ETNOGRAFIA SOBRE A LUTA DOS MOTO TAXISTA E AUTO GESTÃO DE UM PONTO CLANDESTINO
Por: Robson Chagas • 20/9/2019 • Pesquisas Acadêmicas • 1.956 Palavras (8 Páginas) • 197 Visualizações
A LUTA DOS MOTO TAXISTA E AUTO GESTÃO DE UM PONTO CLANDESTINO
Esta pesquisa esta baseada na observação participante amparada pelo método etnográfico . O foco desta pesquisa é um grupo específico de moto taxi que fazem ponto na cidade de Parnaíba PI entre os dias de 22 de junho de 2019 a 29 de julho de 2019 no endereço Av Dr João Silva ao lado do PPO conhecido como ponto do “ acelora” sendo todo o grupo clandestino , ou seja, não possuem cadastro na prefeitura e nem na secretaria de trânsito.
Vamos abordar o cotidiano e o motivo que os levaram a ingressar e permanecer nesse sistema de moto taxi clandestino, observaremos as relações com os colegas de trabalho e como funciona o gerenciamento do ponto de moto taxi já que as “leis” são estabelecidas por eles mesmos sem ação de nenhum agente público mostrando que o trabalho é feito de forma autônoma as regulações vigentes e mostrando que o único aliado que eles possuem em comum é a lei da sobrevivência.
Não irei fazer aqui uma análise do termo auto gestão , mas sim, relatar empiricamente as formas que são utilizadas pela equipe de moto taxi para organizar seu meio de sustento de forma independente de nenhuma regulamentação estatal.
Devido a crise social e a falta de empregos formais, esse foi o modo encontrado por muitos trabalhadores com suas motocicletas de se inserirem de volta ao mercado de trabalho mesmo que de forma clandestina já que praticamente todos não terminaram sequer o 9º ano e sabem que nesse tipo de trabalho não será necessário a comprovação de escolaridade.
De posse com suas motocicletas e com a facilidade de percorrer uma longa corrida num curto espaço de tempo driblando as ruas da cidade , a moto passou a ser utilizada como ferramenta de trabalho e facilitou o deslocamento de muitos trabalhadores e usuários.
Nesta observação participante será dado voz aquele que não tem a oportunidade de se expressar e que muitas vezes é visto como aquele que nem ouve e nem fala, somente obedece os comandos dados pelos seus usuários.
E por mais que seja um ponto de moto taxi clandestino , onde qualquer um pensaria que ali ninguém obedece normas , onde não há qualquer tipo de organização , onde basta parar sua motocicleta e começar a fazer suas corridas , nos enganamos profundamente.
O ponto tem “leis” próprias onde todos seguem uma dinâmica de organização e essas dinâmicas são o ponto de partida da minha etnografia. Foi observado a dinâmica do grupo de moto taxi que no total são 13 durante o período de quinze dias , antes de iniciar minha aproximação.
Cheguei ao ponto de moto taxi por volta das 8:30 da manhã do dia 22 de junho de 2019 e me deparei somente com dois moto taxistas para iniciar seu dia de trabalho , perguntei se era sempre assim , o dia iniciando somente com dois moto taxi e eles me disseram que os outros rodaram durante a noite numa festa ocorrida na praça do amor e por esse motivo provavelmente chegariam mais tarde. Por volta das 11h, aos poucos os outros foram chegando.
O primeira a chegar por volta das 11h foi o Lucivaldo , conhecido como Naldo e já chegou contando suas “aventuras” vividas na noite anterior durante uma corrida : pegou uma passageira durante a tal festa realizada na Praça do Amor por volta da 1h da madrugada pedindo que a levasse próximo a saída da cidade , onde chegando ao destino a passageira pediu para que ele esperasse do lado de fora da casa , pois a mesma iria entrar para resolver um “problema” e pediu para que ele aguardasse durante 30 minutos para depois levá-la a outro endereço. Ele aguardou conforme ela pediu e por volta das 1:40 da manhã a levou no próximo endereço pedido por ela que ficava no Brodewile , assim também a passageira pediu para que ele aguardasse os mesmos 40 minutos e depois encerraria a corrida. Assim ele fez , quando a passageira saiu da casa por volta das 2:40h da madrugada , ela pediu para que a levasse para casa em outro endereço localizado no Betânia. Ao chegar ao local que a passageira iria ficar , ele informou que a corrida ficaria no valor de R$ 45,00 e que a mesma a convidou para entrar em sua residência se insinuando e perguntou se poderia pagar de “outra maneira” , ou seja , “oferecendo seus serviços” , foi ai que ele se deu conta de que se tratava de uma garota de programa e que estava utilizando dos seus serviços de moto taxi para atender seus clientes. Ele recusou a oferta e disse que queria receber em espécie o pagamento pelas corridas e ele disse que só tinha R$ 30,00. Ele pegou e saiu bem revoltado com a situação. Quando nos relatou a situação já estava mais calmo e sorrindo diante das dificuldades do seu cotidiano.
Quando eu me aproximei do ponto de moto taxi , logo eles acharam que eu seria mais uma passageira , quando me apresentei com um “bom dia” ninguém me respondeu , simplesmente me perguntaram pra onde eu iria e chamaram o moto taxi da “vez” , pois o sistema deles de organização é por vez , ou seja , a moto marca a “vez” enquanto eles buscam um local com sombra para descansar enquanto não vem passageiro e é muito importante que todos prestem atenção a sua vez quando o passageiro se aproxima.
É totalmente proibido passar a vez do colega ou sair do ponto para pegar passageiro em outro ponto. Assim como reclamações dos clientes referente a alguma má conduta que qualquer moto taxista não é tolerada , pois eles tem medo que o passageiro se chateie e faça alguma denúncia para os órgãos competentes e eles não possam mais trabalhar naquele local. E isso gera prejuízo ao grupo , pois eles já fidelizaram clientes naquele ponto e não querem ter que mudar de lugar. Até porque foi sancionada uma lei recente aqui em Parnaíba que obriga todos os moto taxistas a se cadastrarem junto a prefeitura e eles alegam que não fizeram esse cadastramento ainda para efetivar a legalização devido a falta de recursos financeiros.
Todos eles entram em pânico com a palavra vistoria que é feita para legalização , isso inclui: mudança da placa , pintura da moto padronizada , uso do colete também padronizado com número de cadastro do moto taxista e nome , mais a documentação da moto em dia que é uma exigência do Detran e a carteira de habilitação que alguns deles não possuem.
Expliquei qual era a finalidade da minha presença ali e fui muito bem recebida por alguns e com desconfiança por outros . logo de cara eu percebi a dinâmica da organização e como tratavam seus passageiros , assim expliquei que se tratava de uma pesquisa acadêmica e não tinha a intenção de atrapalhar o trabalho deles , assim que chegasse um passageira , eu me afastaria. De inicio, percebi que eles estavam muito sem jeito, mas depois com o passar dos dias foram ficando mais a vontade
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