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CONHECIMENTO, FORMAÇÃO E PRÁTICA

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Por:   •  19/9/2014  •  1.998 Palavras (8 Páginas)  •  190 Visualizações

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RESUMO - CONHECIMENTO, FORMAÇÃO E PRÁTICA

O necessário caminho da integração

Nestes anos que se passaram dede 1962, ano que foi regulamentada a profissão de psicólogo, uma quantidade considerável de estudos com relação ao exercício da profissão e a formação do psicólogo vem crescendo. Botomé (1988).

A profissão vem sendo estudada e esta atividade vem crescendo desde o clássico trabalho de Silvia L. Mello (1960)

a. As atuações do psicólogo ficam reduzidas quando psicólogo e psicoterapeuta são vistos quase como sinônimos.

b. As deficiências do processo de formação fortalecem ou direcionam os alunos para papéis conhecimentos e tecnologias mais tradicionais e mais difundidos ou populares (e nem sempre os mais sólidos) em relação à atuação do psicólogo (Botomé, 1988, p.276).

c. Pouca visão social no trabalho do psicólogo e sim mais trabalho isolado ou pequenos grupos.

O estudo acerca da atuação está na tendência dominante com ênfase nas dificuldades e limites que as caracterizam, porém os aspectos dinâmicos responsáveis pelo contínuo processo de transformação nas práticas profissionais e na formação, não aparecem nos índices estatísticos significativos. Não geram novos modelos de serviços frente à sociedade

Esse movimento é objeto de estudo do presente trabalho, aparecem dúvidas quanto à identidade do “ser psicólogo” ante os novos quadros.

• Rompendo limites impostos até mesmo pela regulamentação os psicólogos buscam consolidar uma atuação que não se restringe ao indivíduo, passa a lidar com grupos mais amplos.

• Fazeres que exigisse maior qualificação, como o de assessoria e consultoria.

• Busca por trabalhar com fenômenos mais globais, mais complexos ou menos fragmentados, com maior poder de intervenção e articulados com outros profissionais.

Uma parcela desta transformação decorre de pressões vindas das mudanças socioculturais e econômicas. Podemos perceber essa mudança no crescimento da psicologia social enquanto área ampliada, na emergência da psicologia hospitalar e na inserção do psicólogo em equipes de recursos humanos. O exame da literatura sobre a atuação mostra o quão significativo pode ser o papel do curso de psicologia com ênfase na determinação das mudanças no exercício profissional. Contudo os aspectos curriculares determinam a existência de um modelo hegemônico que veda a possibilidade de diversificação no exercício da profissão. Como assinalam Weber e Carraher (1982, p.5).

Existe um conceito de que o currículo vigente no Brasil não reflete o estado atual da psicologia como ciência e como profissão. Constatam-se defasagens patentes entre o que aqui é ensinado e o que é produzido nos grandes centros intelectuais, bem como entre o que o psicólogo aprendeu e os desafios que afronta cotidianamente a sua prática profissional.

O movimento de inovação amplia o poder de intervenção do psicólogo, quando integrado a tendências dominantes em outras ciências sócios comportamentais aplicados, principalmente em quatro vetores:

a. É necessária a integração do trabalho do psicólogo com os de outros profissionais ao lidar com problemas concretos, devido à necessidade por habilidades de trabalho em equipes multiprofissionais.

b. Atuação preventiva através de centros de prestação de serviços, capacitação de indivíduos e grupos para lidarem com as dificuldades.

c. O intensivo acúmulo de conhecimentos gerados, impondo a necessidade de contínuo aperfeiçoamento a fim de minimizar os processos de obsolescência profissional.

d. A dinâmica sociocultural, alterando valores, expectativas, modo de vida, contextos de trabalhos, padrões de relações inter e intragrupos e a demanda de gerar novas estratégias de como lidar com novos e velhos problemas dentro de novos conceitos.

Todas estas tendências exigem uma integração nos três pilares da psicologia: geração do conhecimento, processo de formação e exercício prático. Porém a desarticulação entre esses três domínios impedem o avanço na profissão. Vejamos as dificuldades de cada um.

