Relatórios verticais e horizontais
Relatório de pesquisa: Relatórios verticais e horizontais. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: ROCKEU • 19/11/2014 • Relatório de pesquisa • 1.115 Palavras (5 Páginas) • 307 Visualizações
horizontal da accountability, os agentes da sociedade civil. Alguns autores (o autor cita
Roberto Pastor) identificam uma terceira posição na dicotomia vertical e horizontal,
construída em torno da distinção entre estado e sociedade civil. Retornaremos a esse ponto
adiante, quando introduzirmos a questão da governança e da legitimidade democrática,
afirmando que ambos os termos demandam a dimensão da accountability societal para que
possam fazer algum sentido.
Accountability vertical e horizontal
Começaremos pela concepção de O´Donnell sobre accountability. A análise deste autor sobre
as várias accountabilities tem como matriz básica as três correntes clássicas do pensamento
político: democracia, liberalismo e republicanismo. Tendo como ponto de partida que as
poliarquias incorporam elementos das três tradições, o autor identifica os componentes
liberais, republicanos e democráticos no exercício da accountability.
O componente liberal das poliarquias modernas aponta para a existência de direitos que não
devem ser usurpados por nenhum poder, incluindo o estado. O componente republicano
salienta o cumprimento do dever público, a busca incessante do melhor interesse público
como sua marca distintiva. Ambas as tradições pressupõem uma divisão clara entre o privado
e o público, embora com conseqüências e de forma diferenciada. Para a tradição liberal, o
locus do valor está no espaço privado, na esfera do mercado. Para a tradição republicana, o
espaço público é o lugar das virtudes, do processamento do bem público. O´Donnell enfatiza
que essa divergência leva a implicações distintas quanto aos “direitos e deveres políticos,a
participação política, o caráter da cidadania e da sociedade civil e de outros temas que
constituem a substancia mesma do debate político” (O´Donnell, 1998, p 32). No sentido de
uma distinção entre o privado e o público, a tradição democrática é monista, por não
pressupor tal distinção como constitutiva e nem pressupor uma elite virtuosa, aceitando que
todos são qualificados para o exercicio da política, para participação no demos. O demos pode
deliberar sobre qualquer questão e tem como suposto a igualdade dos cidadãos em seu direito
positivo de participação na decisão do demos (O´Donnell, 1998, pp 30-33).
Sinteticamente, o argumento do autor é o seguinte: nas poliarquias modernas, a dimensão
democrática da accountabilityé assegurada pelo exercício da accountability vertical,
principalmente através dos mecanismos das eleições e do voto. Estes, entretanto, são
insuficientes para o controle da ação governamental. Vários autores, entre eles e
especialmente, Przerworsky, Manin e Stokes, apontam esta insuficiência.
O argumento dos autores problematizam a questão da eleição (accountability vertical) e
representação, indagando sobre os limites do voto para induzir a atuação dos governantes no
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sentido do “melhor interesse do cidadão”. Dessa forma, afirmam que as eleições não
constituem o mecanismo democrático por excelência para induzir a representatividade.
Distinguindo entre governo responsivo (adota política assinaladas como preferidas pelos
cidadãos) e accountable (na medida em que os cidadãos podem discernir se os governos estao
agindo em seus interesses e podem punir apropriadamente os governos não representativos),
os autores identificam que um governo pode agir de forma representativa (agir no melhor
interesse do cidadão) porque ou é responsivo ou accountable, ou ambos. O que segue do
argumento é que um governo pode ser responsivo sem ser representativo, uma vez que pode
ter informações e condições de agir no melhor interesse do cidadão mas não o faz, embora
siga as orientações de seu mandato. Pzerworski resume apropriadamente o ponto: “ou
governantes seguem políticas que proporcionam o bem estar dos eleitores, mesmo desviando
de seus mandatos, ou eles aderem aos seus mandatos mesmo sabendo que ao implementá-los
resultados sub-ótimos para os eleitores emergirão. Se os eleitores nao estiverem certos sobre
quais políticas melhor serviriam aos seus interesses, eles não podem ter certeza se o governo
está agindo no sentido de seus melhores interesses quando o governo implementa ou trai suas
promessas. E, desde que os governos sabem que os eleitores não sabem, eles dispõem de uma
enorme janela para fazer coisas que eles, e não os eleitores, querem” (Przeworski, 1998, p.
12).
Tendo pontuado a questão da insuficiência do mecanismo do voto (accountability vertical)
para garantir representatividade e, em certa medida, a capacidade de governança do Estado,
cabe apresentar a concepção de controle mútuo dos poderes como instrumento de
responsabilização governamental.
A noção de accountability horizontal aponta para a
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