DISCURSO CORPORATIVO - CONTRADIÇÃO
Tese: DISCURSO CORPORATIVO - CONTRADIÇÃO. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: mdgdutra87 • 25/10/2014 • Tese • 3.571 Palavras (15 Páginas) • 256 Visualizações
Se as atribulações nos escritórios tornaram-se uma fonte de angústia para os altos executivos, o que pode fazê-los mais felizes? Mais dinheiro, sucesso e poder certamente não é a resposta. Afinal, os profissionais entrevistados por Betania e sua equipe lideram os rankings de remuneração, são vistos por seus pares como estrelas e tomam decisões muitas vezes por sua conta e risco. "Estudos mostram que as pessoas mais felizes são aquelas que amam intensamente o que fazem, seja no trabalho, seja em casa, cuidando dos filhos", diz o historiador Walton. "Se forem bem remuneradas para fazer o que gostam, melhor ainda." Para Betania, há uma diferença sutil entre os conceitos de felicidade e prazer no trabalho: "Os executivos são apaixonados pelo que fazem, mas o ambiente intoxicado os impede de encontrar a felicidade". É fácil de entender. O sujeito tem prazer em lançar um novo produto, em construir fábricas, em desbravar fronteiras. O problema está nas intermináveis reuniões, na jornada excessiva, na falta de possibilidade de desfrutar outras dimensões da vida. Em não raros casos, isso provoca danos à saúde. Tempos atrás, o executivo Cledorvino Belini, presidente da Fiat, teve um problema cardíaco diretamente causado pelo estresse gerado pelo volume excessivo de trabalho. Recuperado do susto, teve de adotar a prática de exercícios físicos para equilibrar o corpo e a mente. "Hoje levo uma vida mais harmoniosa", diz. No final do ano passado, o presidente de uma grande empresa do setor de telecomunicações desmaiou no banheiro da companhia depois de participar de uma reunião com a equipe. Não era infarto ou acidente vascular cerebral, o mais comum nesses casos. Era simplesmente estresse. Recentemente, um diretor de uma empresa de alimentos surtou, reagindo aos gritos quando o chefe lhe passou uma atribuição impossível de ser cumprida no prazo estabelecido. Contido por colegas de trabalho, foi levado ao hospital e de lá seguiu para tratamento psiquiátrico. Também há pouco, um executivo de uma companhia do setor de bebidas desistiu de embarcar para o exterior numa missão profissional. Desistiu porque não conseguia enfrentar a perspectiva de um vôo e das intermináveis e muitas vezes infrutíferas reuniões que viriam a seguir. "Senti uma angústia, uma ansiedade incontrolável. Simplesmente travei", afirma o executivo, que iniciou tratamento psicoterápico.
"Frenesi mundano" é o nome que os pesquisadores dão ao estilo de vida dos executivos de ambição desmedida, supercompetitivos
Uma maneira eficaz para detectar os reais sentimentos dos CEOs - não os que se espelham em declarações oficiais, mas aqueles que se ocultam na persona bem moldada - é ouvir o testemunho de executivos que deixaram o cargo. É esse o caso do paulistano Geraldo Carbone, 50 anos. Ex-presidente da filial brasileira do BankBoston, cargo que ocupou por nove anos até que a empresa foi incorporada pelo rival Itaú, Carbone decidiu iniciar uma carreira solo, à frente da GC Capital, empresa de investimentos. Não tem subordinados, além da secretária. "O que me atraía no cargo de presidente eram os desafios", afirma. "Nunca me deixei seduzir pelo status e outras maravilhas." Hoje, Carbone afirma não ter saudade do mundo corporativo. "É insalubre, dramaticamente insalubre." Para sustentar essa visão ácida, ele afirma que a angústia flagrada pela pesquisadora Betania se deve ao aumento da complexidade do mundo dos negócios combinada com a perda de autonomia dos presidentes de subsidiárias. "Ao mesmo tempo em que aumentaram as cobranças e os prazos, tiraram do executivo as ferramentas que lhe possibilitariam dar conta de suas metas", diz Carbone. "É uma encrenca que coloca o presidente num caminho sem solução."
DAVIDE MARCOVITCH 62 anos, presidente do grupo Moët Hennessy
Nas últimas três décadas, Davide Marcovitch não se lembra de ter tirado mais de dez dias de férias seguidos. Na última vez, foi com a mulher à França e à Itália e passou todo o tempo colado ao celular. Responsável na América Latina por um grupo que tem inúmeros braços internacionais (a empresa é dona de grifes como Veuve Cliquot e Moët & Chandon), Marcovitch coordena o trabalho de 800 pessoas em diferentes países. "Nunca trabalho menos de 16 horas por dia", diz o executivo, que já chegou a dormir no escritório. "Acordo nos horários mais inusitados para falar com os escritórios no mundo." Se isso o incomoda? "Pode parecer algo irracional, mas esse ritmo é natural na minha vida." Casado há 30 anos, não tem filhos. "No começo, foi opção", diz. "Eu sabia que teria de me dividir entre trabalho e família. Para não fazer uma escolha difícil, preferi deixar de lado a chance de ter crianças." Anos depois, o casal reconsiderou a hipótese, porém já era tarde demais. "Paciência, não gosto de ficar remoendo o passado."
O aumento da complexidade, a pressão de acionistas e a aceleração da rotatividade de presidentes no cargo geraram nos Estados Unidos uma reação surpreendente dos executivos. Mais da metade dos entrevistados em uma pesquisa realizada há dois anos disse que não gostaria de ser presidente de uma empresa. Detalhe: foram ouvidos pelos pesquisadores executivos de altos postos, a meio caminho de se tornar virtuais candidatos ao principal posto de uma corporação. Uma das vítimas desse processo foi o executivo Antonio Werneck, substituído, em 2002, no comando das operações na América Latina da anglo-holandesa Reckitt Benckiser. Ele conta que enfrentou dificuldades ao negociar metas com a matriz. "Virou uma conversa de louco", afirma ele. Angustiado com tudo isso, Werneck decidiu abrir um período sabático para fazer uma revisão de vida. Freqüentou um conselheiro de executivos em Londres, viajou para o Peru, divorciou-se e casou novamente. "Hoje sou outra pessoa, capaz de calibrar melhor cada aspecto da vida, não apenas o profissional", diz Werneck, atual presidente da Santher, fabricante de papéis.
"Sinto o tempo todo que alguém da minha própria empresa me dará uma facada pelas costas", diz o diretor de uma indústria de bebidas
É muito difícil o executivo abrir mão de um salário generoso, do poder e do status que desfruta na vida executiva. "Ele cai na armadilha financeira", afirma Betania. "Acredita que uma promoção ou mais dinheiro podem aliviar sua infelicidade, mas isso é um equívoco." Em geral, é frágil a relação entre aumento
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