Arquitetura Burle Marx
Dissertações: Arquitetura Burle Marx. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: dddddao • 25/11/2014 • 4.929 Palavras (20 Páginas) • 565 Visualizações
O jardim como ordenamento da natureza e a poética de Burle Marx
Ana Paula Polizzo
Arquiteta e Urbanista (UFF-RJ), Pós-graduada em História da Arte e Arquitetura no Brasil (PUC-Rio) e
Mestranda em História social da Cultura (PUC-Rio)
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E-mail: polizzo@oficina.arq.br O jardim como ordenamento da natureza e a poética de Roberto Burle Marx
O homem cria ao seu redor um ambiente que é a projeção na natureza de seus ideais abstratos. A
transformação consciente da paisagem física em paisagem construída pelo homem é um importante modo
de expressão ao lado da arte, da pintura, da escultura e da arquitetura.
A arte dos jardins, no entanto, comparada com as outras artes é extremamente ambígua: ela se constrói
com a própria natureza, e, no entanto, desta deve se afastar por intermédio de um gesto que o torna jardim
e que o isola da extensão que o cerca. O jardim é uma realidade frágil uma vez que lida com o mundo
transitório e efêmero das plantas, com o ciclo de vida, com a mutabilidade, com a temporalidade bem
marcada, diferente da obra de arte estática.
Sob esta perspectiva, muitos autores são incisivos ao indicar Roberto Burle Marx como definidor de uma
estética moderna de paisagem, incorporando o espírito da pesquisa plástica às soluções dos jardins.
Colocam suas produções como descobertas de uma nova forma de arte intelectual, uma linguagem
moderna, harmonizando valores geométricos e de ordem com os valores instáveis da natureza.
Enquanto Le Corbusier defendia os edifícios aconchegados numa natureza inquestionável, com base em
um idealismo que aceitava a visão sentimental da natureza de Rousseu, Burle Marx desenvolvia um gesto
estético acompanhado de uma forte intencionalidade, onde o jardim se torna uma obra de arte, uma
intervenção do homem que se coloca perante o mundo.
Utiliza a definição intelectual da forma através da geometria em luta contra a instabilidade da matéria viva.
Mesmo seus jardins com linhas mais livres e orgânicas, que aparentemente se aproximam da sinuosidade
da natureza, são na verdade, curvas geometrizadas, construídas, próprias da ação do homem moderno no
mundo. Nesse sentido, a aparente anti-geometria de sua obra acaba passando pela geometria; cada linha
tem um ponto de início e um ponto final completamente relevante e não arbitrário. Trata-se então de utilizar
o meio determinante da arte como um instrumento para conter a movimentação perpétua da natureza.
Esse processo de trabalho pressupõe uma forma articulada de visão, que considera o jogo entre constantes
e variantes: a definição formal do espaço (que busca um foco extremamente visual na composição, como
numa tela em que os elementos possuem uma lógica intrínseca), o conhecimento das espécies com a
compreensão do movimento e a dimensão do tempo no jardim.
Estas formações paisagísticas passam a constituir uma unidade, uma experiência própria e autônoma
possuidora de lógica interna, ainda que ligadas a uma extensão e a um movimento infinitamente mais vasto
da natureza como um todo. Há um intercâmbio de vertentes na noção da paisagem: o ordenamento
construído através da arte, numa coexistência com o princípio eterno de natureza.
Palavras-chave: Burle Marx; paisagismo; natureza. O jardim como ordenamento da natureza e a poética de
Roberto Burle Marx
A certeza do jardim frente à instabilidade da natureza
“Eu buscava um antípoda para a pedra impassível. Não sendo ela nem obra nem ser,
cumpria-me descobrir algo que a um tempo vivesse como planta ou animal e fosse
concebido, encaminhado, executado em seus menores detalhes pela inteligência, a decisão
e a escolha. Algo que houvesse saído de uma semente, que fosse tributário do crescimento
e da morte, e no entanto que obra humana fosse, premeditada e realizada como são os
poemas, os quadros, as estátuas. Nada melhor que os jardins para reunir essas opostas
condições. Pertencem à natureza viva, são frágeis e perecíveis, sujeitos ao sol e à
intempérie, mas meditados e realizados por uma capacidade de conhecer e governar as
energias negligentes ou suspicazes.”1
O homem cria ao seu redor um ambiente que é a projeção na natureza de seus ideais abstratos.
Nos diferentes períodos históricos, o equilíbrio da ordem social projeta-se na arte de configurar a
paisagem, com o objetivo final comum de expressar uma correspondência entre o homem e o
universo. A transformação consciente da paisagem física em paisagem construída pelo homem é,
assim como a pintura, a escultura e a arquitetura um importante modo de expressão do espírito.
Roberto Burle Marx (1909-1994) desenvolveu uma estética moderna de paisagem incorporando
um caráter de especulação plástica sobre forma e cor,
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