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Novos Clássicos

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Por:   •  30/7/2014  •  7.680 Palavras (31 Páginas)  •  325 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

Uma Introdução à Teoria Novo-Keynesiana

Ricardo Dathein*

Nos anos 1980, vários autores neoclássicos questionaram fortemente a teoria Novo-Clássica (“herética”, segundo Ball e Mankiw, 1994) e elaboraram um retorno ao keynesianismo neoclássico, “... recolocando o trem nos trilhos” (Blinder, 1989: 111) com a teoria Novo-Keynesiana. Essa seria uma concepção “tradicionalista”, visto que baseada em uma longa tradição com origem em David Hume e passando por Keynes, Friedman, Modigliani e Tobin, explicando porque no curto prazo a curva de oferta agregada é ascendente e não vertical, ou seja, porque variações na demanda agregada afetam também a produção e o emprego e não somente os preços, tendo, portanto, efeitos reais e não somente nominais. Para a concepção Novo-Keynesiana não existe teoricamente (ou melhor, não pode ser tomado como se existisse) o leiloeiro walrasiano, que garantiria níveis de emprego de equilíbrio com market clearing, da mesma forma que não existe um agente econômico representativo homogêneo, o que abre a possibilidade da ocorrência de problemas de coordenação nas ações econômicas dos agentes, em sua heterogeneidade, em contextos de mercados imperfeitos e informações incompletas (Greenwald e Stiglitz, 1993: 42).

No entanto, voltar aos modelos neoclássicos anteriores à teoria Novo-Clássica não seria adequado. Segundo Mankiw (1990: 1647), o consenso macroeconômico neoclássico existente até o início dos anos 70 foi rompido por motivos empíricos e teóricos. A inflação e o desemprego dos anos 70 não teriam sido satisfatoriamente explicados e faltava uma fundamentação teórica microeconômica adequada para a macroeconomia, o que teria permitido o ataque Novo-Clássico. Essa é, então, a proposta Novo-Keynesiana: construir a base teórica, ou seja, os fundamentos microeconômicos, da rigidez de preços e salários que geram flutuações econômicas e desemprego. Com isso, a teoria também promoveria uma reaproximação com a realidade, depois de seu afastamento promovido pela teoria Novo-Clássica (Mankiw, 1985: 529).

Em nível microeconômico, a teoria Novo-Keynesiana adota os fundamentos neoclássicos de agentes maximizadores fazendo o melhor uso das informações disponíveis. A Hipótese das Expectativas Racionais é aceita, apesar das restrições colocadas pelo fato de que esta não poderia ser demonstrada. Em relação aos microfundamentos da macroeconomia, destacam-se as falhas ou barreiras de mercado que impedem o market clearing. Dessa forma, constata-se a existência de falhas de coordenação no contexto de decisões descentralizadas e diferentes poderes de mercado, de forma que decisões individuais podem gerar externalidades macroeconômicas. Por outro lado, no contexto econômico existe concorrência imperfeita, havendo agentes formadores, e não simplesmente tomadores, de preços e salários. Então, para os agentes econômicos, existe rigidez de preços e salários originada por assimetrias de mercado, heterogeneidade de bens e fatores, informações imperfeitas e especificidades de transações, por exemplo. A competição imperfeita, por outro lado, cria externalidades de demanda agregada que levam a que os custos sociais da rigidez de preços sejam maiores que os custos privados. Desta forma, mantém-se o critério de racionalidade das Expectativas Racionais, mas muda-se o contexto onde os agentes atuam. Este contexto é tomado como norma pela teoria Novo-Keynesiana, e não como exceção, o que justifica sua primazia na elaboração teórica.

Portanto, segundo a visão Novo-Keynesiana, as flutuações econômicas são resultantes de imperfeições de mercado, ou a resposta às falhas dos salários e dos preços em se ajustarem instantaneamente para equilibrar oferta e demanda ou para gerar market clearing. Contudo, isto não é novidade, uma vez que este já era o consenso “velho-keynesiano”, da Síntese Neoclássica. Para os teóricos “clássicos”, tanto os “velhos” quanto os “novos”, ocorre em princípio ajustamento instantâneo de preços e salários quando ocorrem choques de demanda. Para os neoclássicos keynesianos, tanto os “velhos” quanto os “novos”, este ajustamento não é instantâneo no curto prazo. Ou pode-se dizer que se pressupõe, ou se constata, que a velocidade de ajustamento das quantidades (produção e emprego) é maior que a dos preços e salários. Davidson afirma que a distinção fundamental entre “velhos” e “novos” keynesianos é que, para os últimos, a velocidade de ajustamento de preços e salários é menor (ou que a rigidez é maior) que para os primeiros (Davidson, 1999: 48-9, 60).

Desta forma, são os fatores de rigidez nos mercados de trabalho e de bens que determinariam a taxa natural de desemprego, ou a NAIRU. Os modelos novo-keynesianos são chamados também de teorias estruturalistas de desemprego devido ao fato de que a NAIRU seria determinada por variáveis estruturais. Além disto (da NAIRU), haveria variações cíclicas da taxa de desemprego causadas por movimentos não previstos de salários e preços (Madsen, 1998: 850). Portanto, ao contrário de Keynes, que destaca os problemas da demanda agregada e a incerteza como geradoras de desemprego, os teóricos novo-keynesianos acentuam fatores de rigidez na oferta agregada como causadores de resultados não ótimos no produto e no emprego. O desemprego teria origem microeconômica, e não macroeconômica. Desse modo, a fonte do desemprego volta principalmente ao mercado de trabalho, caracterizando a teoria como neoclássica, o que produz fortes críticas sobre o seu pretenso keynesianismo, por parte de autores pós-keynesianos .

Greenwald e Stiglitz (1993) apresentam uma interpretação sobre a teoria Novo-Keynesiana, ressaltando a existência de uma segunda vertente, além da que destaca o papel dos fatores de rigidez. Essa vertente alternativa, defendida pelos dois autores, questiona a conclusão de que a plena flexibilidade de preços e salários garantiria o ajuste rápido em caso de ocorrência de choques na economia, mantendo o pleno emprego. Ao contrário, partindo das afirmações de Keynes que destacam os efeitos positivos da rigidez, os autores afirmam que a plena flexibilidade de preços e salários poderia amplificar e tornar persistentes as flutuações econômicas. Portanto, o foco não deveria ser centrado na rigidez de preços e salários, mas em falhas de mercado, como a assimetria ou a insuficiência de informações. Dessa forma, forças econômicas

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