A RESENHA FILME XXY
Por: m1rell4 • 22/3/2021 • Resenha • 723 Palavras (3 Páginas) • 291 Visualizações
Universidade Federal da Bahia
Nome: Mirella Oliveira Nery Mota
Componente: FCHE02
Docente: Clarice Pinheiro
Obra fílmica XXY: uma análise sobre corpo, gênero e sexualidade
O caso de Alex trazido no filme argentino “XXY” é a porta principal para um dos assuntos mais polêmicos que envolvem corpo, gênero e sexualidade: a Síndrome de Klinefelter, o intersexo.
Alex, mesmo sendo intersex, foi criada toda sua vida para ser uma garota. Nessa perspectiva, seus pais lhe davam hormônio e outros remédios para que interceptasse o desenvolvimento de características do sexo masculino, afim de conservar a identidade feminina da criança e futuramente realizar a cirurgia para que de fato se tornasse uma mulher.
Entretanto, aos 15 anos, com toda a problemática da puberdade, do preconceito, da renegação social e falta de aceitação própria, Alex acaba entrando numa confusão existencial que acomete tanto a ela quanto aos seus pais e pessoas próximas. É aí que o dilema é estabelecido: continuar com o tratamento e ignorar a condição biológica de Alex na sociedade? Como proceder? Levar em conta os anseios de um indivíduo com 15 anos em processo de confusão mental? Como tratar de uma questão tão delicada que envolve não só a sexualidade, mas as fronteiras entre o feminino e o masculino numa sociedade inóspita às diferenças?
Para explicar algumas dessas questões, é necessário levar em consideração que gênero além de servir de substituto para o termo “mulher”, é também constituído de relações entre o feminino e o masculino, onde um depende do outro para formar as correlações que existem dentro desse tópico.
O termo “gênero” além de substituir o termo mulheres, é também utilizado para sugerir que qualquer informação sobre as mulheres é necessariamente informação sobre os homens, que um implica no estudo do outro (SCOTT, 1995, p.75).
O filme traz em xeque a discrepância entre identidade e representatividade vivida por Alex na trama. Embora ela fosse tratada e apresentada como uma garota pela sociedade, Alex não se identificava como uma, pois sentia que a sua identidade não poderia ser aprisionada ao gênero que lhe escolhessem. No decorrer do filme, as coisas vão ficando mais claras.
A forma como o autor trata o tema é fantástica. A confusão inicial da personagem principal diante das situações problemas dentro de casa e na sociedade mostra ao telespectador o quão angustiante é a opressão por gênero e corpo, bem como o quanto a sociedade recrimina e violenta, literalmente, aquilo que não se encaixa nos padrões por ela construídos.
O filme traz também a misantropia da prática médica que é fazer a cirurgia dos casos de intersexo ainda enquanto bebês, na tentativa de “normalizar” o corpo, uma vez que ao crescerem não vão lembrar de nada, apenas verão cicatrizes, porém continuarão com a alteração genética. Essa prática já foi proibida em alguns países na América do Sul como o Chile, pelo fato de ser “visivelmente uma operação de risco em tecidos sensíveis, feita sem conhecer plenamente as consequências para a vida inteira, em nome de um motivo irrisório: o estereótipo sobre o aspecto que se deve ter um menino ou uma menina”, segundo investigadores especialistas sobre orientação e igualdade de gênero. As pessoas que são contra às cirurgias em bebes intersexo como eu defendem que não devem ser realizadas cirurgias a não ser que seja por razão de saúde clínica, permitindo assim que ao passo que a criança cresça e se reconheça, possa escolher a sua identidade e o que quer fazer com o seu corpo.
Felizmente, os pais de Alex são pessoas que irão pesquisar sobre a prática dessas cirurgias e vão permitir que tenha a sua escolha sobre a sua vida. Esse filme do cinema argentino é um destaque como referência de uma das tramas mais bem produzidas sobre temas pertinentes e de impacto social, trazendo a Alex como um personagem que existe em grande número, e que sofre igualmente com a reprovação social e os tabus que cegam o mundo.
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