A Guerra Fria
Por: soremartim • 6/9/2016 • Exam • 1.757 Palavras (8 Páginas) • 193 Visualizações
(ARTIGO PUBLICADO EM JORNAL DE OSASCO)
Adelaide Escobar Bueno: uma pioneira do ensino público
Sonia Regina Martim
Ao realizar pesquisa sobre a história das escolas em Osasco, passei longas horas, dias, semanas e meses convivendo com as dificuldades, surpresas e ácaros que habitam as infinitas latas (latas – literalmente) que compõem o acervo do Arquivo do Estado de São Paulo.
Uma pesquisa histórica é o tipo de trabalho altamente desafiante: algumas vezes revela-se uma tarefa árida e inglória; em outros momentos é maravilhosa e gratificante, pois enquanto passamos semanas a ler (e desvendar) papéis antigos -- e, no meu caso, a sofrer com as alergias decorrentes da convivência com os microrganismos inquilinos típicos dos papéis envelhecidos -- sem descobrir uma única linha que nos conte algo acerca do que buscamos, é indescritível a satisfação que sentimos quando finalmente começamos a ler papéis escritos há um século falando de coisas do cotidiano das pessoas que viveram aqui e aqui fizeram a história da nossa cidade.
Ter a posse de um documento escrito à mão, contando fatos banais da rotina de uma escola, por exemplo, é uma experiência magnífica, pois constatamos que durante um século esse papel esteve guardado sem que ninguém lhe atribuísse maior significado. É uma experiência que revela ao pesquisador um sentimento de felicidade por perceber que em suas mãos ele passa a ter sentido e importância, a argamassa fundamental para a reconstrução de uma história, a nossa história, a história da nossa gente, a história de onde nascemos e vivemos.
Tive o prazer de desfrutar dessa sensação ao encontrar alguns livros que tratam da rotina escolar da “Escola Preliminar Mista da Estação de Osasco” (de 1900 a 1906), da “Escola Preliminar – Seção Masculina – da Estação de Osasco” (de 1907 a 1909) e da “Escola Preliminar – Seção Feminina – da Estação de Osasco” (de 1907 a 1910).
É incrível como pequenas coisas nos revelam tanto sobre o passado.
Ao remexer esses livros, por exemplo, comecei a conhecer em meu imaginário a professora Adelaide Escobar Bueno, a primeira professora pública a vir para Osasco ainda em 1900 e que chegou a ministrar aulas em sua própria casa. Como seria essa mulher que por quase oito anos lecionou, viveu e registrou o cotidiano da vila que se formava em torno da estação de Osasco? Como era a vida de seus alunos? Nesses livros estabelecemos um contato virtual (e quase ficcional) com os primeiros Colino, Spitalete, Pavão, Dias, Esteves, Genta, Brito, Rovai, Sá, Belli, Fabri, Fiorita, Gianette, Marchetti, Orse, Michelli, Pignatari, Negri, Stersa, Tamaro, Crê, Curtarelo, Durigon, Delanina e tantos outros que aqui chegaram e ajudaram a construir nossa cidade.
Movida por essa curiosidade comecei a procurar saber mais sobre a professora Adelaide, quando o, então diretor do Departamento de Planejamento e Urbanismo, Ângelo Melli me informou que em Osasco havia uma rua com esse nome. Busquei o processo de denominação, datado de 1968, ainda no mandato do então prefeito Guaçu Piteri, e tive contato com um pequeno histórico da vida dessa professora.
Mas ainda era pouco, fui buscar contato com familiares dela, a partir da informação de que um de seus filhos havia se tornado Delegado de Ensino em Santo André, no final dos anos 60, mas nada consegui nos registros escolares daquele município. Após algumas tentativas frustradas, fui procurar na lista telefônica todos os “Escobares Buenos” possíveis. E, depois de tantos enganos e desenganos, acabei por descobri-los. Por outro lado, estive em contato com o jornalista do “Diário do Grande ABC” Ademir Médici, especialista em história de famílias da região do ABC (e que publicou um artigo onde divulga a minha pesquisa), conseguindo, assim, preciosa colaboração nessa busca.
E dessa forma, pude conhecer um pouco mais essa extraordinária mulher que orientou e ajudou a formar os primeiros homens e mulheres de nossa Osasco.
Nascida em São José dos Campos, em 1873, Adelaide Escobar mudou-se para São Paulo e estudou no antigo Instituto Americano (atual Mackenzie) de orientação protestante, o que provavelmente ajudou a formar seu caráter rígido, severo e trabalhador.
Aos dezessete anos casou-se com João G. Bueno de tradicional família bandeirante de São Paulo e em 1891 teve a sua primeira Filha, Adelaide Escobar Bueno Filha, que viria a concluir seus estudos primários na Escola Preliminar Mista da Estação de Osasco em 1902.
Logo percebe que tem de ajudar nas despesas da casa e já casada e com filho volta para a escola e vai cursar a “Escola Normal de São Paulo” (posterior Caetano de Campos) na Praça da República. Formou-se em 1895, quando já era mãe de 4 filhos, sendo que uma de suas filhas (Maria Eleutério) nasceu um pouco antes da sua formatura.
Em 1896, recém formada, mudou-se para Amparo, no interior do Estado, indo lecionar no Grupo Escolar “Luiz Leite”.
No final de 1900 consegue transferência para uma localidade mais perto de São Paulo e vem lecionar em Osasco, que já conta com os benefícios trazidos com a construção de uma estação de trem, patrocinada por Antonio Agu e que por isso leva o nome da sua cidade natal na Itália.
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