Psicologia Social E Serviço Social
Seminário: Psicologia Social E Serviço Social. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: cocarodrigues • 17/9/2014 • Seminário • 1.014 Palavras (5 Páginas) • 230 Visualizações
A reflexão sobre o trabalho doméstico, que constitui a questão central deste texto, está
embasada no conceito de divisão sexual do trabalho. Segundo Kergoat (2001) “a divisão sexual
do trabalho tem por característica a designação prioritária dos homens à esfera produtiva e das
mulheres à esfera reprodutiva como também, simultaneamente, a captação pelos homens das
funções com forte valor social agregado (políticos, religiosos, militares, etc.)”. O trabalho
doméstico é definido, por essa autora, como aquele através do qual se realizam as tarefas do
cuidado e da reprodução da vida, o qual é um elemento fundante dessa divisão e, portanto,
funcional e integrado ao modo de produção capitalista (Kergoat 1998).
Ainda segundo Kergoat (1998), a noção de trabalho doméstico não é ahistórica. É a forma
concreta que toma o trabalho reprodutivo designado para o grupo das mulheres em uma
sociedade assalariada. Ele se coloca como uma dimensão da divisão sexual do trabalho, quando
da reestruturação trazida pelo desenvolvimento do sistema capitalista, que separa um
espaço/tempo para trabalhar e ganhar um salário, do espaço/tempo do trabalho da reprodução.
Quando a nova ordem capitalista instaurou a separação espaço/tempo entre trabalho
produtivo e reprodutivo, produziu também um princípio da separação de trabalho de homens e
trabalho de mulheres e deu a essa separação uma conotação hierárquica (Kergoat, 1998). Esse
princípio, doravante sustentado por estruturas material e simbólica, é um elemento determinante
na configuração das relações sociais entre homens e mulheres, de acordo com a sua inserção de
classe.
Esse princípio organizador da divisão sexual do trabalho estabelece uma outra
configuração que associa homens/produção/esfera pública, mulheres/reprodução/espaço privado,
conferindo a essas associações, dentro do mesmo princípio hierárquico, uma qualificação da
primeira como sendo da ordem da cultura e a segunda como sendo da ordem da natureza. O
poder patriarcal, que antecede esse nova ordem, é reestruturado dentro dos novos princípios para
assegurar o poder dos homens. Neste sentido às atribuições do trabalho doméstico se junta a
privação das mulheres à esfera pública. Como afirma Saffioti (2004) “O patriarcado refere-se a
milênios da história mais próxima, nos quais se implantou uma hierarquia entre homens e
mulheres, com primazia masculina.”
Para Scott (1991), “Mais do que refletir um processo objetivo de desenvolvimento
histórico, a história da separação do lar e do trabalho contribuiu para esse desenvolvimento; essa
separação forneceu os termos de legitimação e as explicações que construíram o ‘problema’ da
mulher trabalhadora, minimizando continuidades, assumindo que as experiências de todas as
mulheres eram iguais e acentuando as diferenças entre homens e mulheres”. Para essa autora, o
discurso do século XIX sobre a separação entre o lar e o trabalho “conceptualizou o gênero como
uma divisão sexual do trabalho ‘natural’”. Legitimando essa separação e a assignação das
mulheres ao trabalho doméstico como atributo da sua feminilidade, estavam também os discursos
médicos, jurídicos e filosóficos.
Pode-se dizer que a própria noção de feminino, como uma representação genérica dos
atributos sociais e mesmo psíquico das mulheres constrói-se em uma relação direta com o
trabalho doméstico, na qual uma coisa dá sentido a outra. No processo de constituição de um
modelo feminino no Ocidente, forjado no século XIX, nos países do Norte, necessário à nova
forma de organização social do trabalho e à manutenção do poder dos homens, as mulheres e o
trabalho doméstico foram tomada como coisas inextricáveis.
Quando percorremos a história da revolução industrial vamos encontrar, desde o seu
início, a presença das trabalhadoras assalariadas e podemos, também, perceber uma persistente
negação histórica em considerar as mulheres como parte da classe trabalhadora. Dessa forma, as
mulheres engajadas no trabalho assalariado foram tratadas como fora do seu lugar e, por isso, a
inserção das mulheres no mercado de trabalho foi, desde aí, tratada como uma ausência do
espaço para o qual elas estavam “destinadas”. Esse discurso de sustentação de uma ideologia
que produz a desvalorização da participação das mulheres, no mercado de trabalho, foi uma
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