Açai

Pará é referência mundial na produção de açaí

Açaí é marca registrada no dia-a-dia de muitas famílias

Com farinha, com açúcar, com peixe frito, com charque, com camarão. Ou até sem nada. Para o paraense, não importa o acompanhamento – ou a falta dele -, o indispensável mesmo é ter açaí na mesa. O fruto, originário da Amazônia, pode ser consumido nas mais diferentes formas: de suco a sorvete (e, hoje em dia, até como cosmético), embora a preferência local seja pelo tradicional vinho, produzido pelos chamados batedores, profissionais que utilizam máquinas específicas para separar a polpa do caroço do fruto. É essa polpa, misturada à água, que compõe o vinho.

O vinho de açaí é caracterizado por apresentar um aspecto bem grosso, diferente de qualquer outra bebida produzida na região ou até fora dela. Mesmo quando está “fino”, ou seja, mais ralo – o que acontece normalmente no período de entressafra do fruto -, o vinho de açaí apresenta uma consistência diferenciada, que chama a atenção pelo sabor único e pela aparência, exótica.

No Pará, é tarefa quase impossível encontrar alguém que não goste de açaí. O Estado é o maior produtor do mundo. No ano passado, ultrapassou as 581 mil toneladas do fruto, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fornecidos pela Secretaria de Estado de Agricultura (Sagri). De acordo com a Secretaria, o mesmo levantamento aponta que a área plantada de açaí no Pará, até 2008, era de cerca de 59,2 mil hectares. “A gente pensa que o Estado tem muito açaí, mas a demanda também é gigantesca. Para se ter ideia, hoje, no Pará, há mais de 147 agroindústrias que trabalham com açaí e elas ainda reclamam da falta de matéria-prima. Ainda vai demorar alguns anos para a gente conseguir suprir satisfatoriamente toda essa demanda”, observa o engenheiro agrônomo Geraldo Tavares, da gerência de fruticultura da Sagri.

Na atividade, o município que mais se destaca é Igarapé-Miri, localizado a cerca de 78 quilômetros de Belém. A cidade ostenta, com orgulho, o título de capital mundial de açaí. Segundo dados da prefeitura local, de lá saem, diariamente, mais de 360 toneladas do fruto, as quais são distribuídas não só para a região, mas para todo o País.

Foi justamente em Igarapé-Miri que encontramos o aposentado Walter Cardoso, de 64 anos. Nascido na Vila Maiauatá, no interior de município, ele, como a maioria dos moradores do local, cresceu tomando açaí. Mais tarde, já adulto, passou a trabalhar como apanhador do fruto e, hoje, é dono de um pequeno açaizal – como é chamada a propriedade que reúne pés de açaí. “O apanhador é aquele que sobe na árvore para poder pegar os cachos de açaí”, informa ele, sob o olhar atento da esposa, Sebastiana Brandão, de 58 anos.

Walter e Sebastiana têm 12 filhos. Destes, a maioria também se alimenta e sobrevive do açaí. É o caso de José Carlos Cardoso, de 21 anos. Ele, que mora em uma palafita com os pais, às margens do rio Igarapé-Miri, também ajuda a apanhar o fruto, que depois será comercializado na sede da cidade. Cada rasa – medida utilizada no local e que corresponde a aproximadamente 14 quilos do fruto - de açaí sai por cerca de R$ 23,00 neste período, de entressafra.

Bem perto da casa de Walter vive o aposentado João Pantoja, 84. Pai de sete filhos, ele é um dos maiores produtores de açaí de Igarapé-Miri. Seu sítio possui nada menos do que 150 mil pés de açaí, em uma área que tem 250 metros de frente por 1.500 metros de fundo. “Eu, aqui, não só trabalho com isso, como gosto também de consumir. Bebo todos os dias, no almoço e no jantar. Aqui, a gente toma açaí com qualquer coisa, até com ovo de galinha”.

Muito do açaí produzido pelo seu João cai nas mãos de gente como o aposentado Norberto Lima, 75. Ele trabalha como “marreteiro”, isto é, compra o açaí diretamente dos produtores e depois revende. Diz que o lucro não é muito grande – não passa de R$ 1,50 por rasa de açaí -, mas garante que não sabe viver de outra coisa.

>> Açaí ainda é matéria prima para variados produtos

Engana-se quem pensa que o açaí tem como vantagem apenas os aspectos nutricionais. Cada vez mais, é possível encontrar o fruto como matéria-prima para os mais diversos tipos de indústrias, das farmacêuticas até as de cosméticos, passando