Flapress
Por: angerb91 • 4/5/2015 • Projeto de pesquisa • 1.961 Palavras (8 Páginas) • 208 Visualizações
No tópico anterior, a imparcialidade foi abordada, a fim de evidenciar a sua importância em meio ao jornalismo esportivo. No entanto, nem sempre ela é respeitada, principalmente, quando o assunto é atrelado às grandes massas. Em algumas ocasiões, a “culpa” de tomar partido mais para um lado do que para o outro não é do profissional, mas sim da linha editorial 1 imposta pela empresa em que ele atua.
No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a "FlaPress" é a maior metáfora da parcialidade presente no âmbito do esporte. Este fenômeno é definido em um artigo da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) como a crença de torcedores dos grandes clubes do Rio de que o Flamengo recebe maior e mais positiva cobertura da mídia, caracterizando quase um “complô midiático” (MONTANHA; SILVA, 2012, p. 65). Parte da imprensa utiliza a argumentação que neste aspecto a torcida faz a diferença, afinal é preciso atender a maior demanda, por isso o rubro-negro carioca se faz mais presente em noticiários, capas de jornais e em transmissões radiofônicas que os demais rivais. E isso não é feito porque fulano que narra é flamenguista ou cicrano que edita o jornal é flamenguista, mas sim para produzir o material que vai vender mais.
[...] o esporte não é somente o exercício físico entendido como jogo, nem sequer já como espetáculo catalisador de paixões e rivalidades, é um produto de consumo, um meio fantástico de publicidade, e por que não dizer, um grande negócio e um instrumento de poder e influência social (SÁNCHEZ, 2002, p. 33)
A história do Flamengo, como instituição de futebol, começou no dia 21 de setembro de 1911, quando nove jogadores do Fluminense, descontentes com a direção do clube, resolveram que a melhor opção seria a debandada geral. Fato curioso, é que o tricolor carioca, campeão estadual de 1911, tinha quase um time inteiro de atletas insatisfeitos. Barrado da equipe titular, o atacante Alberto Borgerth 2 era o líder do grupo. Foi, portanto, no dia 3 de outubro, que os nove atletas pediram demissão das Laranjeiras e tiveram como destino o Flamengo, até então um clube apenas de remo. Em assembléia realizada, Borgerth propôs aos associados rubro-negros a criação de uma seção de futebol, conseguintemente, colocando o Flamengo dentro das quatro linhas.
O termo FlaPress é oriundo da junção de duas palavras, são elas: Flamengo (Fla) e imprensa (Press em inglês). Dentro desse conceito são englobados o conjunto de jornalistas, torcedores e defensores ferrenhos do Clube de Regatas do Flamengo relacionados a algum tipo de mídia, na qual emitem opiniões, crenças e paixões de forma completamente parcial.
É válido salientar que, para fazer parte desse segmento, não necessariamente os jornalistas/comentaristas são torcedores do clube. Da mesma forma, é possível ter profissionais que torcem pelo Rubro-Negro carioca, sem, no entanto, priorizar a instituição em relação a outras, isto é, não pertencem a FlaPress.
FlaPress, portanto, é qualquer meio de comunicação que exalte o Flamengo em detrimento, no mínimo errôneo, dos seus rivais Botafogo, Fluminense e Vasco, além das equipes de outros estados brasileiros. A Rede Globo é a principal responsável pelo surgimento desse tipo de preciosismo em prol do clube.
De acordo com a pesquisa feita pelo Ibope em parceria com o jornal Lance! 3, divulgada no dia 27 de agosto de 2014, a torcida do Flamengo permanece como a maior do Brasil, alçando 32,5 milhões de seguidores. No entanto, quais seriam os fatores que alavancaram de tal forma essa massa?
Durante a ditadura, os militares viram a necessidade de criar massas alienadas para serem melhor manipuladas pela Rede Globo de Televisões, emissora esta recém criada pelo governo ditatorial, juntamente dos seus jornais oficiais. Como o futebol já era uma grande paixão dos brasileiros, a idéia foi engrandecer determinados clubes para que fossem queridos por grande parte da população menos culta, não só nos estado do Rio de Janeiro e São Paulo, mas sim em todo restante do Brasil, de forma que a alienação fosse propagada de forma mais abrangente. Algo que pode ser comparado, de maneira mais branda aos antigos regimes, citados por Luiz Amaral, em seu livro Jornalismo matéria de primeira página (2008, p 20).
Em alguns regimes, no século passado, os jornais eram mantidos pelo Estado para “educar a grande massa de trabalhadores” (URSS, socialismo), “servir a uma causa” (Itália, fascismo), “atuar como instrumento de persuasão da opinião pública” (Alemanha, nazismo), ou para criação de uma consciência coletiva” (Espanha, franquismo). Cada regime um rótulo para justificar o controle da imprensa
Essa espécie de manipulação não é exclusividade do século passado, ainda é algo recorrente no cotidiano do brasileiro que sem saber se permite ser vítima de alienação e, aceita todas e quaisquer justificativas que tenham sido “injetadas” na sua cabeça por meio do discurso persuasivo utilizado no jornalismo. Fato citado também no livro Jornalismo matéria de primeira página (AMARAL, 2008, p 14).
Moldam a produção a seus interesses, sempre foi assim, novidade nenhuma. Hoje o processo se torna mais real e perverso com o aprimoramento do discurso e das técnicas de persuasão
Roberto Marinho, dono das Organizações Globo, foi um fanático torcedor rubro-negro e, em sua trajetória, não teve dúvidas em escolher o Flamengo como o clube de maior preferência da mídia. Por meio desta projeção nasceu o mito da “Imensa Nação”, obviamente, com a Globo imortalizando suas cores, jogadores e torcedores.
Walter Clark (rodapé), que comandou a Rede Globo por 12 anos (1965 – 1977) deixou o grupo para se tornar vice-presidente do Flamengo no ano de 1978. A partir de então, em média, a cada três jogos transmitidos pela emissora um era do Rubro-Negro. Assim surgiu o fenômeno Zico que, curiosamente, virou lenda e, em contrapartida, foi fundamental na eliminação do Brasil em três Copas do Mundo (78, 82 e 86).
Para evidenciar o fato, na já supracitada obra de Luiz Amaral, o autor definiu que “jornalista, em geral, subestima a capacidade do leitor, ouvinte ou telespectador. Além do mais, há coisas que convém não deixar o público saber” (AMARAL, 2008, p 15).
Os programas esportivos, em geral, minimizam as torcidas, as vitórias e as conquistas de Botafogo, Fluminense e Vasco e exaltam qualquer fato relativo do Flamengo. É perceptível a qualquer pessoa que acompanha o futebol que os narradores tendem a dar mais emoção quando sai um gol do Rubro-Negro e, principalmente, quando este sai vitorioso. Pode-se concluir, portanto, que a história do clube está vinculada diretamente com as Organizações Globo.
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