O Nazismo e o fascismo foram de esquerda
Por: andremanica • 4/11/2017 • Resenha • 4.083 Palavras (17 Páginas) • 266 Visualizações
É muito comum que pessoas alinhadas com a esquerda rotulem e se refiram de forma pejorativa aos alinhados com a direita utilizando equivocadamente o termo “fascista” ou mesmo “nazista”.
Muito se discute sobre a ideologia do nazismo e fascismo, ultimamente alguns defendem com muitos argumentos sólidos a teoria de que eram regimes de extrema-esquerda, contudo de fato a “hegemonia” permanece com os que defendem que os regimes eram de extrema-direita. Muitos acabam simplesmente fugindo do debate e soltando o velho bordão “vai estudar história” ou então recorrendo à prerrogativa da autoridade de um historiador como absoluta e não passível de contestação, como se o argumento de um economista ou cientista político não fosse crível...
Afinal o nazismo e o fascismo eram de extrema-esquerda ou de extrema-direita? Antes de tudo, é importante deixar muito claro que o conceito esquerda e direita em relação ao espectro político não é um conceito exaustivo, imutável e totalmente aceito. Em primeiro lugar define-se a direita em função da esquerda, ou seja, existe a esquerda, mais coesa e organizada, e o “resto”, um grupo altamente heterogêneo. Via de regra, o que é entendido como direita é majoritariamente composta por dois grupos: conservadores e liberais, muitas vezes antagônicos e contraditórios.
Contudo, à primeira vista, o nazismo e fascismo compartilham muito mais características com o socialismo, do que com o liberalismo e conservadorismo, dado que os nazistas e fascistas eram de fato revolucionários, coletivistas, estatistas (intervencionistas) e corporativistas, algo totalmente contrário ao livre mercado e conservação dos valores culturais tradicionais.
É a mesma coisa que chamar a ditadura militar brasileira de regime de extrema-direita, a despeito do fato de solaparem todas as liberdades individuais e implementarem um modelo de nacional desenvolvimentismo estatista e corporativista. Sem mencionar que nem mesmo conservadores os militares eram, na verdade eram de certa forma até “revolucionários” com inspiração positivista, conservadores eram os que apoiaram os militares na destituição do governo com receio de uma revolta comunista e foram enganados com a promessa de um regime transitório que acabou durando vinte e um anos.
Na verdade os militares queriam reformar as estruturas sociais e a forma de governo, suplantando toda a dimensão política. Mas o fato é que os militares não eram conservadores e não eram absolutamente nada liberais, o que os coloca na verdade na centro-esquerda, mas nunca, nunca mesmo na extrema-direita. De fato, o governo militar brasileiro por mais arbitrário, autoritário e sanguinário que seja, por mais corporativista, não pode ser comparado nem de longe aos regimes totalitários como o comunista ou o nazista. Mas essa é outra discussão, mas o princípio é o mesmo: tudo que é antimarxista é taxado automaticamente de extrema-direita, uma falácia é claro.
Não consigo pensar em uma só característica comum do nazismo e fascismo que são características clássicas da direita, muito pelo contrário, como demonstrarei ao longo do “artigo”.
Em minha opinião, o nazismo e fascismo são resultado da ação e história da esquerda revolucionária, na verdade essa concepção do nazismo e fascismo como pertencentes da extrema-direita é uma construção histórica de historiadores marxistas, que taxam de direita todo e qualquer regime antimarxista, afinal Mises mostra que nazistas e marxistas tinham sistema econômico e político muito próximo (algo evidente para a época, mas que foi apagado de nosso imaginário coletivo pela pecha de “extrema-direita” dada a posteriori para o nazismo pelos socialistas ingleses). É um uso intencional ou inconsciente da prática que depois baseou o conceito Janela de Overton (a teoria política e não o livro de ficção!) https://en.wikipedia.org/wiki/Overton_window Não devemos nos esquecer de que os socialistas de diferentes credos sempre lutaram uns contra os outros, e isso não os torna menos socialistas. Stalin não virou menos socialista porque brigou com o Trotsky.
