A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
Por: emersoncx • 12/7/2019 • Ensaio • 2.234 Palavras (9 Páginas) • 250 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS
DISCIPLINA: TEORIA E MÉTODO NAS CIÊNCIAS HUMANAS
PROFESSORA: Drª. SOLANGE MARIA TEIXEIRA
Tema “A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NAS CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS”
A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NAS CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS: ENTRE A “NEUTRALIDADE” E O ENGAJAMENTO POLÍTICO
Emerson de Souza Farias
TERESINA/PI
MAIO-2019
A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NAS CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS: ENTRE A “NEUTRALIDADE” E O ENGAJAMENTO POLÍTICO
Emerson de Souza Farias
Na produção do conhecimento científico, mais importante que saber os resultados alcançados, é compreender o caminho metodológico percorrido para se chegar a ele, bem como, os usos e fins a que se destinam, pois é a metodologia científica que aferi legitimidade ao conhecimento científico, aos conceitos, teóricos produzidos, mesmo considerando que “a ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade” (LAKATOS, p.65, 2006), e que não existe uma única forma de fazê-la (MINAYO, 2001), nem é saber desinteressado. Porém, as Ciências Humanas e Sociais, mesmo já tendo seu lugar, seu campo e princípios já consolidados no âmbito da produção do conhecimento, na modernidade, tem sido colocado para reflexão novas questões, como a do tipo: qual o papel das ciências humanas e sociais, sobretudo, em face ao enfrentamento das contradições típicas da sociedade capitalista?
A necessidade de reflexões sobre a realidade social trouxe, em muitos pesquisadores, a preocupação em definir um método de pesquisa cientifico capaz de encontrar as explicações para as grandes transformações que passava a sociedade moderna, dessa forma, o estudo científico dos fatos humanos somente começou a se constituir em meados do século XIX, quando ocorre a formulação dos principais métodos e conceitos de investigação nesse campo do conhecimento. Ganham relevância o pensamento positivista de Émile Durkheim (1858 - 1917), o da sociologia compreensiva de Max Weber (1864 -1920), e o materialismo histórico dialético de Karl Marx, (1818 - 1883) cujas influências, persistem na contemporaneidade, intervindo significativamente sobre a realidade da produção do conhecimento nas ciências humanas e sociais.
Assim, nesse ensaio, procura-se analisar algumas especificidades dos métodos científicos utilizados por Emile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, no sentido de compreender de que forma esses paradigmas de pesquisa tem contribuído para a análise, reflexão e compreensão do conjunto da problemática social que envolve a atual sociedade, destacando, epistemologicamente a particularidade desses métodos quanto à questão da neutralidade política ideológica da ciência ou da interferência do sujeito com o objeto.
Dessa forma, primeiramente será abordado o método utilizado por Emile Durkheim, o positivismo, sua contribuição para as ciências, em especial para as ciências sociais, assim como algumas considerações sobre sua vinculação epistemológica aos princípios do método utilizado pelas ciências da natureza. Em seguida, será analisado as contribuições de Max Weber para sistematização do método das Ciências Humanas e Sociais, com critérios específicos, bem como, as implicações de sua tese quanto à necessidade de uma suposta neutralidade no processo de investigação, para conferir cientificidade à pesquisa. Por fim, será abordado o Método Materialista Histórico Dialético de Karl Marx, sua contribuição do ponto de vista de classe e para a compreensão da complexidade do funcionamento da sociedade capitalista.
O pensador francês Émile Durkheim, em toda sua obra, teve como principal objetivo, conferir aos estudos da sociedade, um método de análise científico, seguindo e dando continuidade aos estudos do positivismo de Augusto Comte, porém, é considerado o pai do positivismo, enquanto disciplina científica, segundo LÖWY (1994, p. 4), “no conjunto de suas obras, Durkheim contém estudos sociais concretos sobre o positivismo, o que por sua vez, não é encontrado nas obras de Augusto Comte”., porém, Durkheim, não deixa de atribuir a Augusto Comte um dos principais axiomas do positivismo, a saber, a designação dos fatos sociais a condição de “coisas”, quando afirma que “A ciência social só poderia realmente progredir mais senão se houvesse estabelecido que as leis das sociedades não são diferentes das leis que regem o resto da natureza e que o método que serve para descobri-las não é outro senão o método das outras ciências. Esta seria a contribuição de Augusto Comte à ciência social" (DURKHEIM, 2002, p. 113).
Dessa forma, Durkheim vai afirmar a primeira regra do seu método, os fatos sociais são “coisas”, portanto, como a natureza, funcionam independente da ação humana, cabendo aos cientistas apenas mostrar suas regularidades, evitando as pré-noções que já tinham sobre o objeto, e que observassem os fenômenos sempre de acordo com suas características exteriores, da forma mais objetiva e neutra possível.
Para LÖWY, (1994, p.17), coube a Durkheim, desenvolver no âmbito do método positivista, três questões essenciais da epistemologia às quais segundo o autor, formam um “sistema” coerente e operacional para o método:
1. A sociedade é regida por leis naturais, isto é, leis invariáveis, independentes da vontade e da ação humana; na vida social, reina uma harmonia natural.
2. A sociedade pode, portanto, ser epistemologicamente assimilada pela natureza (o que classificaremos como “naturalismo positivista”) e ser estudada pelos mesmos métodos, démarches e processos empregados pelas ciências da natureza.
3. As ciências da sociedade, assim como as da natureza, devem limitar‐se à observação e à explicação causal dos fenômenos, de forma objetiva, neutra, livre de julgamentos de valor ou ideologias, descartando previamente todas as pré-noções e preconceitos.
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