Geração do conhecimento x Prática – tem início na sua própria história e em como este saber foi “inaugurado”. Por ter nascido da Filosofia foi impedida de evoluir naturalmente e continuamente pelo seu próprio movimento. Sua base é constituída de duas culturas distintas “cultura dos cientistas” e “cultura humanísticas” segundo Kimble (1984), onde o cientista e o psicoterapeuta são exemplos típicos dos dois extremos. Com o apoiado de profissionais da psicologia, o autor mapeou diferenças importantes nos valores científicos, profissionais e nos seus pressupostos epistemológicos. Essa cultura evidencia uma psicologia marcada pela dispersão expressada nos debates acerca da existência da ciência psicológica e de sua unificação. Este quadro implica na pratica nas especializações dentro do campo de atuação do psicólogo. Hoshmand e Polkinghome (1992) apontam duas características que dificultam essa integração tão necessária:

• A contínua divisão/especialização nos campos científicos, cujos produtos passam a serem propriedades de profissões específicas.

• A prevalência de um modelo positivista de ciência que se apóia em uma concepção própria e unilinear da relação pesquisa prática, apoiada numa linguagem matemática para expressar a relação lógica entre categorias (testes de teorias) cujas restrições tornam os problemas longe do mundo real. Teste de teoria impede a pesquisa e descobertas na prática profissional.

Neste modelo, os procedimentos e linguagem são tidos como carentes de rigor e inferiores impossibilitando a compreensão científica da realidade, colocando os profissionais em papeis de aplicadores, mais do que produtores de conhecimento. A prática não possibilita a construção do saber sobre ela mesma.

Processo de formação x conhecimento-prática – profissionais e estudantes apontam a descontextualização do que é aprendido nas universidades e o que é necessário quanto ao seu fazer profissional. Dominar maneiras de como fazer desconhecendo os fundamentos desse fazer, havendo uma ausência na formação de habilidades para estudar, analisar, elaborar, testar e desenvolver projetos de trabalho profissional a partir de problemas de população ou de necessidades do país, da região, do município ou da instituição onde se insere o psicólogo. (Botomé 1988).

Nos cursos de pós-graduação não se prioriza a pesquisa, o que se traduz na hipertrofia do teórico, como bem apontou Matos (1988).

Um grande número de aulas na graduação é dedicado a contrastar a opinião de diferentes autores sobre diferentes “escolas”, “sistemas” e “teorias” psicológicas. De fato é importante que o estudioso aborde seu problema de interesse a partir de um foco conceitual, mas é importante que ele domine o mecanismo de construção, de crítica e de validação das teorias, isto é, a pesquisa, seus instrumentos e seu corpo de dados.

Não podemos deixar de citar a forte tendência do currículo voltado para a clínica, em especial para o atendimento individual, em outras áreas como das organizações e educacional o profissional é preparado para o uso de testes psicológicos. Na área social-comunitária a preocupação dominante é de adaptar o seu modelo à comunidade e não o de produzir um conhecimento a partir das demandas daí derivadas.

Exercício prático x demanda de conhecimento científico – no exercício da prática o profissional se depara com problemas não totalmente estruturados ou claramente formuláveis o que impõe a tarefa de observação intensiva e descrição abrangente de quadros complexos. Assim tornam-se mais visíveis os limites do conhecimento dentro do modelo de ciência dominante já apresentado. Assim os profissionais ficam dependendo da sua experiência e buscam menos conhecimento produzido no âmbito das universidades. Os riscos destas atitudes são perceptíveis ao incorporar uma visão de ciência irreconciliável com a prática, gerando modelos de intervenção inapropriados. As situações de novidade e incerteza que se depara no seu trabalho deixam de contribuir para o avanço do seu conhecimento, construindo a sua prática na base do ensaio e erro ou transformando-a em experiência repetitiva e ritualista.

Os caminhos para a integração

Um ponto de partida para integrar cientistas, educadores e profissionais está na compreensão da complexidade dos fenômenos psicológicos. Na possibilidade de múltiplos níveis de descrição e intervenção numa postura de parceria entre todos.

Tal parceria necessita de revisões na produção do conhecimento, na prestação de serviços do profissional, e principalmente na prática educativa que direcione o estudante para estes dois papéis. Para tal necessitam características pessoais-valores e habilidades-distintas, como afirma Spence (1987), há poucos indivíduos que possuem talento, inclinação, flexibilidade ou tempo para atender as demandas desses dois papéis.

