Simbolismo,literatura Brasileira
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CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE ITAITUBA-LTDA
FACULDADE DE ITAITUBA-FAI
CURSO DE LICENCIATURAPLENA EM LETRAS V
LITERATURA BRASILEIRA: SIMBOLISMO
ITAITUBA-PA
2013
AMANDA DANYELLE FERREIRA GALVÃO
MARIA LIA ALVES DA FARIAS
LITERATURA BRASILEIRA: SIMBOLISMO
ITAITUBA-PA
2013
SUMÁRIO
Introdução ...........................................................................................................04
Características Gerais do Simbolismo.................................................................05
Contexto Histórico do Simbolismo.......................................................................06
A Prosa de Ficção................................................................................................07
O Simbolismo na Poesia......................................................................................08
A Difusão do Simbolismo.....................................................................................09
Alphonsus de Guimaraens...................................................................................10
- Biografia.
- Poema Ismália
- Análise do Poema Ismália..................................................................................11
Cruz e Souza........................................................................................................12
-Biografia
- Poema Antífona
- Análise do Poema Antífona................................................................................13
Conclusão.............................................................................................................14
Referências Bibliográficas....................................................................................15
INTRODUÇÃO
O simbolismo foi um movimento que se desenvolveu nas artes plásticas, teatro e literatura. Surgiu na França, no final do século XIX, em oposição ao Naturalismo e ao Realismo. Essencialmente poético, o Simbolismo representa uma ruptura artística radical com uma mentalidade cultural do Realismo-Naturalismo, buscando fundamentalmente retomar o primado das dimensões não-racionais da existência.
No Brasil, o simbolismo teve início no ano de 1893, com a publicação de duas obras de Cruz e Souza: Missal (prosa) e Broquéis (poesia). O Simbolismo brasileiro, segundo alguns autores, não foi tão relevante quanto o europeu. Em outras palavras não conseguiu substituir os cânones da literatura oficial, predominantemente realista e parnasiana. Seu caráter universalizante e ao mesmo tempo intimista, não respondiam às questões Nacionais. Esta estética teve como principais representantes os autores Alphonsus de Guimaraens e Cruz e Souza, que se destacaram na poesia, com os poemas Ismália e Antífona.
Portanto, o Simbolismo teve o seu término no final do século XIX, com o inicio do Modernismo, já no século XX.
CARACTERÍSTICAS GERAIS DO SIMBOLISMO
As características gerais do Simbolismo são a ênfase em temas místicos, obras de caráter individualista, de desconsideração das questões sociais abordadas pelo Realismo e Naturalismo, a estética das obras era marcada pela musicalidade na qual a poesia aproxima-se da música, a utilização de recursos literários como, por exemplo, a aliteração.
Os poetas simbolistas acreditavam que a realidade é complexa demais pra ser apreendida e descrita de maneira objetiva e racional, como pretendiam os realistas e parnasianos. Eles voltaram-se para o universo interior e os aspectos não-racionais e não lógicos da vida, como o sonho, o misticismo, o transcendental. Propunham o exercício da subjetividade contra a objetividade - retomando, de modo diferente, o individualismo romântico.
Entre as inovações formais que caracterizam o Simbolismo estão à prática do verso livre, em oposição ao rigor do verso parnasiano, e o uso de "uma linguagem ornada, colorida, exótica, poética, em que as palavras são escolhidas pela sonoridade, ritmo, colorido, fazendo-se arranjos artificiais de parte ou detalhes para criar impressões sensíveis, sugerindo antes que descrevendo e explicando", de acordo com Afrânio Coutinho. Traços formais característicos do Simbolismo são a musicalidade, a sensorialidade, a sinestesia (superposição de impressões sensoriais).
O Simbolismo redescobre a redimensiona a subjetividade, o sentimento, a imaginação e a espiritualidade. Esse movimento busca desvendar o subconsciente e o inconsciente nas relações misteriosas e transcendentes do sujeito humano consigo próprio e com o mundo.
CONTEXTO HISTÓRICO DO SIMBOLISMO NO BRASIL
Iniciado oficialmente em 1893, com a publicação de Missal (prosa poética) e Broquéis, de Cruz e Souza, considerado o maior representante do movimento no país, ao lado de Alphonsus de Guimarães, o Simbolismo brasileiro, segundo alguns autores, não foi tão relevante quanto o europeu. Em outras palavras, não conseguiu substituir os cânones da literatura oficial, predominante realista e parnasiana. Esse fenômeno não é difícil entender: a ênfase no primitivo e no inconsciente desta poesia, seu caráter universalizante e ao mesmo tempo intimista, não respondiam às questões nacionais.
