O que é religião?

O autor inicia o livro resgatando a importância que Deus, crença e religião tiveram em um tempo passado. E isso era tão verdade que antigamente pessoas que não compartilhavam desta ideologia morriam queimadas em fogueiras, ou por livre e espontânea vontade se aquietavam de forma a esconder do mundo aquela descrença que os classificava como anomalia. Atualmente, percebe-se que algo aconteceu. O crescimento da ciência e da tecnologia promoveram uma laicização de argumentos e explicações para os fenômenos que aconteciam, minimizando a importância e participação da religião nestas esferas, sem que isso significasse o seu fim.

A prova de que a religião não desapareceu é que hora ou outra invocamos as mesmas perguntas que antigamente, mas de outra forma, questionando sobre a harmonia, paz interior, resolução de conflitos entre homens, etc. Ou seja, a religião está intimamente ligada com nossas experiências pessoais.

O homem diferencia-se dos animais pois não se vincula somente às ordens do corpo. Os animais possuem ações pré-determinadas, um padrão de comportamento e nascem com um instinto muito forte, ao contrário do homem, que consegue fazer escolhas, alterar seu caminho e se abrir para coisas novas, modificando o ambiente em que se insere e construindo uma cultura. Através desta capacidade inerente ao homem de construir e modificar sua própria cultura, o homem criou símbolos, que se unindo propiciaram o surgimento da religião. A religião, compreendida como uma rede de símbolos, é objeto de determinada valoração, ou seja, o homem irá definir quais símbolos e objetos se tornarão sagrados, e quais continuarão pertencendo ao mundo profano. O sagrado, portanto, não pode ser compreendido como algo inerente das coisas e gestos. A religião nasce através do poder dos homens de dar nomes às coisas e fazer estes tipos de definições acerca das coisas que o cercam. O motivo pelo qual ele faz isso, é que sem a religião a vida se apresentaria de forma muito vazia, ou sem sentido.

A partir da significação da religião, é possível transformar coisas brutas e profanas em sagradas, por exemplo, o pão e o vinho nada tem de sagrado, podendo ser inclusive utilizados em uma orgia, mas quando tomados pela palavra divina, entram no mundo do invisível e ganham uma valoração imensa com um sentido de extrema importância. Os símbolos respondem a uma finalidade própria de nos fazer viver em uma vida que tem sentido. Para isso, eles estão sempre a nos auxiliar quando ocorrem confronto de valores, ou situações em que a vida parece se esvaziar se emoção, ordem, significado.

Se aqueles que compartilham a valoração dos símbolos possuem uma ordem interna, integração, unidade, direção e se sentem efetivamente mais fortes para viver (Durkheim), teremos então descoberto a efetividade e o poder dos símbolos.

O mundo humano é um tanto quanto curioso e peculiar, pois o homem é quem cria tudo de seu mundo, como ocorre com a cultura. Por isso se diz que se um dia o homem desaparecer, estas coisas também desaparecerão, por isso dizer que tais coisas são artificiais e convencionadas, pois se opõe ao que ocorre com a natureza: O pôr do sol, a noite, o dia, o ponto de ebulição da água... Todas estas coisas estão alheias à vontade do homem, e por isso pertencem ao mundo da natureza. Conforme explicado anteriormente, através da imaginação dos homens nascem os símbolos, e estes sofrem um processo de reificação, ou seja, a cada geração afastamos estas criações do mundo imaginário para que se fortaleçam no mundo das coisas, da realidade, e com isso, as novas gerações já nascem imersas neste novo mundo pronto e se esquecem que houve todo um processo de criação do que atualmente está consolidado. Certos símbolos derivam o seu sucesso do seu poder para congregar os homens, que os usam para definir a sua situação e articular um projeto comum de vida, e um dos exemplos clássicos é a religião. Para entendermos de fato, o que é religião, precisamos voltar no tempo, e analisar como se deu esta construção, e qual o significado que podemos lhe atribuir hoje.

No processo histórico através do qual nossa civilização se formou, recebemos uma herança simbólico-religiosa, a partir de duas vertentes. De um lado, os hebreus e os cristãos. Do outro, as tradições culturais dos