A PRODUÇÃO ACADÊMICA TEXTUAL
Por: Nadine Thiele • 17/10/2022 • Resenha • 696 Palavras (3 Páginas) • 69 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL
CAMPUS – CERRO LARGO
GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL – BACHARELADO
PRODUÇÃO ACADÊMICA TEXTUAL
DOCENTE: ANA BEATRIZ FERREIRA DIAS
Estamira, uma lição de vida
Por Nadine Thiele
O documentário Estamira, lançado em 2005 e dirigido por Marcos Prado mostra de maneira real o dia a dia de Estamira, uma mulher que vive e sobrevive do que retira do lixão de Gramacho, no Rio de Janeiro. Com falas algumas vezes quase incoerentes, Estamira conta a sua história e nos explica a visão que tem do mundo.
Documentário vencedor de 23 prêmios, entre eles Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary (2005) como melhor documentário e 4º Festival Internacional de Direitos Humanos de Nuremberg (2005) como Grande Prêmio de Cinema de Direitos Humanos de Nuremberg, Estamira tornou-se conhecido pela realidade que apresenta; as questões e as grandes diferenças sociais explicitas no filme levam o expectador a repensar a visão que tem do mundo.
Abusada sexualmente desde os nove anos de idade e prostituída pelo avô, conheceu aos dezessete anos seu primeiro marido que a tirou de uma casa de prostituição, infidelidade e desentendimentos levaram à separação e Estamira foi embora. No documentário Estamira conta que encontrou felicidade no Gramacho, de onde tirava a comida para alimentar os filhos. Trabalhou durante vinte anos no aterro e se pudesse escolher, morreria lá.
A linguagem de Estamira é de uma compreensão um pouco difícil, porém ela expõe ideias com um caráter filosófico intenso sobre vários assuntos. As desigualdades sociais, a ignorância, a invisibilidade do ser humano perante outro, as injustiças, a falta de caráter e o mundo ''de cabeça para baixo'' são temas que Estamira aborda. É irônico o modo como Estamira consegue ver de dentro de um lixão o que é a sociedade atual.
Sua compreensão do mundo é relatada de tal forma que fica difícil não se colocar em sua pele, além do abuso sexual sofrido na infância foi estuprada outras vezes, duas delas na rua de sua casa, esses e outros acontecimentos levaram-na a tornar-se ateia, como relata no documentário. Estamira prega veementemente a inexistência de Deus e se exalta sempre que alguém tenta falar sobre Ele com ela. Ela acredita no que é real, palpável, no filme sua filha mais velha conta que um dia pegou a mãe olhando para um coqueiro e depois a viu apontar e dizer ''isso é real''. Ela acredita que foi nesse momento que sua mãe perdeu a fé.
Diagnosticada com loucura crônica, vemos cenas em que Estamira está murmurando palavras incoerentes ou simplesmente ficando em silêncio sem nenhuma razão aparente, apesar disso, consegue de uma maneira intrigante fazer articulações sobre tantas questões de forma coerente que revelam o quanto de lucidez existe em sua loucura.
O cenário principal do documentário é o lixão de Gramacho, nas cenas podemos ver o descaso com os trabalhadores que lá vivem e que de lá tiram seu sustento, mexendo no lixo totalmente desprotegidos, correndo o risco de pegarem todo o tipo de infecção ou doenças, o chorume escorre de todo lugar e borbulha, urubus sobrevoam o céu acima do aterro buscando restos de animais e até pessoas. Cena bastante marcante do documentário é a em que vemos um corpo no meio do lixo e o relato de Estamira sobre fetos já encontrados ali.
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