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FERNAO CAPELO GAIVOTA

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Por:   •  27/9/2014  •  8.034 Palavras (33 Páginas)  •  399 Visualizações

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Fernão Capelo Gaivota

Richard Bach.

PRIMEIRA PARTE

Era manhã e o sol-nascente brilhava sobre as ondas de um mar calmo.

A dois quilômetros da costa, um barco de pesca pairava sobre a água e as palavras

Pequeno Almoço relampejaram no ar, até que um Bando de gaivotas apareceu disputando

pedacinhos de comida.

Era o começo de um dia movimentado.

Mas lá longe, para lá do barco e da costa, Fernão Capelo Gaivota terminava seu treino.

A trinta metros de altura, baixou as suas patas com as membranas da asa, ergueu o

bico e tentou a todo o custo, com a força das asas agüentar uma contorção difícil e dolorosa.

Isso queria dizer que deveria voar devagar, e então abrandou até sentir o vento passar

pelo seu corpo como um sussurro, até sentir o oceano por baixo de si. Franziu os olhos, em

intensa concentração, susteve a respiração e forçou um… só mais… um… centímetro… de…

curva. Então as penas ruflaram, ele desequilibrou-se e caiu.

É sabido que as gaivotas nunca hesitam, nunca se desequilibram.

Desequilibrar-se no ar é para elas uma desgraça e uma desonra.

Mas Fernão Capelo Gaivota não era um pássaro vulgar. Sem se atrapalhar, abriu de

novo as asas naquela difícil curva, abrandou e desequilibrou-se outra vez.

A maior parte das gaivotas não se querem incomodar a aprender mais do que os

rudimentos do vôo, como ir da costa à comida e voltar.

Para a maior parte das gaivotas, o que importa não é saber voar, mas comer. Para esta

gaivota, no entanto, o importante não era comer, mas voar. Mais que tudo, Fernão Capelo

Gaivota adorava voar.

Como veio a descobrir, esta maneira de pensar não o fazia muito popular entre as

outras aves. Até os próprios pais se sentiam desanimados ao verem que Fernão passava os

dias sozinho, experimentando, fazendo centenas de vôos rasos.

Não sabia porquê, mas por exemplo, quando voava sobre a água a uma altitude inferior

ao comprimento das duas asas abertas, conseguia manter-se no ar mais tempo e com menos

esforço. Os seus vôos não acabavam com o habitual mergulhar de patas abertas no mar, mas

com um pousar leve, de patas bem unidas ao corpo. Quando começou a pousar em pé sobre a

praia e depois medindo o comprimento da aterragem, os pais ficaram muito preocupados.

- Porquê? Fernão, Porquê? – perguntava-lhe a mãe. – Por que não podes ser como o

resto do Bando? Por que não deixas os vôos rasos para os pelicanos e para o albatroz? Por

que não comes? Filho, você está que é só penas e ossos!

- Não me importo de ser apenas penas e ossos, mamãe. Só quero saber aquilo que

consigo fazer no ar, e o que não consigo, mais nada. Só quero saber.

- Escute Fernão – disse-lhe o pai com bondade. O Inverno aproxima-se. Haverá poucos

barcos, e o peixe das superfícies irá para zonas mais profundas. Essa história dos vôos está

muito bem, mas sabes que não te podes alimentar disso. Se tens estado mesmo estudando,

então estuda a comida e a forma de a conseguir. Não esqueças de que a razão por que voas é

comer.

Fernão baixou a cabeça, obediente. Durante os dias seguintes tentou comportar-se

como os outros; tentou a sério, disputando com o resto do Bando a comida junto do cais e dos

barcos de pesca, mergulhando para apanhar pedaços de peixe e pão. Mas não conseguiu.

«É inútil », pensou, deixando cair deliberadamente uma anchova, que lhe custara

bastante apanhar, aos pés de uma velha gaivota que o perseguia.

Poderia ter passado todo este tempo a aprender a voar. E há tanto que aprender!

Não tardou muito para que Fernão Capelo Gaivota voltasse a pairar no alto mar, feliz, e

aprendendo. O tema era a velocidade, e com numa semana de prática aprendeu mais sobre a

velocidade que a mais rápida gaivota.

A trezentos metros de altura, batendo as asas com toda a força que tinha, lançou-se

num vertiginosos mergulho em direção às ondas e aprendeu a razão por que as gaivotas não

fazem mergulhos vertiginosos. Passados seis segundos já se movia a cem quilômetros por

hora, velocidade que desequilibra a asa de qualquer uma, no esforço da subida.

Aconteceu o mesmo, vez após vez. Cuidadoso como era, esforçando-se até ao limite,

perdia o controlo em alta velocidade. Subir a trezentos metros. Primeiro tudo em frente, depois

empurrando o corpo em mergulho vertical. Mas, de cada vez, a asa esquerda virava para cima

e ele rolava violentamente para a esquerda, depois tentava recuperar com a asa direita e então

caía para a direita num desordenado e turbulento parafuso.

Não conseguia ser suficientemente cuidadoso naquele arranque. Dez vezes tentou, e

dez vezes ultrapassando os cem quilômetros à hora, acabou numa agitada massa de penas,

...

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