O fato de os nazistas terem massacrados os marxistas locais não muda em nada o fato de os nazistas serem da extrema-esquerda, afinal toda a extrema-esquerda é pautada no uso da violência para chegar e se manter no poder, toda a ideia de que o nazismo é de extrema-direita é uma grande falácia. Que os nazistas eram antimarxistas não restam dúvidas, mas isso não os coloca no outro lado do espectro político, ainda mais no extremo, como falei antes é um verdadeiro caso de Janela de Overton. A confusão vem do fato dos marxistas em geral acreditarem que o socialismo surgiu com o Marx e que o socialismo é igual ao marxismo, mas o fato é que o Hitler e os nazistas em geral eram de outra linha mais antiga do socialismo, eram socialistas “conservadores” de extrema-esquerda. Na verdade o termo “conservador” foi empregado pelos próprios marxistas como uma forma pejorativa, até mesmo semelhante ao que descrevi em meu primeiro parágrafo.
Assim como os nazistas eram antimarxistas declarados e sempre desprezaram as ditas “raças inferiores”, entre elas os russos, o fato é que em sua construção o regime nazista sempre foi aliado político do regime fascista e do regime socialista da URSS, só depois o Hitler se voltou contra a URSS de Stalin, na verdade esse era o seu plano desde o início: contar com a ajuda da URSS para subir e se manter no poder e depois atacá-la. Contudo, Hitler e os nazistas eram muito mais inimigos dos regimes de “direita”, que eram o oposto de seu regime, como a Inglaterra e depois os EUA, do que contra a URSS, a qual a Alemanha nazista só combateu oficialmente no final.
Hitler e os demais nazistas eram de fato revolucionários e nunca, mas nunca mesmo, conservadores. Conservador é aquele que conserva valores e costumes tradicionais. Hitler era o completo oposto de um conservador, ele queria impor novos costumes e tradições e modificar toda a estrutura social, em outras palavras, um verdadeiro revolucionário. Ou seja, ele achava que, se ele “recriasse” a sociedade alemã segundo as nefastas ideias que habitavam sua cabeça doentia, o resultado final seria um paraíso na Terra. Na cabeça dele, a morte de alguns milhões de judeus estaria justificada quando “raiasse o novo dia” em que seu projeto de "mundo perfeito" estivesse consumado. Substitua o termo "judeus" por "burgueses" na frase anterior e você terá a fórmula do “mundo perfeito” na versão marxista-leninista.
Outro argumento muito utilizado é que o nazismo foi apoiado pela burguesia local, mas os defensores desse “argumento” não se atentam para as circunstâncias. Com medo do avanço socialista que poderia destituir suas propriedades (e até mesmo matá-los!) e com o intuito de acabar com a concorrência dos judeus, a melhor alternativa para os capitalistas alemães era se submeter ao regime nazista.
Mises comprovou que as empresas alemãs não eram de fato privadas, eram apenas nominalmente, que decidia o que seria produzido, quanto, como e quando, bem como a que preço seria vendido era unicamente o governo, a despeito do mercado, os capitalistas e consumidores não ditavam nada, apenas assistiam os desmandos do governo, ou seja, a economia nazista foi planificada e de fato socializada na figura do Estado. http://www.mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=109 Para conter o avanço do mercado negro, o regime nazista investia cada vez mais em aparatos de terror. Na verdade foi Hitler que se aproveitou em maior grau dos capitalistas alemães e não o contrário, o governo nazista tinha todos na “coleira” e controlava até mesmo seus lucros. Mesmo assim é óbvio que a eliminação da concorrência judaica facilitou os negócios da classe empresarial alemã, que encontrou num estado corporativista a sua chance de se manter no poder como uma classe parasitária, mantendo assim seus lucros muito acima do que em um sistema de livre mercado, um sistema de “direita”.
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