Por outro lado, entretanto, pelas mesmas características mencionadas, as manifestações simbolistas no Brasil, especialmente no Sul, terra de Cruz e Souza, possuem uma aura de “seita” com verdadeiras sociedades secretas cujos ritos, jargões e nomes sugerem os traços essenciais do movimento. Movimento de cunho idealista, o simbolismo teve que enfrentar no Brasil a atmosfera de oposição e hostilidade criada pelo Zeitgeist realista e positivista dominante desde 1870. O prestigio do Parnasianismo não deixou margem para que se reconhecesse o movimento simbolista e avaliasse o seu valor e alcance, tão importantes que a sua repercussão e influência remotas são notórias em relação à literatura modernista. O Simbolismo foi abafado pela ideologia dominante e os adeptos do simbolismo sofreram sob forte oposição.
Assim, o surgimento do Simbolismo por um lado reflete a grande crise dos valores racionalistas da civilização burguesa, no contexto da virada do século XIX para o século XX, e por outro inicia a criação de novas propostas estéticas precursoras da arte da modernidade.
A PROSA DE FICÇÃO
Diverso é o panorama apresentado pela prosa de ficção no curso da mesma época histórico-literária. Como se sabe, o conto, a novela e o romance - ao menos tradicionalmente - necessitam de falar diretamente ao leitor, para isso empregando uma linguagem isenta de vacuidades ou subterfúgios. Ao contrário, devem sustentar-se em categorias francamente anti-simbolistas, quais sejam: o social, o ordenado, o "lógico", o "histórico". Por esse motivo, e por outros já sugeridos na introdução a este capítulo, entende-se que em Portugal a prosa simbolista (o conto, a novela e o romance) tivesse de mesclar-se com elementos realistas ou naturalistas. Por outro lado, já nos últimos estádios do Realismo se observava a aceitação involuntária de ingredientes anarquizadores do cientificismo aceito até à data.
Na prosa, os maiores escritores simbolistas foram Álvaro Moreyra, Arthur Lobo, Gonzaga Duque e Carlos Fernandes. O grande crítico e propagandista do movimento foi Nestor Vitor, seguido de Saturnino de Meireles e Manuel Azevedo da Silveira Neto. Mesmo sem ter sido propriamente um simbolista, o grande e originalíssimo poeta Augusto dos Anjos sofreu influência do Simbolismo, que é inconfundível nos seus versos. E há também o caso da poetisa Cecília Meireles, uma das mais finas sensibilidades da poesia brasileira, que, durante muito tempo, permaneceu simbolista dentro do Modernismo.
Sendo o Simbolismo por natureza um movimento poético (pois a poesia é linguagem metafórica por excelência), foi fácil para alguns poetas aderir a seus postulados fundamentais. Tal facilidade, patente aos poetas autênticos, equivocou muitas mediocridades espigonas, levando-as a construir obras desimportantes com o emprego artificial dos clichês que haviam feito a fortuna dos corifeus do movimento simbolista. Se esse fenómeno do esclerosamento e do empobrecimento das fórmulas de expressão é comum a todas as estéticas literárias, com mais razão haveria de ocorrer durante o Simbolismo, em virtude de suas características fundamentais.
O SIMBOLISMO NA POESIA
O Simbolismo transcendeu imensamente os limites de suas atividades programáticas, dando origem à grande poesia simbolista, que, a rigor, já pertence ao Modernismo. Seus representantes, porém, guardam muito da lição de Mallarmé, Baudelaire, Rimbaud e Maeterlinck. Essa herança é bem visível na alta poesia de Valéry, de Rilke, de Eliot, de Yeats, de Jiménez e de Claudel. Os poetas simbolistas acreditavam que a realidade é complexa demais pra ser apreendida e descrita de maneira objetiva e racional, como pretendiam os realistas e parnasianos. Eles voltaram-se para o universo interior e os aspectos não-racionais e não-lógicos da vida, como o sonho, o misticismo, o transcendental. Propunham o exercício da subjetividade contra a objetividade - retomando, de modo diferente, o individualismo romântico. É preciso diferenciar, todavia, poesia simbolista de poesia simbólica. Como afirma o crítico Afrânio Coutinho (1911 - 2000), "nem toda literatura que usa o símbolo é simbolista. A poesia universal é toda ela na essência simbólica". O Simbolismo, para Coutinho, "posto não constituísse uma unidade de métodos, antes de ideais, procurou instalar um credo estético baseado no subjetivo, no pessoal, na sugestão e no vago, no misterioso e ilógico, na expressão indireta e simbólica”.
