Criação De Valor
Artigo: Criação De Valor. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: 35968321873 • 29/4/2014 • 9.117 Palavras (37 Páginas) • 304 Visualizações
Ética e desempenho social das organizações
As últimas décadas do século XX foram marcadas por transformações profundas em todo o mundo, estimuladas em grande medida pela democratização dos regimes políticos, pela abertura de fronteiras comerciais e por um desenvolvimento tecnológico sem precedentes. A magnitude destas mudanças tem impactos econômicos, sociais e culturais em escala mundial, cujos efeitos ainda não podem ser apreciados nem antecipados com exatidão. O fenômeno de globalização das economias e dos mercados arrasta uma tendência para a convergência de gostos, de normas, de comportamentos, de expectativas, de padrões de qualidade e de desempenho, constituindo uma pressão suplementar para todas as organizações e empresas, independentemente do nível em que operam – local, regional, nacional ou mundial.
O aumento significativo dos fluxos de comércio internacional, facilitados por tecnologias inovadoras de processamento de informação e de comunicação, tornou a dimensão ética da atividade empresarial uma das principais preocupações de gestores, políticos, pesquisadores e da sociedade em geral (Robertson, Crittenden, Brady, & Hoffman, 2002). A adoção de uma conduta baseada em princípios morais que respeitem o ambiente e os valores da comunidade envolvente é uma exigência incontornável das sociedades contemporâneas que os responsáveis organizacionais não podem ignorar. A tolerância perante os abusos de poder ou a exploração inadequada de recursos é cada vez menor e a concorrência entre empresas passa também pelo alcance social e ambiental dos seus resultados e da sua atividade (Luce, Barber, & Hillman, 2001). Por outro lado, à medida que as interações de gestores e executivos de diferentes países são mais freqüentes, a capacidade de compreender as diferenças de comportamento e as suas motivações morais é mais necessária para garantir o êxito dessas interações (Priem & Shaffer, 2001).
A ética, enquanto disciplina teórica, estuda os códigos de valores que determinam o comportamento e influenciam a tomada de decisões num determinado contexto. Estes códigos têm por base um conjunto tendencialmente consensual de princípios morais, que determinam o que deve ou não deve ser feito em função do que é considerado certo ou errado por determinada comunidade. No ambiente organizacional e na gestão de empresas em particular, a ética estuda os códigos morais que orientam as decisões empresariais, na medida em que estas afetem as pessoas e a comunidade envolvente, partindo de um conjunto socialmente aceito de direitos e obrigações individuais e coletivos. As empresas consideradas éticas são geralmente aquelas cuja conduta é socialmente valorizada e cujas políticas se reconhecem sintonizadas com a moral vigente, subordinando as suas atividades e estratégias a uma reflexão ética prévia e agindo posteriormente de forma socialmente responsável.
Muitos pesquisadores têm-se dedicado a estudar a conduta ética dos gestores e os fatores que a influenciam no contexto empresarial, destacando-se, neste domínio, três níveis de explicação do comportamento ético: individual, organizacional e cultural. Um número elevado de estudos tem procurado explicar a postura ética dos executivos a partir de algumas das suas características individuais. Constituindo um interesse mais recente da comunidade científica, a investigação sobre a influência dos fatores de ordem cultural e social nos comportamentos éticos e nos sistemas de valores dos gestores tem produzido igualmente estudos empíricos de crescente profundidade e relevância (Jackson & Artola, 1997; Priem & Shaffer, 2001; Robertson et al., 2002; Tsui & Windsor, 2001).
Para além do recurso a essas três ordens de fatores (individual, organizacional e cultural), considerados em geral estáveis, para explicar os comportamentos moralmente qualificáveis no contexto empresarial, alguns autores defendem ainda o caráter situacional das decisões éticas. Segundo esses autores, a decisão de um mesmo indivíduo pode ser diferente, consoante o contexto específico que envolva essa decisão (Hoffman, Couch, & Lamont, 1998; Robertson et al., 2002), variando, por exemplo, de acordo com a posição que o indivíduo ocupa na empresa ou com a antecipação subjetiva que ele faça da reação pública à sua decisão.
Por não exigirem um conhecimento técnico nem se regerem por leis de oferta e de procura, as decisões que envolvem um julgamento moral são as únicas que, em ambiente empresarial, estão sempre sujeitas a uma avaliação externa que pode condenar definitivamente ou amplificar significativamente o sucesso de qualquer iniciativa. O desempenho social da organização será, em última análise, a face visível do comportamento ético dos seus dirigentes, refletindo a boa ou a má prática empresarial que se refletirá, por seu lado, nos resultados financeiros e na própria sustentabilidade da atividade da empresa (Ruf, Muralidhar, Brown, Janney, & Paul, 2001). Compreender os mecanismos que influenciam e explicam os comportamentos éticos é, portanto, um requisito indispensável para sobreviver num mercado global cada vez mais atento e mais exigente em relação às práticas empresariais.
Pretende-se neste artigo apresentar um modelo teórico explicativo do desempenho social das organizações a partir da análise dos seus determinantes culturais, organizacionais e individuais. Com base na revisão da literatura fundamental, propõe-se um modelo integrado, onde se relacionam os valores culturais, o desenvolvimento moral, o clima ético organizacional e o desempenho social, com o objetivo de destacar o papel central dos fatores não estratégicos nas opções de ação social das organizações. Com esta contribuição, pretende-se alargar o campo teórico da discussão atual sobre as motivações éticas da atuação empresarial, centrando a análise no papel decisivo que a visão subjetiva do dirigente organizacional pode ter na definição de estratégias socialmente responsáveis.
Fatores Culturais
O comportamento social, os valores morais, a conduta individual e a reação perante o desconhecido são manifestações humanas que dependem em larga medida do contexto sociocultural, onde o indivíduo se insere e que este mantém como referência. O conceito de cultura está associado a este contexto sociocultual. Citado por Ogburn, Tyler definiu cultura como um espaço complexo, onde estão incluídos os conhecimentos, as crenças, as artes, os valores morais, as leis e os costumes, assim como qualquer outra capacidade ou hábito adquirido pelo indivíduo, enquanto membro de uma sociedade (Ogburn, 1964). Swidler sugere a noção de cultura como um
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