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Vilém Flusser

Por:   •  13/3/2016  •  Exam  •  1.143 Palavras (5 Páginas)  •  241 Visualizações

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  1. Quando Flusser encontra o propósito da co- algo.municação, que é o afastamento da morte eda solidão de saber-se ser humano, ao mes- Podemos pensar a comunicação como resul-mo tempo reconfortamo-nos com tal ideia, tado da nossa adaptação uma vez que partesque, lúcida, é-nos palpável e, ao mesmo tem- do nosso corpo com funções primárias satis-po, passível de inquirições quando releva- feitas abrem novas possibilidades. Pés quemos outras frentes de pensamento. Talvez foram feitos para equilibrar o corpo tambémaqui não seja o caso de desconstruir Flusser servem para chutar, mãos que foram feitasem sua obra única, mas também não seria para manipular objetos também constroem.lícito furta-se a imaginar que esta mesma ân- O que há de comum em todas estas situaçõessia do ser humano em se comunicar pode vir é a interferência do intelecto, e aí a comuni-de algo mais abrangente. cação começa a ter um propósito mais com- plexo do que simplesmente ser comparada aO primeiro ponto a se observar é o de que co- uma abelha ou um pássaro.municar-se não é necessariamente um sub-terfúgio para a finitude da vida. Há também O “brutal sentido da vida” de Flusser é aosaspectos primordiais de sobrevivência nas poucos eclipsado pelo sentido de esperança,relações com os pares. Quando ainda éramos sobretudo quando inicia-se o pensamentohominídeos, viver em grupo sempre certifi- mágico que desemboca nos processos re-cou que um poderia cuidar do outro e que ligiosos. Porém, antes disso, há de se con-todos poderiam cuidar de todos – Alexandre jecturar sobre a solidão, aparentemente aDumas talvez tenha escrito o “um por todos condição humana tão implacável quanto ae todos por um” baseado neste mesmo en- própria morte. Neste caso, o autor talveztendimento. se deixe levar pela lógica que tece em sua proposição, mas pode esquecer de outros as-Flusser não vê a comunicação como algo pectos que se mostram evidentes quando senatural, e isso é demonstrado claramente olha para o cenário da vida.quando ele articula que “na fala não são pro-duzidos sons naturais como, por exemplo, É difícil concordar que o homem seja umno canto dos pássaros, e a escrita não é um ser solitário quando entendemos que vivergesto natural como a dança das abelhas” em grupo é a estratégia mais antiga para(2007, p. 89). Irrefutavelmente não o é, garantir a sobrevivência. Desde o ser maisespecialmente quando levamos em consi- primordial a dar origem ao homo sapiens,deração os estudos sobre Cognições Sociais todos eles se organizavam em pequenos oupropostos por Fiske e Taylor (2008). Estes grandes grupos para executar tarefas, prote-estudos fazem parte de um estudo mais am- ger a prole. Mais tarde, quando entendemplo chamado de Teoria da Mente desenvolvi- a cultura de subsistência como um meio dedo desde a década de 1950. vida mais próspero, continuam em grupos e ampliam o conceito de comunidade. As Cognições Sociais implicam que certashabilidades são subprodutos de mecanis- Por todo este cenário a comunicação tam-mos existentes. As mãos, por exemplo, não bém se torna fundamental, seja para a dis-foram feitas para escrever, mas o treino tribuição de tarefas, seja para disseminar oaperfeiçoou esta habilidade nos seres huma- conhecimento adquirido através de algumanos. Se fosse algo inato, sairíamos escreven- prática diária ou simplesmente pela observa-do como bezerros recém nascidos já saem ção de um fenômeno. O que o ser humanocaminhando. Quanto a isso há o ponto pací- faz, portanto, é inverter o sentido de solidãofico. No entanto, o sistema vocal na gargan- que por ventura poderia ser primário e es-ta é, sim, desenvolvido para emitir som. É sencial como Flusser prega. A comunicaçãonatural de um bebê emitir som assim como não pesará para o lado anatômico ou socio-nasce, da mesma forma que era natural nos lógico do ser humano; os dois lados se com-hominídeos criarem certos padrões sono- pletam tanto na necessidade de exprimirros – ainda que grunhidos – para comunicar quanto na possibilidade de utilizar o próprio 3
  2. 4. corpo como meio de comunicação. criar um legado, onde todos terão acesso e moldarão constantemente suas próprias ca-A religião nos mostra que este processo é ve- pacidades cognitivas e intelectuais.rificável. O pensamento mágico de uma vidaque já não é mais finita uma vez que se esta- Em cima deste conceito de acúmulo de co-belece o conceito de recompensa após a mor- nhecimento e a transmissão dele por meiote incentiva que pessoas se unam mais ainda da comunicação, Flusser trabalha a duali-frente a este propósito. Quando em Marcos dade entre “diálogo” e “discurso” (p. 97).16:15 lemos “Ide e pregai o evangelho a toda Vejamos que um índio interpreta a chuvacriatura”, vemos aí o estopim para que a co- como um castigo de Tupã, ao passo que ummunicação religiosa tenha seu efeito mais meteorologista explicará como uma etapanatural em essência. A mensagem é clara: do ciclo das águas na natureza. Portanto,reúna cada vez mais pessoas transmitindo a pergunta-se: qual é o valor da informaçãomensagem de que elas não estão sozinhas e para cada contexto? Talvez a diferença entreque há um propósito para esta vida. “interpretar” e “explicar” resida nos está- gios do processo de comunicação: explica-seMesmo anteriormente ao cristianismo, o como comunicar e se interpreta a mensa-conceito de coletividade em função da comu- gem. Explicar está relacionado ao mecanis-nicação para arrebanhar pares é igualmente mo enquanto a mensagem é o produto desteverificável no judaísmo. Basta lembrar que mecanismo.judeus fecharam-se em guetos na Itália parapoder emprestar dinheiro a cristãos à época Em função do raciocínio deste trabalho, ain-de Medici e a instauração da instituição ban- da não é pertinente discutir a qualidade dacária – a lógica por trás disso, verifica-se, é mensagem envolvida no conceito de comu-a de que tornar-se-ia lícito cobrar juros de- nicação (p. 99). Apesar de sabermos que ales, já que não faria parte do mesmo povo diferença entre “diálogo” e “discurso” cabe. Mais uma vez o conceito de muito bem quando entramos no mérito dacoletivo se estende a outros fatores que são qualidade, a esquemática da interdependên-subprodutos de comportamentos sociais. cia parece ser uma nova etapa em todo o pro- cesso. Ela pode ser abordada se discutirmosMas, bem anteriormente a este episódio, a alienação proposta por Gutemberg ou atéjudeus sempre se organizaram coletivamen- mesmo o campo da hermenêutica.te para proteger seus interesses próprios, eisso é feito a ponto de não reconhecer sequerjudeus convertidos como iguais (COHEN,1999, p. 13). O termo “jewishness”, cunha-do por Shayne Cohen no livro The beginnin-gs of Jewishness (University of California,1999) mostra com clareza como agrupar-sepor um ideal transcende a ideia de ser solitá-rio e, quem sabe, vagar bestialmente.A ideia de que a comunicação serve maispara agregar do que aplacar algum sofri-mento reside no fato de que o acúmulo deconhecimento em algum ponto permite a li-derança. O detentor do conhecimento é umdoutrinador, um organizador. Será esta figu-ra quem ajuda a transformar o ambiente poronde flana proporcionando mudanças quetornar-se-ão significativas para todos que es-tão contidos. Em um plano mais sofisticado,o acúmulo de conhecimento serve para se 4

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