O primeiro grande simbolista brasileiro - e também o seu maior poeta - foi João da Cruz e Sousa, poeta negro de emoções autênticas, que se rebelou contra a sintaxe tradicional portuguesa e introduziu no Brasil as conquistas estilísticas da escola francesa. Cruz e Souza é considerado o maior poeta simbolista brasileiro, e foi mesmo apontado pelo estudioso Roger Bastide como dos maiores poetas do Simbolismo no mundo. Outro grande simbolista da nossa literatura foi Alphonsus de Guimaraens, poeta intimista, dominado pelo sentimento da morte e por um suave misticismo, mas que pecou por algum preciosismo. Suas obras mais expressivas foram Dona Mística (1899), Kiriale (1902) e Pastoral dos crentes do amor e da morte (1923). Existiram outros poetas simbolistas, que merecem ser mencionados: Mário Pederneiras, Cassiano Machado, Ronald de Carvalho, Homero Prates, Euricles de Matos, Felipe d'Oliveira, Pedro Militão Kilkerrry, Murilo Araújo, Álvaro Reis, Durval de Morais e Marcelo Gama, alguns dos quais se transferiram depois para o Neoparnasianismo ou evoluíram para o Modernismo.
Ficcionistas como Proust e Joyce, que são os dois maiores mestres do romance moderno, também pagam tributo à estética e ao estilo simbolistas, o mesmo acontecendo com Maurice Barrés, Alain Fournier, Thomas Mann e Knut Hamsun.
Tudo isso vem confirmar a inestimável importância histórica do Simbolismo, que abriu as portas à renovação modernista. Obras como Le cimetière marin, de Valery, ou Duineser Elegien, de Rilke, ou ainda The wild swans at Coole, de Yeats, provam quanto o Modernismo deve à poesia pós-simbolista.
É uma dívida, aliás, que os modernistas têm pago ao Simbolismo com muita grandeza.
É preciso diferenciar, todavia, poesia simbolista de poesia simbólica. Como afirma o crítico Afrânio Coutinho (1911 - 2000), "nem toda literatura que usa o símbolo é simbolista. A poesia universal é toda ela na essência simbólica". O Simbolismo, para Coutinho, "posto não constituísse uma unidade de métodos, antes de ideais, procurou instalar um credo estético baseado no subjetivo, no pessoal, na sugestão e no vago, no misterioso e ilógico, na expressão indireta e simbólica. Como pregava Mallarmé, não se devia dar nome ao objeto, nem mostrá-lo diretamente, mas sugeri-lo, evocá-lo pouco a pouco, processo encantatório que caracteriza o símbolo."
No Brasil, onde o Parnasianismo dominava o cenário poético, a estética simbolista encontrou resistências, mas animou a criação de obras inovadoras. Desde o final da década de 1880 as obras de simbolistas franceses, entre eles Baudelaire e Mallarmé, e portugueses, como Antonio Nobre e Camilo Pessanha, vinham influenciando grupos como aquele que se formou em torno da Folha Popular, no Rio, liderado por Cruz e Souza e integrado por Emiliano Perneta, B. Lopes e Oscar Rosas. Mas foi com a publicação, em 1893, de Missal, livro de poemas em prosa, e Broquéis, poemas em versos, ambos de Cruz e Souza, que principiou de fato o movimento simbolista no país - embora a importância desses livros e do próprio movimento só tenha sido reconhecida bem mais tarde, com as vanguardas modernistas.
O antológico poema Antífona, de Cruz e Souza, é exemplar nesse sentido; sugestões de perfumes, cores, músicas perpassam todo o poema, cuja linguagem vaga e fluida é plena de recursos sonoros como aliterações e assonâncias. Há também em Antífona referências a elementos místicos, ao sonho, a mistérios, ao amor erótico, à morte, os grandes temas simbolistas.
Ainda com relação à forma, o soneto foi cultivado pelos simbolistas, mas não com a predileção manifestada pelos parnasianos, nem com sua paixão descritiva. Em sonetos como Incenso, de Gilka Machado, e Acrobata da Dor, de Cruz e Souza, está presente a linguagem que sugere, em lugar de nomear ou descrever, além de elementos como o questionamento da razão, a dor da existência, o interesse pelo mistério, a transcendência espiritual, que são característicos do Simbolismo. Lembre-se a propósito, também, do poema O Soneto, de Cruz e Souza, em que a linguagem poética simbolista transfigura e recria a forma da composição soneto. O Simbolismo e o Parnasianismo, segundo José Aderaldo Castello, projetaram-se nas primeiras décadas do século XX, "deixando importante legado para herdeiros que se fariam grandes poetas do Modernismo". O Simbolismo, porém, "mais do que os adeptos da poesia ?científico-filosófica? e realista, provocou o debate, aguçando o confronto de gerações."
Os principais autores simbolistas brasileiros são Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens, mas merecem destaque também Gilka Machado e Augusto dos Anjos.
