O ETNOMETODOLOGIA GARFINKEL
Por: Geórgia Côrtes • 3/7/2017 • Resenha • 1.102 Palavras (5 Páginas) • 761 Visualizações
ETNOMETODOLOGIA GARFINKEL
Este campo da sociologia investiga o funcionamento do conhecimento produzido pelo senso comum e do raciocínio prático em contextos sociais. Em contraste com as perspectivas que encaram o comportamento humano em termos de fatores causais externos ou de motivações internalizadas, a etnometodologia enfatiza o caráter ativo, racional e cognitivo da conduta humana. O enfoque da Etnometodologia passava pela análise do uso da razão prática, percepção das estruturas sociais como “ambientes normais, a análise do “conhecimento de senso comum, conjunto de práticas e considerações pelo meio das quais os membros de uma sociedade justificam os seus atos de forma a perceber as tipificações ou normalizações, como características do senso comum. Sua inovação crucial foi estabelecer uma explicação das propriedades do conhecimento produzido pelo senso comum, das compreensões compartilhadas e da ação social ordinária que pode ser desenvolvida em um programa coerente de pesquisa empírica.
O seu objeto era a organização do cotidiano, fazendo defesa do uso do conceito de “fato social” como “fenômeno sociológico fundamental", sendo, contudo, uma produção do grupo e da relação do membro com o grupo. Os seus objetivos eram perceber as práticas organizadas que produzem estruturas de pequena e larga escala, as contingências definidas como normais e as tarefas criadoras de instituições e manutenção da ordem, perceptíveis nos relatos e conversas, que devem ser analisadas. Neste sentido, privilegiava-se o estudo da conversa, como interação que revela propriedades estáveis e ordenadas que são as realizações analisáveis dos dialogantes e optava-se pela indiferença metodológica, procurando analisar segundo os termos locais de interpretação de práticas e não proferir juízos morais.
Assim, a preocupação central era perceber como é que os indivíduos reconhecem, produzem e reproduzem as suas ações e estruturas sociais, analisando as circunstâncias de produção de ações e a intersubjetividade, caracterizadas por uma forte carga empírica e pela análise do campo linguístico, um recurso fundamental usado na ação social.
Obviamente que seria necessária uma recolha exaustiva de dados, conferir importância dos detalhes na compreensão do todo, considerar que as conversas possuem autonomia e são separadas dos processos cognitivos e contextuais e, além disso, possuem organização sequencial.
Se para Parsons a vida social é feita de adaptações ao que nos é dado e as ações subjetivas visam a integração em estruturas normativas, para Garfinkel a vida social é feita de procura de objetivos. Numa nova teoria da ação, o senso comum é uma forma particular de racionalidade e assume o seu primado, pelo que estudo das propriedades do senso comum prático que interpreta situações mundanas de ação, percebendo as suas motivações e sistematizando as suas propriedades de razão e ação prática, é a chave. Influenciado por Alfred Schutz, Garfinkel percebeu que na interação existe reciprocidade de perspectivas, existe mutualidade na inteligibilidade das atividades quotidianas, que se alcançam e mantêm, que os atores sabem mutuamente o que estão a realizar e que os significados são uma construção social realizada em conjunto. Assim, o estudo das propriedades da ação, indicam que o ator não só responde ao conhecimento percebido como à normalidade desse comportamento, que a ação tende a ser conduzida para a normalidade. Além disso, as normas são recursos para a manutenção da inteligibilidade de um campo de ação que parte da persistência das expectativas normativas. Resumindo, pode-se concluir que a ação é multifacetada, que a ação é contexto e altera-se no seu curso, que as normas são elásticas, revogáveis e ajustadas de acordo com a sua aplicação em diversificados contextos e se apresentam como recursos cognitivos, pois avaliam o desvio e a norma.
Na análise de Garfinkel, as compreensões comuns são o produto de um processo circular no qual um evento e seu pano de fundo são dinamicamente ajustados um ao outro para formar uma Gestalt coerente. Garfinkel descreveu esse processo, seguindo Karl Mannheim, como “o método documental de interpretação”, e afirmou que ele é um aspecto ubíquo do reconhecimento de todos os objetos e eventos, desde os aspectos mais mundanos da existência cotidiana até as mais recônditas realizações artísticas ou científicas. Nesse processo, reúnem-se as ligações entre um evento e seu pano de fundo físico e social usando-se uma série variada de suposições e procedimentos inferenciais. O método documental incorpora a propriedade da reflexividade: mudanças na compreensão do contexto de um evento provocarão alguma mudança ou elaboração da apreensão do evento central e vice-versa. Quando empregado num contexto temporalmente dinâmico, que é uma característica de todas as situações de ação e interação social, ele forma a base para compreensões de ações e eventos, entre os participantes, compartilhadas e atualizadas.
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