hoje sou funcionário público.

Itabira é apenas uma fotografia na parede.

Mas como dói!

Poema da Necessidade

É preciso casar João,

é preciso suportar Antônio,

é preciso odiar Melquíades

é preciso substituir nós todos.

É preciso salvar o país,

é preciso crer em Deus,

é preciso pagar as dívidas,

é preciso comprar um rádio,

é preciso esquecer fulana.

É preciso estudar volapuque,

é preciso estar sempre bêbado,

é preciso ler Baudelaire,

é preciso colher as flores

de que rezam velhos autores.

É preciso viver com os homens

é preciso não assassiná-los,

é preciso ter mãos pálidas

e anunciar O FIM DO MUNDO.

Canção da Moça fantasma de Belo Horizonte

Eu sou a Moça-Fantasma

que espera na Rua do Chumbo

o carro da madrugada.

Eu sou branca e longa e fria,

a minha carne é um suspiro

na madrugada da serra.

Eu sou a Moça-Fantasma. O meu nome era Maria,

Maria-Que-Morreu-Antes.

Sou a vossa namorada

que morreu de apendicite,

no desastre de automóvel

ou suicidou-se na praia

e seus cabelos ficaram

longos na vossa lembrança.

Eu nunca fui deste mundo:

Se beijava, minha boca

dizia de outros planetas

em que os amantes se queimam

num fogo casto e se tornam

estrelas, sem irônia.

Morri sem ter tido tempo

de ser vossa, como as outras.

Não me conformo com isso,

e quando as polícias dormem

em mim e foi-a de mim,

meu espectro itinerante

desce a Serra do Curral,

vai olhando as casas novas,

ronda as hortas amorosas

(Rua Cláudio Manuel da Costa),

pára no Abrigo Ceará,

nao há abrigo. Um perfume

que não conheço me invade:

é o cheiro do vosso sono

quente,

...

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