ADICÇÃO DE INTERNET: QUANDO A DIVERSÃO SE TORNA UM VÍCIO
Por: Dayana Boechat De Marins • 15/8/2021 • Trabalho acadêmico • 2.343 Palavras (10 Páginas) • 102 Visualizações
ADICÇÃO DE INTERNET: QUANDO A DIVERSÃO SE TORNA UM VÍCIO
Autoras: Dayana Boechat de Marins[1] e Paula Lessa Muniz[2]
Introdução
A internet nos trouxe grandes benefícios, uma vez que mudou o acesso ao fluxo de informações, que não é mais exclusivo dos meios de comunicação tradicionais, viabilizando ao usuário o contato com informações espalhadas ao redor do mundo de maneira rápida. Além disso, trouxe grandes revoluções no mercado, ao passo que diminuiu fronteiras e permitiu o acesso e troca de informações de e para qualquer parte do planeta. Porém, ao mesmo tempo que trouxe benefícios, expôs potenciais perigos que merecem uma atenção mais cuidada. Assim, justifica-se este trabalho devido a ascensão deste modo de vida, utilizando a tecnologia como mediadora de relações e construtora de suas estruturas de vida e meios de lidar com ela.
O estudo em questão teve como objetivo aprofunda-se e refletir acerca dos fenômenos que emergem com o uso da internet, tendo como consequência a dependência dela. Para tal, foi utilizada consulta bibliográfica em livros, teses, dissertações e artigos de jornais, revistas e sites que tinham relação com o tema proposto.
Desenvolvimento
O sociólogo Manuel Castells (2000) foi, talvez, um dos principais autores contemporâneos de destaque na pesquisa sobre os acontecimentos atuais decorrentes da difusão das tecnologias da informação e na busca das semelhanças e diferenças nos acontecimentos atuais e a descoberta de fontes de energia inanimada nos séculos XVIII e XIX. Castells (2000) procura identificar os fatores que transformaram o tecido social, a partir do desenvolvimento de uma nova tecnologia. Para isso o autor debruçou-se sobre os efeitos de duas Revoluções Industriais: a desencadeada no final do século XVIII pela descoberta da energia a vapor e aquela gerada, na segunda metade do século XIX, pela invenção da energia elétrica. Dessa forma foi possível perceber que algumas tecnologias tiveram impactos bem mais profundos sobre os seres humanos que a ela são expostos, chegando a alterar hábitos e formas de agir. Assim, Castells buscou registrar como as tecnologias também podem alterar radicalmente os modos de ser, como suas formas de pensar, relacionar com os outros e consigo mesmo, sentimentos, percepção e organização do mundo externo e interno, etc.
Já com o advento do smartphone as interações com outras pessoas de qualquer parte do mundo tornaram-se ainda mais rápidas, uma vez que o objeto que promove a conexão está ao alcance das mãos o tempo todo e, o que parece ser um universo paralelo, é acessado diária e constantemente por qualquer um que possua um aparelho conectado à rede. De forma que permitiu a crianças e adolescentes, nativos dessa tecnologia, a utilizam de maneira natural e fácil, além de recursos que eram impossíveis até décadas atrás: enviar imagens, sons, vídeos, programas e aplicativos para seus amigos com um simples toque na tela. A comunicação encontra-se no poder do “toque” de cada um, liquefazendo a modernidade emergente.
No que tange a modernidade líquida e impermanente, Zygmunt Bauman (2001) foi o autor de destaque com seus trabalhos e reflexões sobre os avanços da sociedade, levando em consideração a forma como estamos inseridos nela e como suas mudanças nos afetam. Segundo o autor, com novos contextos políticos, não há um referencial moral, um lado a seguir (a exemplo da época em que o mundo encontrava-se dividido entre blocos capitalista e comunista). Des forma que estão todos jogados à responsabilidade e risco de seguirem e construírem suas vidas sem um porto seguro. Consequentemente a relação social, pautada em uma responsabilidade mútua entre as partes que se relacionam, foi trocada por um outro tipo de relação que o Bauman (2004) chama de “conexão”, onde não há pressão para estabelecer responsabilidade mútua entre seus participantes. Assim o relacionamento se torna frágil, uma ligação superficial, e todos podem, sem o menor remorso, trocar seus parceiros por outros melhores.
Desta forma, a maior utilidade do termo “conexão” foi evidenciar a facilidade de se desconectar (Bauman, 2004). Por consequência, quando a qualidade das relações diminui vertiginosamente, a tendência será de tentar recompensá-la com uma quantidade absurda de parceiros. Tomamos como exemplo a quantidade de amigos que as pessoas costumam ter em redes sociais. São números que ultrapassam 300, 500 amigos, algo que possivelmente irreal para uma convivência cotidiana de qualidade. Antes era necessário um certo tempo para que fosse construída a confiança de qualquer tipo de relação afetiva, mas atualmente temos acesso à aplicativos que nos possibilitam encontrar pessoas que estão passando na rua e nos relacionarmos com ela, sem que necessariamente façam parte do restante da nossa vida.
Silva (2016), em seu trabalho, nos mostra que as redes sociais mais populares – Facebook, Instagram e Twitter – foram grandes evoluções de diferentes ferramentas de comunicação de diferentes plataformas de mídias. Essa grande popularidade se dá através de seus usuários que estabelecem uma interlocução em tempo real através do chat, comentários em “posts”, fotos e vídeos, podendo participar de discussões sobre o que é postado, gerando ainda mais a aproximação entre os sujeitos, que marcam encontros de aniversários ou quaisquer outros tipos de comemorações (eventos). Outro aplicativo de grande popularidade é o Whatsapp, criado em 2009, que consiste em um sistema de mensagens de texto gratuito, parecido ao SMS, fácil de usar e que funciona com base nos números da agenda do telefone de cada usuário. Este aplicativo é de grande popularidade pois permite que o usuário possa trocar mensagens com qualquer pessoa do globo terrestre em poucos segundos, aproximando amigos, famílias e amores, mesmo que estejam a muitos quilômetros de distância. Em virtude dessas ferramentas de rede social, o mundo virtual a passou a ser de construí-lo à maneira que se quer, potencializando a fabulação onde situações felizes são comumente exacerbadas. Fala-se de uma situação feliz, mesmo sem ela tenha acontecido de fato, enquanto as negativas são, em grande parte, uma busca por atenção e curtidas.
Em função deste mundo utópico e rodeado de amigos que a internet possibilitou acesso, houve um aumento da ansiedade na população em geral, uma vez que há um bombardeamento de informações diariamente e melhor recompensação no mundo virtual do que no real (King et al. 2014) (Young et al 2011). O mundo Off-line, no entanto, nos obriga a lidar com as frustrações, diferenças de pontos de vista e ideologias que regem a vida das pessoas, enquanto no virtual tudo isso pode ser facilmente driblado. Nele há a possibilidade de ater-se em uma rede de amigos que pensam e agem como você ou de simplesmente criar uma identidade que difira da sua na realidade. Devido a ascensão do modo de vida que se utiliza da tecnologia como mediadora de relações e construtora de suas estruturas de vida e meios de lidar com ela, é importante refletir acerca dos fenômenos que emergem com o uso da internet, tendo como consequência a adicção, a chamada Nomofobia.
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