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Ava Aula 2

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Por:   •  18/3/2015  •  4.423 Palavras (18 Páginas)  •  289 Visualizações

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Breve notícia bibliográfica

Foi o escritor checo de língua alemã, Max Brod (1884-1968), editor e amigo de Franz

Kafka (1883-1924), quem revelou postumamente ao público, em 1925, a obra O Processo,

pertencendo-lhe também a escolha e a sistematização dos textos, aos quais viria a acrescentar

outros nas reedições de 1935 e 1946; preferiu ainda intitular o original alemão Der Prozess,

quando em todo o manuscrito surge sempre a ortografia Der Process. Durante largas dezenas

de anos foi naturalmente esta sistematização de Max Brod que serviu de base às inúmeras

traduções publicadas em todo o mundo.

Recentes trabalhos universitários de investigação directa e minuciosa dos manuscritos

deram, porém, origem a novas edições – portanto muito mais próximas da presumível vontade

do autor que, aliás, nunca chegou a depurar o texto – designadamente a de Malcolm Pasley

(em 1990) e a de Roland Reuss e Peter Staengle (em 1997) que apresentam O Processo

dividido em dez capítulos não numerados e seis trechos fragmentários.

A nova estrutura – que tudo indica será a definitiva – preside portanto, igualmente, a esta

edição, para manifesto benefício e enriquecimento cultural de todos os leitores portugueses.

Detenção

Alguém devia ter caluniado Josef K., porque foi preso uma manhã, sem que ele houvesse

feito alguma coisa de mal. A cozinheira da Senhora Grubach, a dona da pensão, que lhe levava

o pequeno-almoço todos os dias por volta das oito horas, não apareceu desta vez. Isto nunca

tinha acontecido. K. aguardou mais um pouco; apoiado na almofada da cama, viu a velha

senhora que morava em frente da sua casa a observá-lo com uma curiosidade completamente

inacostumada; mas depois, sob o efeito simultâneo da surpresa e da fome, tocou a campainha.

Bateram logo à porta e entrou um homem que ele nunca vira naquela casa. Era esbelto e, no

entanto, de constituição sólida, trajava um fato preto muito justo que, à semelhança dos fatos

de viagem, possuía diversas pregas, algibeiras, botões e um cinto, em consequência do que,

sem que se conseguisse designar-lhe o uso, parecia particularmente prático.

– Quem é o senhor? – perguntou K., soerguendo-se na cama.

Mas o homem ignorou a pergunta, como se fosse obrigatório aceitar a sua aparição e

respondeu simplesmente:

– Anna deve trazer-me o meu pequeno-almoço – disse K. e começou por tentar,

conservando o silêncio, graças a um esforço de atenção e de reflexão, descobrir quem podia

Mas este último não se expôs muito tempo ao seu olhar; voltou-se para a porta e entreabriu-

a para dizer a alguém que, visivelmente, se encontrava mesmo ali atrás:

– Ele quer que Anna lhe traga o pequeno-almoço.

Um riso breve ecoou então na sala contígua; ao ouvi-lo, ficava-se com a certeza de que

várias pessoas tinham participado nele. Embora o desconhecido não pudesse revelar assim

nada que ele não soubesse já, insistiu em dizer a K. num tom de declaração:

– Seria a primeira vez – disse K. saltando da cama para enfiar rapidamente as calças. – Vou

ver que espécie de gente se encontra aqui ao lado, e como é que a Senhora Grubach me vai

Para dizer a verdade, ocorreu-lhe logo ao espírito que não deveria ter dito isto em voz alta,

e que reconhecia assim de certo modo um direito de olhar ao desconhecido; mas isto não lhe

parecia agora muito importante. No entanto, foi assim que este se apercebeu das suas

– Não prefere permanecer aqui?

– Não quero permanecer aqui nem que o senhor me dirija a palavra, enquanto não se tiver

– Foi com boa intenção – disse o desconhecido ao mesmo tempo que abria a porta.

Na sala contígua, onde K. entrou mais devagar do que desejava, tudo parecia, à primeira

vista, exactamente como na véspera à noite. Era o salão da Senhora Grubach, talvez houvesse

hoje naquela divisão sobrecarregada de móveis, de napperons, de porcelanas e de fotografias,

um pouco mais de espaço do que habitualmente, mas não se dava por isso imediatamente,

ainda menos porque a diferença principal resultava da presença de um homem sentado

próximo da janela aberta, com um livro, e que erguia agora os olhos.

– Deveria ter permanecido no seu quarto! Franz não lho disse?

– Sim, e o que é que o senhor quer? – replicou K., cujo olhar se desviou do recém-chegado

para o denominado Franz, que tinha ficado no limiar da porta, regressando, depois, novamente

Através da janela aberta, ainda se avistava a velha

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