Trabalho De Dp
Monografias: Trabalho De Dp. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: aldemirsantos • 30/1/2014 • 9.589 Palavras (39 Páginas) • 358 Visualizações
O médium que previa o passado
O paranormal Jucelino Nóbrega da Luz está na mídia novamente. Desta vez ele ganhou a capa do Jornal da Universidade Estácio de Sá, um jornal com tiragem de 40.000 exemplares, distribuído gratuitamente nos corredores da universidade.
Para quem não o conhece uma rápida apresentação: Jucelino Nóbrega da Luz se tornou mundialmente conhecido em 2005 ao exigir da justiça a recompensa de 25 milhões de dólares oferecida pelo governo americano para quem desse indicações do paradeiro de Saddam Hussein. Jucelino afirma que viu em sonhos o esconderijo do ditador e avisou ao presidente americano através de cartas, muitos anos antes sequer da primeira das guerras do Iraque explodir. Mas o esconderijo de Saddan Hussein não foi a única previsão de Jucelino. Pense em um importante acontecimento na história recente ou em um nome famoso em um obituário e Jucelino afirmará tê-lo previsto: os atentados de 11 de setembro, 11 de março em Madri e o de Londres; a morte do Papa João Paulo II, da princesa Diana, do embaixador brasileiro no Iraque, do Bochecha, do Leandro (da dupla sertaneja) e dos Mamonas; o tsunami na Ásia, o Katrina nos EUA e o terremoto de Kobi; a eleição do presidente Lula, o mensalão, o roubo do Banco Central e muito mais. Para cada previsão Jucelino diz ter enviado uma carta de aviso às autoridades; a maioria registrada, algumas autenticadas em cartório. No total Jucelino diz já ter enviado mais de 87.000 cartas (o que deve ter custado a este humilde professor de inglês mais de 400.000 reais em selos).
Antes de chegar à capa do Jornal da Universidade Estácio de Sá, Jucelino circulou por diversos programas de auditório como os do Jô Soares, da Monique Evans, do Leão e do Clodovil. Ou seja, até agora a mídia tinha dado à Jucelino exatamente a exposição que se esperaria para alguém do seu calibre; o de destaque ao lado de INRI Cristo, Tomaz Green Morton e outras bizarrizes da indústria do sensacionalismo nacional. O que não se sabia é que o Jornal da Estácio pretendia fazer escola neste mesmo filão.
É claro que alguém que tem sonhos de 25 milhões de dólares merece ser notícia sim. Mas do jornal de uma universidade gabaritada como a Estácio se esperaria material melhor. Afinal ali estão exercitando a profissão estudantes e jovens jornalistas formados pela faculdade; ali a universidade está colocando na vitrine o profissional que a casa forma para o mercado de trabalho. E que profissional é esse? A julgar pela matéria da capa, é um jornalista sem capacidade de análise crítica e incapaz de buscar sob a superfície das aparências o fundo rochoso dos fatos. Bom perfil para a revistas de fofocas como a Viva Mais (que também já dedicou capa a Jucelino) mas insuficiente para mídias mais sérias.
Jucelino é um profeta com um padrão. Primeiro Jucelino sonha. Depois Jucelino escreve suas premonições em uma velha máquina de escrever Oliveti e em seguida, supostamente, as envia pelo correio a quem interessar possa. Algumas destas missivas Jucelino, supostamente, autentica em cartório. Depois disso duas coisas podem acontecer: ou um acontecimento bombástico surge na mídia e Jucelino clama tê-lo previsto sacando uma de suas cartas autenticadas que ninguém tinha visto até então, ou a premonição não se realiza na data prevista e Jucelino diz que sua carta ajudou a impedir o acontecimento (como o assassinato do atual Papa que tinha sido previsto para 16 de março). No final das contas, se tudo o mais falhar, ainda resta um último recurso: dizer que errou de propósito:
No Brasil não há segurança e ninguém é imune a balas. Eu preciso 'errar' um pouco. Caso contrário, alguém me mata! Por isso eu preciso desses disfarces. Se fosse para eu colocar tudo no papel...
É chato ser um cético. Gente como eu simplesmente não consegue se deslumbrar com um vidente que diz que faz previsões erradas de propósito...
A previsões de Jucelino podem ser classificadas em dois grandes grupos: (1) previsões de acontecimentos de grande impacto, como os atentados terroristas de 11 de setembro, o roubo do Banco Central e o escândalo do Mensalão; e (2) previsões de desastres naturais, crises, epidemais, pragas de insetos e outros cataclismas genéricos tais como tempestades, desabamentos, tornados e terremotos. As previsões do primeiro grupo são espantosamente ricas em detalhes; o esconderijo de Saddam Jucelino viu e entendeu em árabe; do roubo do Banco Central Jucelino sabia a cifra exata. Estas previsões são exatamente tão ricas em detalhes, nem mais nem menos, quanto as noticias do jornais que, via de regra, aparecem sempre antes das cartas. Já as do segundo grupo estranhamente são tão vagas e genéricas que poderiam ter sido feitas com manchetes de jornais de dez anos atrás, retirando-se delas os detalhes. Vejamos por exemplo algumas das fantásticas previsões de Jucelino para o ano de 2006:
(1) Um atentado a bomba matará mais de 30 pessoas no Iraque.
(2) Haverá a possibilidade de surgimento de Cólera. (que raio de previsão é essa!!?)
(3) Duas pessoas morrerão em um hospital público no Rio por falta de atendimento, causando revolta.
(4) Revolta de traficantes no Rio de Janeiro assustará a população.
(5) Forças israelenses atacarão palestinos.
(6) Surgirão mais focos de gripe aviária na China. Uma ave trará a gripe para o Brasil.
(7) Ocorrência de grandes problemas de conjuntivite no estado de São Paulo.
(8) Planos de atentado na Indonésia (?).
(9) Revolta em presídios da FEBEM.
(10) Marca (?) de surgimento de aracnídeos no Brasil.
(11) Incêndios e tempestades causadas pelo calor na Europa.
(12) Carrapato Estrela voltará a atacar no Rio de Janeiro (hein ???).
(13) Queda de barrancos nas encostas do Rio e Minas.
(...)
A lista de previsões (assim mesmo, sem nenhum detalhe a mais) está disponível no site do CEPUA* e é encerrada por Jucelino com seguinte pérola:
Há muitos outros casos envolvendo atores, atrizes e casos coletivos tais como terremotos, tufões, furacões, tempestades, crimes e escãndalos (sic) políticos, mas, infelizmente, não há espaço para colocá-los e esperamos que nada que citei acima aconteça;
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