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Arquitetura Burle Marx

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Por:   •  25/11/2014  •  4.929 Palavras (20 Páginas)  •  565 Visualizações

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O jardim como ordenamento da natureza e a poética de Burle Marx

Ana Paula Polizzo

Arquiteta e Urbanista (UFF-RJ), Pós-graduada em História da Arte e Arquitetura no Brasil (PUC-Rio) e

Mestranda em História social da Cultura (PUC-Rio)

End.: Rua Álvares de Azevedo 121/701 Bloco B – Icaraí – Niterói – RJ – CEP 24220-020

Tel. (21) 2704-5936 / (21) 25071164 / (21) 9530-9429

E-mail: polizzo@oficina.arq.br O jardim como ordenamento da natureza e a poética de Roberto Burle Marx

O homem cria ao seu redor um ambiente que é a projeção na natureza de seus ideais abstratos. A

transformação consciente da paisagem física em paisagem construída pelo homem é um importante modo

de expressão ao lado da arte, da pintura, da escultura e da arquitetura.

A arte dos jardins, no entanto, comparada com as outras artes é extremamente ambígua: ela se constrói

com a própria natureza, e, no entanto, desta deve se afastar por intermédio de um gesto que o torna jardim

e que o isola da extensão que o cerca. O jardim é uma realidade frágil uma vez que lida com o mundo

transitório e efêmero das plantas, com o ciclo de vida, com a mutabilidade, com a temporalidade bem

marcada, diferente da obra de arte estática.

Sob esta perspectiva, muitos autores são incisivos ao indicar Roberto Burle Marx como definidor de uma

estética moderna de paisagem, incorporando o espírito da pesquisa plástica às soluções dos jardins.

Colocam suas produções como descobertas de uma nova forma de arte intelectual, uma linguagem

moderna, harmonizando valores geométricos e de ordem com os valores instáveis da natureza.

Enquanto Le Corbusier defendia os edifícios aconchegados numa natureza inquestionável, com base em

um idealismo que aceitava a visão sentimental da natureza de Rousseu, Burle Marx desenvolvia um gesto

estético acompanhado de uma forte intencionalidade, onde o jardim se torna uma obra de arte, uma

intervenção do homem que se coloca perante o mundo.

Utiliza a definição intelectual da forma através da geometria em luta contra a instabilidade da matéria viva.

Mesmo seus jardins com linhas mais livres e orgânicas, que aparentemente se aproximam da sinuosidade

da natureza, são na verdade, curvas geometrizadas, construídas, próprias da ação do homem moderno no

mundo. Nesse sentido, a aparente anti-geometria de sua obra acaba passando pela geometria; cada linha

tem um ponto de início e um ponto final completamente relevante e não arbitrário. Trata-se então de utilizar

o meio determinante da arte como um instrumento para conter a movimentação perpétua da natureza.

Esse processo de trabalho pressupõe uma forma articulada de visão, que considera o jogo entre constantes

e variantes: a definição formal do espaço (que busca um foco extremamente visual na composição, como

numa tela em que os elementos possuem uma lógica intrínseca), o conhecimento das espécies com a

compreensão do movimento e a dimensão do tempo no jardim.

Estas formações paisagísticas passam a constituir uma unidade, uma experiência própria e autônoma

possuidora de lógica interna, ainda que ligadas a uma extensão e a um movimento infinitamente mais vasto

da natureza como um todo. Há um intercâmbio de vertentes na noção da paisagem: o ordenamento

construído através da arte, numa coexistência com o princípio eterno de natureza.

Palavras-chave: Burle Marx; paisagismo; natureza. O jardim como ordenamento da natureza e a poética de

Roberto Burle Marx

A certeza do jardim frente à instabilidade da natureza

“Eu buscava um antípoda para a pedra impassível. Não sendo ela nem obra nem ser,

cumpria-me descobrir algo que a um tempo vivesse como planta ou animal e fosse

concebido, encaminhado, executado em seus menores detalhes pela inteligência, a decisão

e a escolha. Algo que houvesse saído de uma semente, que fosse tributário do crescimento

e da morte, e no entanto que obra humana fosse, premeditada e realizada como são os

poemas, os quadros, as estátuas. Nada melhor que os jardins para reunir essas opostas

condições. Pertencem à natureza viva, são frágeis e perecíveis, sujeitos ao sol e à

intempérie, mas meditados e realizados por uma capacidade de conhecer e governar as

energias negligentes ou suspicazes.”1

O homem cria ao seu redor um ambiente que é a projeção na natureza de seus ideais abstratos.

Nos diferentes períodos históricos, o equilíbrio da ordem social projeta-se na arte de configurar a

paisagem, com o objetivo final comum de expressar uma correspondência entre o homem e o

universo. A transformação consciente da paisagem física em paisagem construída pelo homem é,

assim como a pintura, a escultura e a arquitetura um importante modo de expressão do espírito.

Roberto Burle Marx (1909-1994) desenvolveu uma estética moderna de paisagem incorporando

um caráter de especulação plástica sobre forma e cor,

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