O Teatro do Oprimido educando para a Sociologia
Por: Monica Limonta • 20/4/2019 • Artigo • 10.490 Palavras (42 Páginas) • 188 Visualizações
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE MÚSICA
GRADUAÇÃO EM ARTES CÊNICAS - LICENCIATURA EM
TEATRO
MÔNICA LIMONTA
PRÁTICAS TEATRAIS: O Teatro do Oprimido
educando para a Sociologia
Maringá - PR
2017
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE MÚSICA
GRADUAÇÃO EM ARTES CÊNICAS - LICENCIATURA EM
TEATRO
MÔNICA LIMONTA
PRÁTICAS TEATRAIS: O Teatro do Oprimido
educando para a Sociologia
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de licenciado em Artes Cênicas, sob orientação do Professor Dr. Wagner Rosa.
Maringá - PR
2017
RESUMO
Entender como se processam as relações de opressão na sociedade, através da prática educativa libertadora, como proposta por Paulo Freire, implica em estabelecer um diálogo constante e dinâmico entre os sujeitos, no sentido de buscar a diversidade de diferentes conhecimentos possíveis de vários lugares e épocas. Cremos que práticas teatrais possam colaborar fundamentalmente com esse processo, por expandirem as possibilidades de ação didática. Proposto por Augusto Boal, o Teatro do Oprimido visa dar um sentido profundamente social para tais práticas, em que o sujeito tem a oportunidade de indagar a si mesmo e o mundo, tanto no tempo presente quanto no passado. Quando direcionamos essas ferramentas ao ensino de Sociologia, percebemos o quanto a habilidade de considerar a relação dos atores sociais com os elementos do seu tempo pode proporcionar uma rica integração das propostas dos autores aqui discutidos, assim como oportunizar o diálogo com o conhecimento sociológico no processo educacional. Buscamos, através deste estudo prático e investigativo, analisar as potencialidades de práticas teatrais associadas ao ensino de Sociologia. Particularmente utilizamos a ditadura civil-militar brasileira como base temática. Para tanto, analisamos algumas contribuições de Augusto Boal e Paulo Freire que serviram de base para este estudo discutindo os resultados das práticas teatrais implementadas à luz das análises teóricas realizadas. Com este estudo, além de entender como se processa o pensamento histórico dos estudantes, partindo do tema proposto, buscou-se também oferecer mecanismos para o seu aperfeiçoamento.
Palavras-chave: Relações de opressão, práticas teatrais, ditadura militar.
INTRODUÇÃO
O ensino de Sociologia ministrado no Brasil tem avançado no sentido de buscar novas estratégias que nos levem a compreender como estudantes e professores pensam a relação dos sujeitos sociais no tempo. Procura-se um pensamento sociológico que não somente recorra à interpretação das fontes, mas que, sobretudo, seja entendido enquanto narrativas construídas, refletidas e desconstruídas.
Entendemos que mesmo os alunos mais jovens tem a capacidade de produzir raciocínios sociológicos de forma elaborada desde que tenham condições de aprendizagem que facilitem a aproximação entre os conhecimentos dos sujeitos e o conhecimento escolar que se propõe analisar.
Para nós, o ensino de Sociologia deve ultrapassar a educação formal simplista que busca o acúmulo de informações associadas à técnicas de decoração e memorização. Dessa forma, falar em uma educação sociológica significa propor uma abordagem problemática voltada para entender a forma como os alunos compreendem a sociedade e por que devemos aprender sociologia. Por isso o professor-investigador deve instruir-se para ensinar a partir dos conhecimentos prévios dos alunos e não somente se direcionando para os conteúdos próprios do currículo formal de ensino. E a partir disso, buscar mecanismos eficazes para o aperfeiçoamento deste aprendizado histórico e sociológico.
O estudo prático/investigativo apresentado nesse artigo teve por objetivo analisar as potencialidades de práticas teatrais associadas ao ensino de Sociologia. Para tanto, utilizamos a ditadura civil-militar brasileira como base temática.
O trabalho é fruto de uma pesquisa realizada junto a um grupo de trinta e dois estudantes do Ensino Médio público do Colégio Gastão Vidigal realizada em contraturno, cujas atividades ocorreram ao longo de sete semanas, com um encontro semanal que durava duas horas. As dinâmicas realizadas variavam de acordo com os objetivos e as temáticas para aquele encontro. Sendo que, além de exercícios teatrais, no que tange ao conceito substantivo proposto, utilizamos também recursos audiovisuais, textos, e mesmo aulas expositivas, quando se fez necessário.
No processo de ensino de Sociologia, aos conhecimentos prévios dos estudantes somam-se dois tipos básicos de conteúdos: os conteúdos estruturantes, que tratam da base teórica e metodológica da sociologia e do conhecimento sociológico, como por exemplo, explicação histórica e teórica, fontes, evidência, imaginação sociológica, narrativa etc.; e os conteúdos específicos, que se referem aos conceitos sociológicos propriamente ditos, como por exemplo Revolução Industrial, Capitalismo, Fascismo etc. (RAMOS, 2013). Nosso trabalho desenvolveu-se tendo como base de análise os conceitos específicos, particularmente a Ditadura Civil-Militar no Brasil (1964-1985) logo após a decretação do AI-5.
A conjuntura da Ditadura no Brasil sem dúvida influenciou o surgimento de pensamentos contrários às práticas adotadas pelo Estado e ao rumo que a sociedade estava tomando, por estar se distanciando cada vez mais da reflexão sobre si própria e sobre a possibilidade de um futuro mais justo. Nesse contexto, destacamos dois pensadores fundamentais, pelas teorias desenvolvidas e pela proposta de mudança que carregavam em si: Augusto Boal (1931-2009), criador do Teatro do Oprimido (TO) ao longo da década de 1970; e Paulo Freire (1921-1997), que publicou o livro Pedagogia do Oprimido em 1974. Tanto a proposta teatral de Boal, quanto a obra de Freire serão base para as reflexões e ações aqui propostas.
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