A obra de Alphonsus de Guimaraens é fundamentada pelos temas do misticismo, do amor e da morte. Em poemas como A Catedral e A Passiflora, repletos de referências católicas, a religiosidade é o assunto principal. O poeta também voltou-se para outro tema caro aos simbolistas, o interesse pelo inconsciente e pelas zonas profundas e desconhecidas da mente humana. Ismália, talvez seu poema mais conhecido, tematiza justamente a loucura. O amor, em sua poesia, é o amor perdido, inatingível, pranteado, como em Noiva e Salmos da Noite; reminiscências da morte prematura da mulher que amou na juventude.
Gilka Machado "foi a maior figura feminina de nosso Simbolismo", segundo o crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos (1919 - 1992). Seus poemas, de intenso sensualismo, chegaram a causar escândalo, mas revelaram novas maneiras de expressar o erotismo feminino. Emiliano Perneta também imprimiu forte sensualismo em seus versos, característicos além disso pelo satanismo e decadentismo. Sua poesia, para Andrade Muricy, é "a mais desconcertante e variada que o simbolismo produziu entre nós". Já a obra de Augusto dos Anjos - extremamente popular, diga-se de passagem - é única, e há grande dificuldade entre a crítica para classificá-la. Seus poemas, que chegam a ser expressionistas, recorrem a uma linguagem cientifista-naturalista, abundante de termos técnicos, para tematizar a morte, a destruição, o pessimismo e mesmo o asco diante da vida.
A DIFUSÃO DO SIMBOLISMO
ALPHONSUS DE GUIMARAENS
- Biografia
- Poema Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
- Análise do Poema Ismália
CRUZ E SOUZA
- Biografia
João da Cruz e Sousa nasceu em Desterro, atual Florianópolis. Filho de escravos alforriados pelo Marechal Guilherme Xavier de Sousa, seria acolhido pelo Marechal e sua esposa como o filho que não tinham. Foi educado na melhor escola secundária da região, mas com a morte dos protetores foi obrigado a largar os estudos e trabalhar.
Sofre uma série de perseguições raciais, culminando com a proibição de assumir o cargo de promotor público em Laguna, por ser negro. Em 1890 vai para o Rio de Janeiro, onde entra em contato com a poesia simbolista francesa e seus admiradores cariocas. Colabora em alguns jornais e, mesmo já bastante conhecido após a publicação de Missal e Broquéis (1893), só consegue arrumar um emprego miserável na Estrada de Ferro Central. Casa-se com Gavita, também negra, com quem tem quatro filhos, dois dos quais vêm a falecer. Sua mulher enlouquece e passa vários períodos em hospitais psiquiátricos. O poeta contrai tuberculose e vai para a cidade mineira de Sítio se tratar. Morre aos 36 anos de idade, vítima da tuberculose, da pobreza e, principalmente, do racismo e da incompreensão.
Poeta brasileiro e precursor do movimento simbolista, Cruz e Souza eram chamado também de Dante Negro. Era um abolicionista e defendia também o Parnasianismo nos jornais. Quando morou no Rio de Janeiro, trabalhava como colaborador em jornais. Publicou a obra “Tropos e Fantasias”, “Missal” e “Broqueis”. A característica desse autor é que ele mesclava o pessimismo com musicalidade. Os críticos costumam indicar a "obsessão" pela cor branca em seus versos, repletos de brumas, pratas, marfins, linhos, luares, e de adjetivos como alva, branca, clara. Mas Cruz e Souza também expressou as dores e injustiças da escravidão em poemas como Crianças Negras e Na Senzala.
- Poema Antífona
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras
Formas do Amor, constelarmante puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas ...
Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes ...
Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.
Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, todas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.
Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.
Forças originais, essência, graça
De carnes de mulher, delicadezas...
Todo esse eflúvio que por ondas passa
Do Éter nas róseas e áureas correntezas...
Cristais diluídos de clarões alacres,
Desejos, vibrações, ânsias, alentos
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos...
Flores negras do tédio e flores vagas
De amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios...
Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte...
- Análise do Poema Antífona
No poema Antífona há a presença de um extremo subjetivismo, configurado por uma expressão muito vaga, nebulosa, mística, misteriosa, esotérica, atingindo até o nível do inconsciente ao mesmo tempo que sugeri o objeto e evoca-lo sem descrevê-lo fazendo isso através da musicalidade, das sinestesias e dos símbolos, enfatizando a intuição e a imaginação. Geralmente, o poema tem sentido em seu conjunto, não verso a verso. Os temas mais comuns de que abordou o autor Cruz e Souza neste poema foram a morte, o amor, ao mesmo tempo desejo sexual e sentimento místico; ânsias indefinidas em relação a algo superior, também indefinido. É um poema que serve de introdução abreviada do que vai dizer por extenso em todos os outros poemas, repetindo a ideias inicial.
