Resenha do Filme Você Não Estava Aqui

Marcus Vinicius Mendes da Silva

RESENHA SOBRE O FILME “VOCÊ NÃO ESTAVA AQUI”

Trabalho apresentado na disciplina Elementos de Sociologia do Curso de Geografia da Universidade Federal de São João Del Rei

Professora: Rosemeire Salata

São João Del Rei – 2021

VOCÊ NÃO ESTAVA AQUI – RESENHA

Lançado no dia 27 de Fevereiro de 2020, o filme “Você Não Estava Aqui”, foi uma obra dirigida por Ken Loach e escrita por Paul Laverty. O filme mostra a vida de Ricky e sua família que estão passando por um momento financeiro nada favorável. Ele decide comprar uma van, com o intuito de trabalhar com entregas, enquanto sua esposa luta para manter o seu emprego como cuidadora. Entretanto o trabalho informal não trás a recompensa almejada por Ricky, e aos poucos os conflitos da família passam vir à tona e são jogados uns contra os outros.  

Trazendo os conceitos estudados durante a disciplina, um fato notório que pudemos perceber durante todo o filme foi o setor de uberização, onde diz respeito á economia de compartilhamento definindo uma relação de trabalho atual em que se “vende” um serviço para alguma pessoa de forma independente, sem interferência de empresas, geralmente via internet. Durante todo o filme Ricky prestava serviços de entrega para uma empresa de forma autônoma com sua van, e isso nos mostra que o conceito de uberização se contradiz totalmente em sua prática. O personagem tinha horários para serem cumpridos, sejam eles para a entrega das mercadorias ou para a chegada até a empresa, precisava justificar suas faltas ao trabalho e em todas elas sempre haviam penalidades. Em outras palavras, a liberdade e o ganho rápido como prometido pela “nova economia” não passa de um engano.

Podemos estabelecer uma relação frontal entre a uberização e o fordismo. O fordismo visa na produção em massa onde cada funcionário era responsável por uma área de montagem, feita em uma esteira rolante, logo, não havia a necessidade da qualificação do individuo para atuar na produção, bastava apenas dominar o serviço e cumprir uma determinada carga horária. Isso não se diferencia da uberização, onde tal serviço pode ser executado por qualquer pessoa, desde que ela apresente um meio de locomoção, seja uma bicicleta ou até uma van, própria ou alugada, de modo que você cumpra suas entregas e conclua no tempo estabelecido, sem ser exigido nenhum tipo de experiência para o cargo. Outra semelhança entre fordismo e uberização é o fato de que, ambos os serviços podem apresentar certa precarização de trabalho onde o sujeito se submete a condições desumanas para garantir o seu sustento. Durante o filme pudemos notar algumas cenas onde Ricky se expunha a essas condições, como por exemplo, a cena onde ele urina dentro de uma garrafa, sem tempo para ir ao banheiro.

Outra parte do filme que nos chama a atenção e é enfatizada por quase todo o enredo são os problemas familiares encarados pelos personagens. Abby, esposa de Ricky, também trabalha fora durante o dia inteiro, o casal enfrentam dificuldades para lidarem com o cotidiano, em particular com a educação dos dois filhos (Sebastian e Lisa), sobre pressão dos seus empregos precários não sobrando quase tempo algum para passarem com os filhos. Este é um drama realista enfrentado por várias famílias, nas quais muitas passam pela “síndrome da sobrevivência” onde eles se conformam com sua atual situação, de modo que eles consigam alguma fonte de renda ao final da semana ou mês. No filme, é exibido de forma clara o quão Abby se desdobra para conseguir uma renda de sustento, a ênfase nas cenas das viagens de ônibus e os constantes telefonemas feitos pela mesma. E o mesmo se dá pelo seu marido onde mostra nitidamente as cenas de deslocamento pelas ruas, entregando suas encomendas sempre com seu scanner em mãos e com uma expressão de exaustão estampada em seu rosto.