TRABALHO, TRANSFORMAÇÃO SOCIAL E EDUCAÇÃO
Pesquisas Acadêmicas: TRABALHO, TRANSFORMAÇÃO SOCIAL E EDUCAÇÃO. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Anglo • 11/3/2014 • 7.450 Palavras (30 Páginas) • 716 Visualizações
TRABALHO, TRANSFORMAÇÃO SOCIAL E EDUCAÇÃO
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo principal a análise das transformações sociais em curso, suas relações com as novas tecnologias, e implicações no campo da educação. De forma gradativa, tendo como marcos históricos as três Revoluções tecnológicas, a industrialização, a automação rígida e a automação flexível, são explicadas as transformações ocorridas na base material e ideológica da sociedade capitalista, a fim de compreender a função da educação profissional no contexto atual. O estudo das mudanças estruturais ocorridas no âmbito do trabalho é feito concomitantemente à análise das mudanças ocorridas no campo da subjetividade, à luz da teoria crítica. A industrialização, instalada na sociedade ocidental capitalista, e seu aperfeiçoamento durante o fordismo, proporcionou a base material para divisão entre saber intelectual e saber manual. A indústria cultural, e a educação dualista e tecnicista, cooperaram para a semiformação e adaptação do indivíduo ao sistema econômico e social. Tendo a subjetividade gradativamente formatada, ao indivíduo do século XXI, a reestruturação produtiva flexível cobra habilidades advindas de uma qualificação baseada na integralidade. Diante desse equívoco, é preciso compreender que a educação profissional para a qualificação só é possível com a superação da cisão entre trabalho intelectual e trabalho manual no sistema produtivo. Na prática educativa, com relação à organização estrutural, a escola unitária se concretizaria, se fosse oferecida em tempo integral, visando a formação do ser humano total, capaz de se realizar no processo completo de trabalho, nas dimensões da comunicação, produção e fruição. Com relação aos aspectos teórico-metodológicos a organização do trabalho docente, deve resgatar a experiência formativa, usando o método da dialética negativa, mostrando os momentos paradoxais e ambíguos presentes nos conteúdos científicos, técnicos e culturais. A educação consegue conduzir para a emancipação quando possibilita experiências formativas, quando organiza os conteúdos em uma perspectiva histórica capaz de explicitar as contradições sociais (o desenvolvimento tecnológico de um lado e a miséria de outro) retirando o “encanto” produzido pela indústria cultural e desnudando a realidade.
1. Da auto atividade à labuta : a perda gradativa da liberdade
De forma gradativa, tendo como marcos históricos as três Revoluções tecnológicas – a industrialização, a automação rígida e a automação flexível – o presente trabalho explicará as transformações ocorridas na base material e ideológica da sociedade capitalista, a fim de compreender a função da educação profissional no contexto atual.
Libertar o indivíduo das algemas que o agrilhoavam [...], do tradicionalismo ignorante da Idade Média, da irracionalidade que dividia os homens em uma hierarquia de patentes mais baixas e mais altas de acordo com o nascimento [...] A liberdade, a igualdade e, em seguida, a fraternidade de todos os homens eram seus slogans [...] O reinado da liberdade individual não poderia deixar de ter as conseqüências mais benéficas. A apaixonada crença no progresso que professava o típico pensador do iluminismo refletia os aumentos visíveis no conhecimento e na técnica, na riqueza, no bem estar e na civilização que podia ver em toda a sua volta [...] O que não podia esperar se os remanescentes obstáculos ao progresso tais como os interesses estabelecidos do feudalismo e da Igreja, fossem eliminados? (HOBSBAWN, 1991, p.37).
A crença na liberdade cultivada pelos iluministas e experimentada por eles por alguns poucos anos compreendidos entre o fim da lei da primogenitura e o início do capitalismo, aos poucos foi sendo substituída pela triste realidade de subjugação do homem à labuta. A auto atividade vivenciada na época dos grandes inventos científicos e das grandes produções artísticas trazia grande esperança de libertação dos sacrifícios impostos pelo trabalho desprovido da técnica que despendia muito tempo e vislumbrava a possibilidade de tempo livre para a realização de atividades prazerosas, artísticas e formativas. Porém, a promessa de desenvolvimento tecnológico destinado à humanização, foi desviada para os interesses do capital, cuja base, que se encontra na compra e venda da força de trabalho e na extração da mais valia, é oposta à distribuição igualitária de riquezas. Dessa forma, o ideal de liberdade, presente no iluminismo, teve seu sentido totalmente deturpado na concretização das bases liberais, fundadas no modo de produção capitalista, à medida que trouxe em seu bojo um rastro de miséria para a maioria dos homens.
A análise dessa contradição gestada desde o início do capitalismo é feita por Karl Marx (1818-1883) em “O capital”. Nos capítulos XII – Divisão do trabalho e manufatura e XIII – A maquinaria e a indústria moderna, são descritas as características de cada forma de organização do trabalho, bem como a crescente alienação do trabalhador a medida em que se distancia cada vez mais do produto de seu trabalho.
Durante a transição do feudalismo para o capitalismo se instala o germe da industrialização, através da cooperação, que mais tarde se amplia para a manufatura. Esta se origina de dois modos: simples e complexo. No modo simples o capitalista reúne na mesma oficina muitos trabalhadores que fazem a mesma espécie de trabalho. Segundo Marx (1984, p.388) “cada um desses artíficies, talvez com um ou dois aprendizes, produz a mercadoria por inteiro e leva a cabo, portanto, as diferentes operações exigidas para sua fabricação, de acordo com a seqüência delas.” Dessa forma, nesse modo de produção o artesão domina a fabricação do produto por inteiro. Porém, as circunstâncias externas e a exigência de uma produção maior com maior rapidez fez surgir o modo de organização complexo onde
em vez de o mesmo artíficie executar as diferentes operações dentro de uma seqüência, são elas destacadas umas das outras, isoladas, justapostas no espaço, cada uma delas confiada a um artíficie diferente e todas executadas ao mesmo tempo pelos trabalhadores cooperantes (MARX,1984, p.388).
Já na manufatura se instala a divisão do trabalho e a constituição do trabalhador parcial, porém, em sua forma simples ou complexa, ainda garante a experiência formativa, pois o trabalho ainda continua sendo artesanal, dependendo da mão do homem que domina e maneja o instrumento,
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