Especificamente, o poema Antífona é o primeiro de "Broquéis". Anuncia a dissolução das formas exteriores dos objetos, diluindo-as na neblina dos sonhos, enche seus poemas de visões, de músicas indefiníveis, de surdinas dos órgãos, de dormências de venenos voluptuosos, de mistérios, de ânsias. Possivelmente o mais conhecido poema do Simbolismo brasileiro, “Antífona” é mais que uma “profissão de fé do movimento em questão, indo além do mero caráter ilustrativo de uma tendência e revelando em si, pertinência às questões não apenas artísticas, mas também sociais, econômicas e politicas de sua época.
CONCLUSÃO
no Brasil, o simbolismo teve início no ano de
1893, com a publicação de duas obras de Cruz e Souza: Missal (prosa) e Broquéis
(poesia). O movimento simbolista na literatura brasileira teve força até o movimento
modernista do começo da década de 1920. Os principais representantes foram
Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens; ambos cultivaram temas do
inconscientes, da metafísica, com caráter individualista e uma estética
marcadaa pela musicalidade.
entendemos a partir da pesquisa feita que o Simbolismo, estilo literário, ocorreu
em Portugal quando se deu a implantação da República em 5 de Outubro de 1910.
Surgiu num momento em que a crise espiritual e o decadentismo de certos meios
filosóficos e artísticos europeus no final do século coincidem com o sentimento
de pessimismo e frustração do povo português, relacionada com algumas causas
históricas (ameaças da Inglaterra, queda da monarquia, instauração da república,
por exemplo). Apesar de este movimento ter sido introduzido por Eugénio de Castro,
seria Camilo Pessanha o expoente máximo do Simbolismo em Portugal, publicando
já em 1887 o tríptico de sonetos simbolistas mais tarde intitulado “Caminho” e que
viria a fazer parte da obra Clepsydra.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COUTINHO,Afrânio. Literatura no Brasil/ Direção - Co – direção Eduardo de Faria Coutinho – 7. Ed.rev. e atua _São Paulo: Global 2004.
CANDIDO, Antônio. Formação da Literatura Brasileira. São Paulo/Belo Horizonte: Edusp/Itatiaia, 1975.
CAROLLO, Cassiano (Org.). Decadismo e simbolismo no Brasil: crítica e poética. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora, 1980.
A Prosa Simbolista
Basta ter em mente as obras dum Eça de Queirós (A Cidade e as Serras, A Correspondência de Fradique Mendes, últimas Páginas e alguns dos Contos), dum Fialho de Almeida (Contos, A`Cidade do Vício, O País das Uvas), dum Trindade Coelho (Os Meus Amores), dum Abel Botelho (Amor Crioulo, Os Lázaros). Em tais escritores se encontram componentes ficcionais coincidentemente semelhantes àqueles que foram objecto de atenção por parte dos simbo-listas.
Por isso, ainda quando alguns prosadores simbolistas se afastam da contaminação realista e naturalista e se aproximam mais do ideário que defendem, vão deixando de criar obras que se classifiquem naturalmente num dos três rótulos tradicionais: conto, novela e romance. Em seu lugar, cultivam a chamada prosa poética ou o poema em prosa, ou comunicam às suas histórias e narrativas uma atmosfera de autêntico lirismo. Como é imediato perceber, no primeiro caso trata-se simplesmente de poesia expressa numa forma que, à falta doutro nome, chamamos de prosística. Todavia, se aceitarmos um conceito de poesia que atente para a essência e não para a forma do poema, ficará claro que pouca diferença faz que seja em verso (ou em linhas descontínuas, simétricas, formando unidades chamadas estrofes), ou em prosa (ou em linhas contínuas, formando unidades denominadas parágrafos), o meio expressivo escolhido pelo poeta para a comunicação de seu mundo emocional. Portanto, o poema em prosa é ainda poesia, e poesia simbolista. O outro caso é de contos, novelas e romances em que o aspecto poético se hipertrofia conforme a história narrada, chegando mesmo a reduzir a um mínimo inconsistente a fabulação e tudo o mais que a cerca (perso-nagens, atos, gestos, etc.). Nesse caso, quanto mais poético - e portanto mais próximo do Simbolismo -, menos é conto, novela e romance; e vice-versa. No decurso do Simbolismo, encontramos uma coisa e outra com a natural predominância da segunda.
Ponto de lado os escritores subsequentes a 1915 que manifestam semelhança com a prosa poética simbolista, consideram-se filiados ao Simbolismo em prosa as seguintes figuras: Raul Brandão - o mais importante de todos -, João Barreira, Manuel Teixeira-Gomes, Jaime de Magalhães Lima, Carlos Malheiro Dias; Antero de Figueiredo, Manuel Laranjeira, António Patrício, João Grave e outros.
