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Análise do Desenho Cinderela

Por:   •  27/10/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.588 Palavras (7 Páginas)  •  226 Visualizações

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  • Contextualização do filme “Cinderela” de Charles Perrault

A história mostra que, após a morte da mãe, o pai de Cinderela decidiu se casar novamente. Com o falecimento do pai, a menina, então, continuou a morar com sua madrasta, Lady Tremaine e suas duas meias-irmãs, Anastacia e Drizela. Elas maltratavam Cinderela fazendo com que ela limpe, costure e cozinhe durante todo o dia. Sua madrasta, uma pessoa que demonstrava grande frieza e inveja da beleza de sua enteada, descontava na menina a enchendo de tarefas adicionais. Apesar de tudo isso, Cinderela era uma menina doce e se esforçava para fazê-las.

O rei, querendo que seu filho se casasse, promove então um baile para que todas as moças do reino fossem apresentadas ao príncipe. Cinderela, assim como as outras, animou-se para ir ao baile. Fez todas as tarefas impostas pela madrasta e os animais a ajudaram a transformar seu vestido para adequá-lo ao baile. Quando já pronta, suas irmãs destroem seu vestido.

Ao ter o seu vestido de baile destruído por Anastacia e Drizela, Cinderela pensou que seu sonho de ir ao baile tinha chegado ao fim. Chorando no jardim, sem menos esperar é surpreendida pela chegada de uma fada madrinha que, com sua varinha, transformou uma abóbora em uma carruagem, além de vestir Cinderela com um belíssimo vestido e um sapato de cristal. Isso proporcionou a ida da menina ao baile.

Ao chegar ao baile, o príncipe logo se encanta por ela e passam a noite toda dançando, Cinderela, no entanto, não sabia que dançava com o príncipe. Ao soar meia noite, Cinderela se despede correndo pois logo o encanto feito pela fada madrinha acabaria, mas acaba perdendo seu sapatinho de cristal na escada.

O sapatinho era o único meio do príncipe descobrir quem era a moça com quem tinha passado a noite inteira e se apaixonado. Foi ordenado, assim, que todas as moças deveriam provar o sapatinho. Quando na vez de Cinderela, a madrasta a prende em seu quarto, mas com a ajuda dos animais ela consegue sair a tempo de provar o sapatinho.

        Quando prova o sapatinho, há a certeza de que aquela era a moça com quem o príncipe tinha dançado e então os dois se casam.

  • Análise do filme relacionando com alguns conceitos da obra do filósofo Jean Paul Sartre

Podemos supor que, Cinderela, inicialmente, aparenta viver apenas com uma consciência irreflexiva, não se posicionando no mundo, apenas seguindo as ordens de sua madrasta e suas irmãs, vivendo, então, segundo o projeto dos outros (irmãs e madrasta). Ela vivia em um lar opressor. Era maltratada tanto física quanto psicologicamente. Tais características nos fazem pensar que é uma menina frágil e dependente que não reage à sua condição (o que na época poderia ser visto como condições para ser uma boa moça, doce). No entanto, no decorrer do filme, ela canta uma música que diz: “o sonho é um desejo (...) que importa o mal que te tormenta, se o sonho te contenta e pode se realizar”. A letra da música mostra, que através da imaginação, ou seja, da consciência imaginante, Cinderela vê a possibilidade de superar sua história, e “sonha” com o futuro e o que ele pode ser, diferentemente daquilo que está sendo imposto a ela. O sonho nada mais é que uma reconstrução mágica da realidade. Embora no sonho não tenha consciência reflexiva, ao cantar a música sobre a realização dos desejos e de sair do mal que a tormenta, percebe-se que a personagem não tem apenas a consciência irreflexiva, mas uma consciência reflexiva crítica em que sabe da condição dela no mundo e pode assumir a responsabilidade de seus atos, mudando sua história e construindo seu projeto. Cabe então, aqui, que o que importa não é o que os outros fizeram com ela, mas o que ela fará do que fizeram com ela.

Com base na história, podemos dizer que a todo momento Cinderela tem sua liberdade limitada pela madrasta e meias-irmãs. Tanto a madrasta quanto suas filhas, por terem inveja de Cinderela, não conseguem conhecer de fato a essência da menina, deixando-a vulnerável e objetificando-a, sem conhecer quem Cinderela realmente é.

É possível, também, relacionar essa situação com a célebre frase de Sartre: “o inferno são os outros”. Para Sartre, não existe uma consciência sozinha no mundo, mas sim, cada homem existe no mundo com outros homens. Assim, segundo o autor, a realidade humana é sempre “Para-Si-Para-Outro”. É necessário entender que o outro é um ser que nos vê, assim como nós os vemos, reconhecendo o outro como consciência, liberdade, projeto. Quando temos consciência que somos vistos ocorre uma brusca modificação no Para-Si, que passa agora a se situar no mundo.

Uma coisa que acaba gerando muita angústia é o fato de que no momento em que o outro nos vê, ele nos identifica como uma totalidade já acabada, limitando os nossos possíveis, fazendo de nós algo dado e finito. Sartre compara o olhar do outro ao olhar da medusa, uma vez que ele petrifica o nosso ser. Desse modo, diante do outro já não somos mais “donos da situação”, nos tornando escravos e, por mais que o “eu” tente evitar o “outro”, “ele” sempre estará ali. Por isso, Sartre entende o outro como sendo irremediavelmente o meu inferno, pois me enxergo diante dele (SILVA, M. I. C; DIAS, S. S; REZENDE, V. T. DE, 2009). É possível ver isso na relação da madrasta e suas filhas com a Cinderela, uma vez que enxergam tudo o que não são na menina, gerando sentimentos ruins para com a mesma.

Além disso, podemos questionar se Cinderela está realmente tendo consciência da sua liberdade ou se está caindo aos empecilhos da má-fé, como consequência do constante e irremediável olhar do Outro. Questiona-se isso pelo fato dela não contestar o modo como é tratada, seus direitos como filha e a sobrecarga de tarefas, parecendo optar por viver na má-fé, negando sua liberdade e aceitando os “determinismos” que lhe é imposto. Cinderela continua sendo feita de escrava e cumprindo ordens, não procura meios e não usa sua liberdade para transcender. É importando notar que, para Sartre, a liberdade está relacionada com fazer escolhas concretas e, desse modo, até mesmo a abstenção e a passividade são formas de escolha.

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