H2onacara
Por: Everton Oliveira • 4/5/2015 • Dissertação • 835 Palavras (4 Páginas) • 196 Visualizações
Água gelada na cara
O dia começou cedo para Maria, por volta das cinco da manhã, um recorde de horário, pois sempre acordou depois das seis, nada antes disso. O sono é considerado um privilégio e de beleza para sua família. Sempre teve de tudo, ótimos colégio, melhores professores, aulas de balé, e falando em balé, esse foi o motivo para acordar tão cedo. Hoje é um dia especial, de prova para uma das grandes universidades do país, ensino superior, considerado por muitos como escolaridade/profissão e na família dela, só mais um acessório.
Para ela é diferente, quer mesmo fazer isso, porque ama. Mas para isso tem que fazer por merecer, ou seja, competir com outras pessoas para a caga do curso de Teatro e Dança, especificamente a dança, a prova pedirá para os concorrentes fazerem uma apresentação livre de balé clássico. Se sairá bem, faz isso desde os sete anos idade, agora com quinze, é quase uma profissional.
Entra no carro com sua mãe, põem seu tocador de música portátil a funcionar, não diz nada com a mãe para não perder a concentração, coloca os fones de ouvido, e o carro segue o caminho. A mãe quebra o gelo da manhã fria.
- Não se preocupe, se você não conseguir a bolsa, você fará direito – diz com uma voz sem emoção.
- Eu posso tentar ano que vem de novo – com esperança que a mãe aceitasse, sabe que os pais detesta a ideia de Teatro e Dança, se soubessem que ia dar nisso, jamais teriam pago uma academia de balé.
-Não – disse como se a conversa acabasse por ali mesmo.
O silêncio caiu cem graus Celsius. A alguns metros já dava para ver a universidade, grande, esplêndida, construída a tijolos medievais empilhados a mão. Já tinha alguns concorrentes na frente, de todas as classes.
- É isso mesmo o que você quer – perguntou a mãe cochichando no ouvido da filha.
- O que você quer dizer com isso – perguntou a filha bem baixo.
- Olhe a classe dessa gente, vieram da periferia, ou favela ...
- Isso é errado mãe ... – tentou argumentar contra a mãe
- Às vezes acho que você nasceu para ser rebelde, me defrontar, não me dá orgulho em nada – disse e deu as costas, foi para arquibancada. A filha ficou se preparando, se aquecendo. Quando ouviu duas meninas não muito longe comentando.
- Isso vai ser moleza, olha esse espaço, na minha casa eu treinava num canto de dois metros quadrado, com esse espaço posso até fazer uma interpretação do cisne negro – comentou uma com a outra.
- Sim amiga, moleza para você, te desejo sorte, vou te esperar com os outros – foi embora.
Maria se aproximou, da concorrente e perguntou.
- O que você quis dizer que treinava num espaço de dois metros quadrados?
- Moro na periferia, casa em cima de casa, espaço é mínimo, mas isso sempre foi meu sonho, e não vou desistir, além do mais, consegui fazer várias apresentações para a parede do meu quarto.
Maria ficou chocada, um balde de água fria no seu rosto, como que alguém treina num aperto e para a parede, pensou consigo mesmo, culturas diferentes, pensou de novo, de repente chama-se uma voz do além chamando Aghata. Se assustou e viu que era uma instrutora, era a vez da Aghata de fazer a apresentação. Maria curiosa do que ela faria foi ver atrás da cortina.
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