João Barreira (1866-1961) tem sido considerado um dos escritores portugueses que mais se aproximam do ideal simbolista em prosa, com seu livro Gouaches (Estudos e Fantasias) (1892), composto de poemas em prosa, o qual, segundo consta, era declamado em segredo e de joelhos pelos decadentes e simbolistas brasileiros. Ainda publicou: crítica de arte (Arte Grega, 1923; História de uma Catedral, 1937), prosa poética (A Morte do Imaginário, 1923; Silva de Arte, 1928; As coisas falam, 1933; A Rota do Bergantim e Outras Alegorias, 1947).
Manuel Teixeira-Gomes (1862-1941), na esteira de Fialho de Almeida e remontando a Cami-o Castelo Branco, traduz em sua prosa, construída segundo os rigorismos sintácticos e vo cabulares a que o convívio dos clássicos o obrigava, uma ânsia pagã de existência próxima do helenismo e do amoralismo, graças a um temperamento profundamente individualista e estetizante. A ficção de Teixeira-Gomes divide-se entre os temas decadentistas do cinismo, do grotesco, do cómico e do erotismo mais desenfreados, e uma voluptuosa e dionisíaca alegria de viver. Os contos de Gente Singular (1909) constituem exercícios preparatórios do romance Maria Adelaide (1938), história duma decaída explorada pelo sedutor, que dá azo ao ficcionista para descrever repetidas cenas eróticas, transcorridas numa atmosfera de decadência pagã. O modo despojado como tece o fio narrativo contém algo de moderno, mas por acaso, pois Teixeira-Gomes manteve-se à margem dos movimentos literários pós-simbolistas. Ainda escreveu um drama (Sabina Freire, 1905), livros de viagens e impressões (Inventário de Junho, 1889; Agosto Azul, 1904, etc.).
Jaime de Magalhães Lima (1859-1936), em franca revolta contra o Materialismo no tempo, deriva para a defesa dum ideal de vida baseado no exclusivo culto dos valores espiritualmente simples e cristãos e amparado numa concepção de vida que põe a Natureza em primeiro plano, e considera o casamento sagrada e superior instituição.
Além das várias obras de carácter ideologicamente antipositivista e cristão, deixou alguns romances em que discute as mesmas ideias de reforma espiritual no plano das relações sociais e domésticas (Transviado, 1899; Na Paz do Se nhor, 1903; Reino da Saudade, 1904). Escreveu ainda uma espécie de poesia em prosa, que reuniu em dois volumes, as RoQações de Eremita (1913?) e os Salmos do Prisioneiro (1915).
No misticismo de Magalhães Lima encontram-se ressonâncias da filosofia social e apostolar de Tolstói, que o escritor português conheceu pessoalmente.
Carlos Malheiro Dias (1875-1941) estreou literariamente no Rio de Janeiro para onde viera ainda adolescente, com a publicação de Cenários. Fantasias sobre a História Antiga (1894), obra imatura e caótica. Em 1896, publica o romance A Mulata, em que faz o retrato do bai-xo-mundo carioca e critica azedamente a sociedade do tempo, com exageros dignos do romântico vestido de naturalista que era. A obra resultou num dramalhão, com tuberculoses, traições e morte pelo meio, e acabou dando em escândalo, pois constituía declarada injustiça para com a então capital do País. O Filho das Ervas, romance escrito pouco depois d’ A Mulata, saiu em 1900: não apresenta nem excessos retóricos nem as filosofanças fáceis e melodramáticas do anterior. Ao contrário, com estilo terso e acuidade psicológica, cria_ personagens verossímeis vivendo dramas reais, fazendo acreditar que havia nascido um sucessor para Eça de Queirós, de quem o romance recebera nítida influência. Nas obras posteriores, todavia, Malheiro Dias não confirmou a impressão causada pelo Filho das Ervas: talvez equivocado pela vocação que sentia despertar em si, ou ouvindo o canto das sereias, envereda na direcção do romance histórico, e em lugar de prender-se à realidade viva diante de seus olhos, entra a fazer uma bisonha apologia dos valores pátrios e sentimentais, quase beirando o alambicamento melodramático dA Mulata. Como seria de esperar, essa adesão a um nacionalismo utópico e saudosista deu-lhe prestígio enquanto durou a moda correspondente. Analisada hoje, e com frieza, essa troca de casaca significou um estacionamento, se não um retrocesso. É certo que Malheiro Dias veio a produzir um romance histórico de razoável interesse, sobretudo enquanto índice duma psicose historicista no plano literário (Paixão de Maria do Céu, 1902), mas nem os demais (Os Teles de Albergaria, 1901; O Grande Cagliostro, 1905), nem os contos dA Vencida (1907) confirmaram os bons começos d0 Filho das Ervas, que continua sendo sua obra mais válida. O abandono da ficção, pela historiografia e pelas campanhas de civismo (direcção, coordenação e participacção da História da Colonização Portuguesa do Brasil, 3 vols., 1921-1924; Exortação ã Mocidade, 1925, etc.), denuncia claramente o carácter ocasional da ficção de Carlos Malheiro Dias, sobretudo daquelas obras de tema não-histórico.
