Trassexualismo
Artigos Científicos: Trassexualismo. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Pameela • 5/3/2015 • 3.031 Palavras (13 Páginas) • 402 Visualizações
Introduzir a questão do transexualismo exige evocar Freud e suas formulações acerca da
subjetivação da diferença sexual. Embora os desenvolvimentos teóricos freudianos não digam respeito
diretamente ao fenômeno transexual, uma vez que as transformações corporais que acompanham esse
fenômeno foram incrementadas a partir da segunda metade do século passado, as elaborações de
Freud sobre os destinos do complexo de Édipo podem ser esclarecedoras se retomadas em uma
articulação com as contribuições ulteriores de Jacques Lacan.
Assim, pode-se dizer que Freud aponta saídas possíveis para a trama edipiana e elabora
questões relativas à subjetivação da diferença sexual em alguns textos da chamada segunda tópica.
Entre os seus artigos mais fundamentais sobre o tema, encontram-se: “A organização genital infantil”
(1923), “A dissolução do Complexo de Édipo” (1924) e “Algumas consequências psíquicas da distinção
anatômica entre os sexos” (1925). Assim, no que diz respeito ao menino, por exemplo, Freud dirá que
a simples ameaça de castração por parte dos adultos não tem grandes efeitos sobre ele; da mesma
forma, a visão do sexo das meninas o faz dizer “isso vai crescer”. Em outras palavras, para Freud, é
necessário que os dois fatores estejam juntos: ameaça e visão do órgão do outro sexo para que algo
do “complexo de castração” possa surgir e operar. Ao admitir a possibilidade da castração, o menino se
vê, então, obrigado a renunciar à sexualidade, que se manifesta, nessa época, sobretudo, pela
masturbação.
Assim, o “complexo de castração” é determinante quanto à dissolução do complexo de
Édipo, pois ele exerce uma função normalizante — função que não é completa nem constante:
frequentemente, o menino não renuncia à sua sexualidade, seja porque ele não quer admitir a
realidade da castração, dando prosseguimento à masturbação, seja porque, apesar da interrupção da
masturbação, a atividade fantasmática edipiana persiste e até mesmo se acentua, incidindo sobre a
vida sexual na idade adulta.
Ao estabelecer a primazia do falo para os dois sexos, Freud insiste sobre o fato de que o
justo valor da significação do “complexo de castração” só pode ser apreciado com a condição de
considerarmos que ele se dá na fase do primado do falo. É possível extrair daí duas consequências.
A primeira é que as experiências prévias de perda (do seio, das fezes) não têm a mesma
significação que a castração, visto que elas acontecem no âmbito da relação dual entre mãe/criança,
ao passo que a castração é justamente o que pode colocar um fim nessa relação (para os dois sexos).
Em outros termos, para Freud, só se pode falar em complexo de castração a partir do momento em
que a representação de uma perda está associada ao órgão genital masculino.
A segunda consequência é que o complexo de castração diz respeito tanto ao homem
quanto à mulher. O clitóris da menina se comporta, inicialmente, exatamente como um pênis. Porém, Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais – Almanaque On-line nº 11
Julho a dezembro de 2012
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na menina, a visão do órgão do outro sexo desencadeia imediatamente o complexo. A partir do
momento em que ela percebe o órgão masculino, ela se sente vítima de uma castração. Ela se
considera, de início, uma vítima isolada, depois estende progressivamente essa ideia às outras crianças
e aos adultos do mesmo sexo, que lhe parecem, então, desvalorizados. Tal é a tese de Freud em “A
dissolução do complexo de Édipo”. A forma de expressão que toma na menina o complexo de
castração é a inveja do pênis: “Logo de entrada ela julgou e decidiu, ela viu isso, sabe que não o tem e
quer tê-lo”: eis o que afirma Freud em “Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre
os sexos”.
A inveja do pênis pode subsistir como inveja de ser dotada de um pênis, mas a evolução
normal é aquela em que ela encontra seu equivalente simbólico no desejo de ter um filho, o que leva a
menina a escolher o pai como objeto de amor. O “complexo de castração” exerce, portanto, uma
função normalizante, fazendo a menina entrar no Édipo, orientando-a para a heterossexualidade.
No entanto, Freud não deixa de evocar as consequências patológicas do complexo de
castração na mulher: a inveja do pênis pode persistir indefinidamente no inconsciente e ser um fator
de ciúmes e depressão.
Esse resumo das questões freudianas aponta, a nosso ver, para as dificuldades que
envolvem a questão da subjetivação da diferença sexual. Se, nesses desenvolvimentos, a hipótese da
psicose não é aventada por Freud, os impasses da sexuação retomados por Lacan encontram aí um
terreno fértil para nos orientar sobre as sutilezas do transexualismo enquanto fenômeno (clínico)
moderno.
O aporte
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