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Wall Street - Poder E Cobiça

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Por:   •  1/5/2014  •  1.392 Palavras (6 Páginas)  •  713 Visualizações

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Os críticos de Oliver Stone podem falar o que quiserem, mas ninguém em sã consciência pode afirmar que ele não é corajoso. Um dos diretores mais polêmicos do final do século passado, Stone sempre teve coragem de abordar, em seus filmes, temas relevantes e até espinhosos: dos horrores da guerra (Platoon [idem, 1986] e Nascido em 4 de Julho [Born on the Fourth of July, 1989]), passando pela glorificação da violência (Assassinos por Natureza [Natural Born Killers, 1994]) e chegando até a conspirações governamentais (Nixon [idem, 1995] e JFK – A Pergunta que Não Quer Calar [JFK, 1991]), o cineasta jamais fugiu de uma boa briga, construindo uma filmografia que, se peca na qualidade alguns momentos, funciona sempre como válido ponto de partida para reflexões sobre alguns dos mais importantes momentos da história recente dos Estados Unidos.

E talvez Wall Street – Poder e Cobiça (Wall Street, 1987) seja o principal representante desta maneira de analisar o cinema de Oliver Stone. Em sua essência, não se trata de um grande filme, mas funciona muito bem como documento histórico sobre a mentalidade dos Estados Unidos em meados dos anos oitenta. O roteiro, escrito pelo próprio Stone e por Stan Weisler, tem início em 1985, apresentando o jovem corretor de ações Bud Fox. Extremamente ambicioso, Fox tenta se aproximar de um dos maiores “tubarões” do mercado da bolsa, o milionário Gordon Gekko. Pouco a pouco, o iniciante começa a ganhar a confiança de Gekko, desempenhando uma série de serviços para o veterano. À medida em que enche os bolsos de dinheiro e descobre os benefícios dessa vida, Fox começa a perceber os caminhos nem sempre honestos de Gekko, enquanto questiona a sua própria moralidade.

Existem filmes que sobrevivem à força do tempo graças à sua qualidade e outros que o fazem por representarem o espírito de uma época. Wall Street, ainda que tenha suas qualidades, pertence ao segundo grupo, capturando a forma de pensar norte-americana da década de oitenta de forma louvável. Stone construiu uma história sobre os chamados “yuppies”, os jovens que inverteram os valores defendidos nos anos sessenta e setenta ao buscarem incessantemente as conquistas materiais, onde a aparência e aquilo que se possui são os conceitos pelos quais se mede alguém. Desde os primeiros minutos de Wall Street, Stone deixa claro que é exatamente este ponto de mudança que deseja retratar em seu filme: quando o personagem de Charlie Sheen diz ao seu pai que “não há mais nobreza na pobreza”, o cineasta afirma que, na visão deste personagem-símbolo daquela era, a luta pela igualdade e pelos direitos deu lugar à corrida constante pelo sucesso profissional.

Wall Street pode parecer estranho para alguns em função de seus imensos celulares e precários computadores, mas é interessante analisar como esta nova percepção de vida surgiu exatamente em um momento de total renovação tecnológica. Na lógica onde o “ter” é mais importante que o “ser”, as relações humanas são deixadas de lado nessa interminável jornada rumo ao topo – e tal “desumanização” também não deixa de ser resultado desta explosão de tecnologia e modernidade. Neste sentido, os anos oitenta surgem como um período crucial da cultura norte-americana, os primeiros passos da formação de uma consciência que perdura ainda hoje, onde a busca pela pujança material é o grande objetivo de vida. Não importa ter o bastante, porque nunca é o bastante. Esta questão, aliás, é bem apresentada por Stone em uma cena na qual Bud Fox confronta Gordon Gekko e pergunta diretamente: “Quanto dinheiro é suficiente?”

Não é por acaso, então, que, em uma cultura de competitividade acirrada onde uma conta bancária modesta é sinal de fracasso, uma frase de Wall Street tenha entrado para a história do cinema: “Ganância é bom”. Proferida por Gekko em frente à diretoria de uma empresa que pretende comprar, a fala é a síntese de todo o seu discurso – e, de certa forma, do período abordado pelo filme –, no qual os mais poderosos devem engolir os mais fracos para o seu próprio prazer, em uma versão corporativa da “lei do mais forte”. Para Gekko, não importa quanto dinheiro ele possui, mas sim a consciência de ele pode enriquecer ainda mais. Saber disso é motivação suficiente para seguir em seu caminho, mesmo que seja passando por cima de quem está em sua frente.

E Stone é extremamente bem-sucedido ao capturar em celulóide a essência dessa época. Há em Wall Street um extremo cuidado com os detalhes, como nos cabelos milimetricamente penteados, nos ternos bem-acabados, na confusão da firma na qual Fox trabalha ou na opulência do escritório de Gekko. Tudo parece ser bem pensado e planejado para que o filme mostre a efervescência desse momento da história. O mesmo, aliás, pode ser dito da câmera de Stone, irrequieta e quase sempre em movimento, transmitindo o sentimento de urgência não somente da jornada de Bud Fox como também de toda a sociedade de excessos da época. Stone também merece elogios pelo ritmo que imprime à obra: Wall Street é um filme ágil, beneficiado por uma montagem eficiente e pela velocidade com a qual os atores reproduzem os diálogos.

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