Antero de Figueiredo (1866-1953) evolui dum Decaden tismo "fim-de-século", expresso em poemas em prosa (Trístia, 1893; Além, 1895), para romances de fundo lírico mas de que não são estranhas certas notas eróticas (Cómicos, 1908; Doida de Amor, 1910), para a ficção histórica revivescida na época (D. Pedro e D. Ines, 1919; Leonor Teles, 1916; D. Sebastião, 1924) e, ao cabo, para um idealismo de profundas raízes católicas (0 Último Olhar de Jesus, 1928; Fátima, 1936; Amor Supremo, 1940).
Nem o acendrado nacionalismo, nem as qualidades de fino estilista foram suficientes para lhe dar permanência no interesse da crítica e dos leitores. Escreveu ainda relatos de viagens (Recordações e Viagens, 1904; jornadas em Portugal, 1918; Espanha, 1923; Toledo, 1932).
Manuel Laranjeira nasceu em Vergada, Vila da Feira (distrito de Aveiro), em 1877, e faleceu em Espinho, em 1912. Médico, contraiu a sífilis precocemente e viveu anos seguidos em tremenda angústia e revolta, acicatado pela consciência do mal que o corroía. Um grosso tédio e um desespero profundo arrastam-no a uma depressão tal que o compele a acreditar no suicídio como única solução, o que afinal acaba praticando em plena mocidade. Escreveu poesia (Comigo, 1912), prosa (Cartas, 1943; O Pessimismo Nacional, 1955; Diário Intimo, 1957; Prosas Perdidas, 1948), e teatro (Amanhã, 1902).
Todas essas obras, cada qual a seu modo, são páginas duma autobiografia escrita dia a dia: nelas plasmou um terrível drama íntimo, nascido dum niilismo pessimista que lhe é im posto pela observação do mundo e da própria vida, mas que é repudiado pela consciência, ávida de crer em Deus ou em algo equivalente, e encontrar uma razão para a existência: "Fé na vida não a tenho (...) Crer é a arma de quem lida". O drama do poeta cresce porque sente necessidade de crer em Deus, ao mesmo tempo que se revolta por precisar da crença, ou da "ambição que incita / A ser Deus".
O resultado desse "tédio infinito por quanto existe" é uma profunda revolta e desesperação, cuja origem deve localizar-se no choque decorrido entre sua formação científica e um exalta
do idealismo, uma ânsia de transcendentalismo formada como sempre de perguntas sem resposta. O clima de crise, de "fim-de-um-mundo", típico dos últimos anos do século XIX, em que lhe transcorreram os anos melhores da juventude, ajuda a compreender a psicologia decadente e degenerescente que lhe informa todos os escritos, especialmente a poesia e o Diário Íntimo. Irremediavelmente solitário - que a um só tempo amava e odiava a solidão procurada e por vezes achada -, tornou-se, mais do que qualquer outro escritor contempo-râneo, vítima e símbolo acabado da tremenda crise de consciência e cultura instalada com a passagem traumática do Positivismo para fórmulas, desequilibradoras e liberticidas, de idealismo intimista e derrotado. Por isso, o mérito de Manuel Laranjeira tem sido cada vez mais reconhecido, a partir do testemunho consagrados de Miguel de Unamuno, seu amigo e correspondente: "Fué Laranjeira quien me ensenó a ver el alma trágica de Portugal, no diré de todo Portugal, pero sí del más hondo, del más grande. Y me ensenó a ver no pocos rincones de los abismos tenebrosos del alma humana. Era un espírito sediento de luz, de verdad y de justicia. Le mató Ia vida. Y al. matarse, dió vida a Ia muerte."
