O Fantasma Do Quase
Monografias: O Fantasma Do Quase. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Ethien • 22/4/2014 • 571 Palavras (3 Páginas) • 228 Visualizações
O fantasma do quase.
Talvez 1956. Quinze anos de idade. Cabelo escuro e brilhante
preso num “rabo de cavalo”, com pequenas flores caprichosamente
cobrindo o elástico. Rosto corado, queimado de sol, valorizando os
dentes brancos e perfeitos. No pescoço e nas orelhas, as perolas,
também brilhando. Vestido branco, bastante decotado, privilegiando
o pescoço esguio (de princesa, diziam) e o colo. A cintura fina,
cingida por larga faixa, prometendo um alargar suave nos quadris.
Anáguas engomadas sustentando camadas de tule na saia larga e
farta. Embaixo, sob as muitas saias um pesado par de botas pretas.
O salão de festas fervilhando no baile de formatura da amiga.
Silvio Mazzuca e seu conjunto impregnando o ambiente com “ Blue
Moon”, “Tenderly”...
Começo de noite, olhares exploratórios, tamborilar de dedos
sobre a mesa, sorrisos meio envergonhado. Guaraná esquentando
no copo. A bolsinha de lantejoulas brancas e leitosas encerrando,
como a um tesouro, o espelho.
Sentada, a expectativa de ser tirada para dançar. Os
pensamentos volteando pela cabeça: que vitória havia sido dançar.
Os primeiros passos hesitantes, a duvida, o “será que vou
conseguir”? Os tios jovens e os amigos, sem pressa acompanhando
e construindo juntos “sisteminhas” de compensação, de balanço,de
parada. O mais difícil foi sempre o giro para a direita, mas um novo
“sisteminha” resolveu o problema.
Medo de chá de cadeira não havia, pois os amigos já há muito
compartilhavam o dançar e amigos era o que não faltava por lá: o
pessoal do Jardim Paulista, os riobranquinos e os mackenzistas.
A expectativa muito mais dirigida para os rostos novos, os
desconhecidos e, quem sabe, misteriosos galãs de olhos verdes.
De repente acontece: ali está ele inclinado sobre mim. Sorriso
largo, topete, e os imprescindíveis olhos verdes (se fecho os meus,
consigo vê-lo ainda hoje com toda a riqueza de detalhes).
- Vamos dançar?
- Caminho tortuoso entre as mesas, um passo para esquerda,
um desviar de cadeira, dois passos para direita, uma parada deixar
passar outro casal, mais dois passos para direita... Devemos ter
chegado à pista sem termos caminhando em linha reta e de forma
cadenciado. Claro que no momento não dei conta disso. Só mais
tarde, ao processar vagarosamente aquela noite, pensei nesse
trajeto da mesa à pista. Começamos a dançar e sei, ainda, que era
a
...