Necessita-se superar as dificuldades que um círculo vicioso alimentado pelo processo de formação que restringe o desenvolvimento da ciência e o aperfeiçoamento da prática. Citaremos três imperativos que se colocam para minimizar a desarticulação entre os três domínios analisados:

1. Que a produção do conhecimento científico seja incrementada dentro de modelos mais abrangentes. Hoshmand e Polkinghorne (1982) denominam de perspectiva pós-moderna o conjunto de posições na Filosofia, História e Sociologia da ciência que afirmam o caráter social e histórico do conhecimento científico. Crawford (1985) fala da superação do positivismo lógico por uma teoria realista. Nessa perspectiva o conhecimento é visto como uma construção humana, rejeitando-se a idéia de que existem dados livres de elementos teóricos e contra os quais as teorias podem ser confrontadas. Ao se tomar conhecimento enquanto construção social abrem-se perspectivas de múltiplos paradigmas e de múltiplos modos de racionalidade, já que diversas atividades geradoras de conhecimento podem ser influenciadas por diferentes fatores individuais e sociais. A psicologia não tem sido errada na sua concepção histórica e sim, parcial na sua abordagem do conhecimento. Afirmam Hoshmand e Polkinghorne (1982).

2. Que as práticas possam ser fecundadas pelo conhecimento e possam, também, gerar conhecimento mais diretamente vinculado aos problemas concretos e mais complexos. A prática não pode ser considerada simples aplicação de achados científicos, um profissional que exerga além está sempre avaliando o conhecimento científico considerando os requisitos colocados pela prática. Ou seja, várias estratégias de produção de conhecimento no contexto da clínica, por exemplo: observação clínica, estudo de casos, concepção de novos procedimentos de intervenção, de novos instrumentos de mensuração e avaliação da eficácia das intervenções. Assim o clínico pode contribuir significativamente ao acúmulo de conhecimento.

3. Que o processo educacional seja capaz de articular esses dois domínios quer desenvolvendo estudos apoiados em múltiplas perspectivas, que desenvolvendo habilidades de reflexão crítica e de investigação apropriadas ao contexto aplicado da profissão. O processo de educação deve propiciar experiências tanto na área de pesquisa como na prestação de serviços. (Philips 1989). O desenvolvimento de “julgamentos reflexivos” do tipo que acontece no contexto prático. Contato do formando com outras áreas limítrofes do conhecimento, ir além dos aspectos tipicamente psicológicos (Botomé 1988).

Tais preocupações extraídas das literaturas, já estão sendo objeto de reflexão concreta dos nossos profissionais e instituições de ensino. O processo de debate interno e com conselhos de Psicologia gerou uma proveitosa discussão no Encontro de Serra Negra que contou com 98 representantes de 103 instituições formadoras. Consolidou-se a necessidade de mudanças profundas no processo de formação e mudanças curriculares. O produto desse evento traduziu-se em uma carta de princípios que contempla todos os elementos até aqui apresentados, apontando novos rumos. Algumas sugestões são:

• Desenvolver consciência política de cidadania, compromisso com a realidade e qualidade de vida.

• Desenvolver postura crítica, investigadora e criativa e viabilizar a produção técnico-científica.

• Reflexão permanente de princípios éticos na profissão.

• Desenvolver uma universidade com interdisciplinaridade, processo contínuo de ensino, pesquisa e extensão.

• Desenvolver a formação básica pluralista, fundamentada na discussão epistemológica, consolidar práticas profissionais conforme a realidade sociocultural, adequando o currículo ao contexto regional.

• Desenvolver uma concepção de homem, compreendido em sua integralidade e na dinâmica de suas condições concretas de existência.

• Avaliação no processo de formação através da interlocução entre os diversos segmentos acadêmicos.

Sugestões de operacionalização:

• Equilíbrio da carga horária entre as disciplinas.

• Práticas de investigação nas disciplinas, inclusive a realidade sociocultural.

• Análises das diferentes concepções do homem.

• Esta em nossas mãos, como profissionais da área as mudanças necessárias que redirecionem a psicologia enquanto ciência e profissão em nosso país.

4. CONCLUSÃO

Talvez este texto mexa com alunos que estão ingressando no curso de Psicologia, no entanto, estas informações passadas neste capitulo deverão servir para iluminar as atitudes daqueles que, com mais entusiasmo e competência, lutam por um Ensino de Psicologia de melhor qualidade, pois atitudes descompromissadas ou negligentes não poderão mais ser, como até então o foram, atribuídas à ignorância dos fatos. Embora preocupante, este diagnóstico deverá propiciar condições para análises, discussões e sugestões importantes, pois enxergar melhor a realidade favorece, sem dúvida alguma, a escolha dos caminhos mais adequados para assegurar, no futuro, a qualidade do Ensino da Psicologia no Brasil..

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