António Patrício (1878-1930) situa-se na confluência do Simbolismo e de seu prolongamento novecentista, o Saudosismo preconizado por Teixeira de Rascoaes. Escreveu poesia (Poesias, 1942), contos (Serão Inquieto, 1910) e teatro (O Fim, 1909; Pedro, o Cru, 1918; Dinis e Isa-bel, 1919; D. João e a Máscara, 1924). Nessas três mutações de seu talento estético, utilizou-se originalmente do arsenal metafórico próprio dos simbolistas, para exprimir as ânsias duma "alma que tem sede de divino", mas dum divino considerado sem Deus, pura emana-ção transcendental do homem em plenitude pagã, e uma obsessiva preocupação com a Morte (" - Venha no luar a Morte... no luar..."), que serve de contrapeso aos apelos do Além e lhes confere razão de ser. Por outro lado, uma permanente vigilância ou contensão que se diria de raiz clássica, impede-o de resvalar para o melodramático ou o vazio requintadamente decadente e simbolista. Poeta, ainda quando arquitete prosa de ficção ou dramaturgia, e poeta de superior categoria, pela fusão tensa duma alta sensibilidade lírica e a intuição luminosa dos mitos eternos e das tragédias irremissíveis.
Massaud Moisés, A Literatura Portuguesa
Editora Cultrix, São Paulo
Publicado em 11 de agosto de 2011 em Literatura
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Análise Interpretativa do poema "Antífona" de Cruz e Souza.
Antes de iniciarmos a análise interpretativa do poema "Antífona", de Cruz e Souza, retornaremos brevemente sobre o período do Simbolismo, tendo início no final do século XIX.
Esta fase literária inicia-se com a publicação em 1893, de Missal e Broquéis, do poeta João da Cruz e Souza. A linguagem simbolista se caracterizava como abstrata e sugestiva, atribuindo um certo misticismo e religiosidade as obras. Os poetas dessa época valorizavam muito os mistérios da morte e dos sonhos, carregando os textos de subjetivismo. A morte é vista como uma espécie de libertação. Os principais representantes do Simbolismo foram: Cruz e Souza e Alphonsus de Guimarães.
Segundo o dicionário da Língua Portuguesa por Evanildo Bechara, o significado da palavra antífona é indicado como: Antífona. sf. Liturgia. Versículo recitado no início e final de um salmo, e que o coro repete.
As antífonas se cantam a duas vozes, uma responde à outra, e pode ter citações das escrituras cristãs. A leitura do poema, então, deve ter a solenidade do ritual religioso, e o ritmo sagrado da música sagrada. De início será abordado um pouco sobre a estrutura do poema, em que se fundamentava gramaticalmente Cruz e Souza e suas principais características no plano temático e no plano formal.
O poema é distribuído em onze estrofes, cada estrofe com quatro versos, ou seja, em quadras. Apresenta figuras de linguagem, tais como: sinestesias ("Tudo! Vivo e nervoso e quente e forte"), aliterações (2ª estrofe) e metáforas ("... da alma do Verso, pelos versos cantem."), uma certa obsessão por brilhos ? metáfora da incompreensão e pela cor branca ? metáfora da paz e da pureza. Podemos notar aspectos noturnos do Simbolismo, herdados do Romantismo: o culto da noite, o pessimismo, a morte e etc. A preocupação formal que o aproxima dos parnasianos, como a forma lapidar, o gosto pelo soneto, o verbalismo requintado, a força das imagens. O drama da existência revela uma provável influência do filósofo alemão Schopenhauer. Cruz e Souza vivia um drama pessoal, um drama racial, um sentimento de opressão, um profundo desejo de fugir da realidade, como podemos notar nos versos "... Desejos, vibrações, ânsias, alentos / Fulvas vitórias, triunfamentos acres.." . A sua consciência girava em torno da dor de ser negro, da dor ser homem, uma poesia com investigação filosófica e com a angústia metafísica , como nota-se na penúltima estrofe "Flores negras do tédio e flores vagas /De amores vãos, tantálicos, doentios... / Fundas vermelhidões de velhas chagas / Em sangue, abertas, escorrendo em rios...". A musicalidade também estava presente na vida do poeta e o mesmo tentava aproximar a poesia da música, dando ênfase nos fonemas, trabalhando com as sinestesias. Outra característica presente nesse poema como em outros poemas, é uma predisposição para a formação de imagens através das palavras. O poeta brinca com as palavras, nos fazendo imaginá-las em nossa mente a partir da significação no contexto em que estão inseridas. Como quando o poeta inicia o poema, enfatizando as formas alvas, brancas, as formas do amor. Remetem-nos claramente ao termo Simbolismo, relacionado ao signo icônico, semiótico, símbolo e pensamento por imagem.
No plano temático apresenta características relacionadas à morte, a transcendência espiritual, a integração cósmica, o mistério, o sagrado, o conflito entre matéria e espírito, a escravidão, atenção especial por brilhos e pela cor branca, a angústia e a sublimação sexual. No plano formal, as sinestesias, imagens surpreendentes, a sonoridade das palavras (expressam desejos), a predominância de substantivos, utilização de letras maiúsculas, com a finalidade de dar um valor absoluto a certos termos.
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