Origens da Sociologia
Por: Ninaqueridinha • 9/9/2015 • Projeto de pesquisa • 5.980 Palavras (24 Páginas) • 465 Visualizações
Origens da sociologia: Fatores históricos
- Elementos introdutivos
A sociologia é uma ciência que nasce como resultado de um conjunto de circunstâncias e acontecimentos que se entrelaçam abrindo uma nova etapa da história que é a modernidade. Acontecimentos históricos criam novas realidades sociais: uma nova abordagem epistemológica, através da qual, o homem moderno busca entender toda a realidade a partir da ciência suscita o desejo de entender estas novas realidades sociais a partir de uma abordagem científica. Com o surgimento da sociologia, o saber científico, que busca abranger toda a realidade, incorpora também o mundo social.
Como as demais formas de conhecimento, a Sociologia nasce a partir de necessidades vividas pela humanidade. Novas situações geram novos problemas que necessitam de novas respostas. Assim, a sociologia nasce no século XIX, buscando responder aos desafios sociais do seu tempo.
Dois fatores são particularmente importantes para o surgimento da Sociologia: fatores históricos que geram uma nova realidade social; fatores epistemológicos que criam as condições para uma nova forma de compreender e explicar a realidade. Nesta primeira semana, vamos abordar os fatores históricos; os fatores epistemológicos ficam para a próxima semana.
- Fatores históricos
Podemos dizer que, do ponto de vista histórico, três acontecimentos foram fundamentais, enquanto causaram profundas transformações nas bases sociais da convivência humana.
2.1 A Revolução Industrial
O primeiro deles é de ordem econômica: a Revolução Industrial. Esta representa uma das maiores e mais rápidas transformações sociais da história da humanidade. Até o final do século XVIII e início do século XIX, a maior parte da população da Europa vivia no campo numa economia de subsistência, isto é, fundamentalmente produziam o que consumiam. A produção era feita de forma artesanal, isto é, manual.
O surgimento das máquinas alterou as formas de produção, mas não é só isso. Alteraram também as relações entre as pessoas. Surgiram novas classes sociais: a burguesia, representada pelos donos dos bens de produção e o proletariado, formado pelas pessoas que participavam do processo produtivo com o próprio trabalho.
A ambição desmedida de lucros por parte dos empresários os levava a submeter os trabalhadores a situações degradantes: salários baixos, jornadas de trabalho mínimas de 12 horas, sem feriados nem férias, não raro em condições de trabalho desumanas. Muitas crianças e mulheres também precisavam trabalhar para sustentar suas famílias.
Estas mudanças econômicas geraram fenômenos sociais novos: o crescimento das cidades (urbanização), o surgimento da família nuclear, a proletarização, novas formas de pobreza e novos conflitos políticos. O desaparecimento dos pequenos proprietários no setor agrícola, bem como dos artesãos independentes juntamente com a imposição de prolongadas horas diárias de trabalho trouxeram efeitos traumáticos para milhões de pessoas. Estas viram suas condições normais de vida radicalmente transformadas.
As situações desumanas de trabalho e a péssima remuneração geraram um clima de forte conflito que se desencadeou na luta de classes. Como afirma Martins, as “manifestações de revolta dos trabalhadores atravessaram diversas fases, como a destruição das máquinas, atos de sabotagem e explosão de algumas oficinas, roubos e crimes evoluindo para a criação de associações livres, formação de sindicatos etc” (1994, 14)
O fenômeno galopante da urbanização levou a um crescimento vertiginoso das cidades sem que estas estivessem preparadas. De consequência, não haviam moradias suficientes bem como serviços sanitários e de saúde capazes de acolher as populações que deixavam o mundo agrícola. Para se ter uma ideia da rapidez do processo de urbanização, basta considerar a situação da cidade de Manchester, na Inglaterra, a qual, na primeira metade do século XIX, passou de setenta para trezentos mil habitantes. Se fizermos as contas perceberemos que isto significa um crescimento de seiscentos por cento em apenas cinquenta anos.
2.2 A Revolução Francesa
Contemporânea à Revolução Industrial é a Revolução Francesa que inicia em 1789. Antes dela, pelo regime monárquico, o poder era passado de pai para filho. A família real detinha o poder com uma gama de privilégios que a diferenciava dos demais. A Revolução Francesa instaurou um novo ideal para a sociedade, caracterizado pelo lema: igualdade, fraternidade e liberdade. A partir desse momento, o poder é concedido temporâneamente a alguém, através do voto democrático, mas o povo, no seu todo, é considerado o verdadeiro detentor do poder. Este segundo acontecimento, traz, portanto, profundas mudanças do ponto de vista político. Segundo o autor Carlos Eduardo Sell, este novo modo de pensar foi como um terremoto nas tradições políticas da Europa. A partir destas mudanças surge a necessidade de um estudo da sociedade que ajude a garantir sua estabilidade.
- O Iluminismo
A palavra Iluminismo é um substantivo do verbo iluminar. É assim que seus representantes olham para esta nova fase da história da humanidade. O grande otimismo em relação à capacidade e potencialidades humanas, experimentado a partir de meados do século XIX, leva muitos pensadores a olhar para traz e ver apenas trevas. A Idade Média, para eles, seria um período de ignorância caracterizado como idade das trevas. Hoje se tem consciência de quanto é errônea esta forma de pensar. Obras como as da pesquisadora francesa Régine Pernoud – A Idade Média, o que não nos contaram e Luz sobre a Idade Média, ambas publicadas no Brasil – mostram a riqueza cultural deste período.
Ao estudar um determinado fenômeno humano, são importantes perguntas como: quando começa? Até quando vai? Quem são seus protagonistas?
Sabemos que as grandes mudanças na história da humanidade nunca acontecem de um momento para o outro, mas, pelo contrário são longamente preparados por uma série de fatores. Por isso fica sempre difícil estabelecer datas precisas do início ou fim de um determinado fenômeno humano. O mesmo acontece com o Iluminismo. Há, porém, um certo consenso que o movimento se afirma a partir de meados do século XVIII.
Ao falar dos protagonistas, poderíamos dizer que autores como (1596-1650),Francis Bacon (1561-1626), Baruch Spinoza (1632-1677), John Locke (1632-1704), Issac Newton (1643-1727) estão entre os seus principais precursores. Barão de Montesquieu (1689-1755), Voltaire (1694-178), Jean Jacques Rousseau (1712-1778) e Immanuele Kant (1724-1804) são seus principais representantes.
Do ponto de vista filosófico, o Iluminismo tem suas raízes no filósofo René Descartes († 1650) o qual demonstra sua grande confiança na capacidade da razão humana. Segundo o filósofo, a verdade pode ser alcançada a partir de duas habilidades que lhe são próprias: duvidar e refletir. A razão torna-se critério último e único da verdade. É verdadeiro aquilo e somente aquilo que pode ser demonstrado racionalmente. Todos os outros saberes são menosprezados, uma vez que não temos nenhuma segurança sobre a sua veracidade.
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